Newsletter semanal do jornalista Thiago Prado mostra que governador deseja filiar o vice-governador Felício Ramuth (PSD) ao seu partido e lançá-lo ao Palácio Bandeirantes e recomenda o livro 'Pra onde vai a esquerda?'
Por Thiago Prado na newsletter Jogo Político
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), passou a compartilhar com aliados um novo plano para a sua sucessão caso seja candidato a presidente no ano que vem: filiar o vice-governador Felício Ramuth (PSD) ao seu partido e lançá-lo ao Palácio Bandeirantes com o próprio estando no cargo. Se for candidato ao Planalto, Tarcísio terá que renunciar até o dia 31 de março.
No primeiro semestre, a ideia inicial do governador era emplacar o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), André do Prado (PL), mas o projeto tem dificuldades de avançar. O Republicanos quer uma compensação no estado desde que o PL passou a exigir a filiação de Tarcísio para que o "22" esteja na urna na disputa contra Lula - há três anos, o número recebeu, por engano, meio milhão de votos para governador de São Paulo mesmo sem ter candidato no estado. Em jantar do Grupo Esfera, no fim de agosto, Valdemar Costa Neto garantiu que a ida de Tarcísio para o PL já está acertada.
O movimento gera a necessidade de recompensar o Republicanos, que não aceita ficar de mãos abanando em São Paulo se perder a sua principal estrela. Apostar no judeu Ramuth filiado ao partido comandado pela igreja Universal do Reino de Deus também serviria para vetar outras três candidaturas a governador que volta e meia aparecem no noticiário: a do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tido por Tarcísio como de difícil entrada no interior; a do presidente do PSD, Gilberto Kassab, avaliado pelo governador como ruim de voto; e a do secretário de Segurança, Guilherme Derrite (PP), um nome muito mais adequado para o Senado que para o Executivo, imagina Tarcísio.
Há, no entanto, uma conta que não está fechando na matemática de Tarcísio. Kassab não concorda com o projeto Ramuth 2026, ainda mais filiado a outro partido. O governador imagina que uma proposta possa convencê-lo: ser o vice de Ramuth agora, e tornar-se o candidato a governador em 2030 sentado na cadeira, mesma circunstância que o correligionário terá na eleição do ano que vem.
Ex-prefeito de São José dos Campos por um mandato e meio, Ramuth passou 28 anos filiado ao PSDB até chegar ao PSD. Desde que virou vice-governador de Tarcísio, fez a clássica conversão a agendas da direita. Passou a participar das manifestações na Avenida Paulista em protesto contra o Supremo Tribunal Federal; a fazer elogios públicos a Jair Bolsonaro, como em fala ao GLOBO em janeiro, quando enalteceu a formação de novas lideranças na direita pelo ex-presidente; e a defender a pauta da anistia, como fez ontem, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. "A acusação do ministro Alexandre de Moraes tem exageros com viés político. Nesse sentido, cabe uma resposta feita pelos verdadeiros representantes do povo, que é o Poder Legislativo", afirmou Ramuth.
Tarcísio também está atento a outros estados. No Nordeste, diz a interlocutores que a direita poderá vencer Lula no ano que vem reduzindo a diferença de votos para o petista em três estados: Bahia (72% a 28%), Ceará (65% a 25%) e Maranhão (71% a 29%). O governador de São Paulo imagina que terá o apoio de três candidatos fortes nesses estados - o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (hoje no PDT, mas prestes a mudar de partido) e o prefeito de São Luiz, Eduardo Braide.
No Rio, estado onde nasceu, Tarcísio também já tem o seu nome preferido. Nada dos nomes especulados pela direita nos últimos meses como o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Rodrigo Bacellar. O governador vê com simpatia o apoio ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD) - aliado de Lula - para suceder Cláudio Castro.
O livro que Guilherme Boulos acaba de lançar explica a sua mudança de postura na internet esse ano. A newsletter já havia notado um estilo mais agressivo e que flerta com métodos da extrema-direita nas redes no texto publicado em junho chamado 'Guilherme Boulos e a guerra cultural distorcida contra o iFood às vésperas de virar ministro do governo Lula'. No texto, mostrei o método que o deputado do PSOL utilizou para atacar a empresa de delivery.
Na página 120 do seu livro, Boulos deixa claro o que pensa sobre como vencer a batalha das redes contra a direita:
"Pautas positivas muito dificilmente engajam nas redes, porque não geram indignação. Vi isso de perto nas campanhas eleitorais. Todos diziam, em tese, que queriam propostas dos candidatos, mas quando fazíamos postagens com propostas para a cidade ou para o país era um deserto de curtidas. Quando atacávamos adversários e mostrávamos situações indignantes, o engajamento explodia. Para disputar a hegemonia digital, é uma lógica inescapável".
A recente postura de Boulos nas redes tem surtido o efeito de receber mais curtidas, mas também mais trabalho para o seu jurídico. No fim de agosto, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) anunciou que vai processar o psolista por ele ter ligado o parlamentar a um primo que foi preso por tráfico de drogas.
O Boulos, que passou as últimas duas eleições para a prefeitura de São Paulo tentando se colocar como um candidato mais moderado, realmente parece ter trilhado outro caminho, como a página 75 do seu livro:
"O primeiro atalho e também o mais perigoso é o que podemos chamar de centrismo. Os defensores dessa posição partem de um diagnóstico correto, mas oferecem uma solução errada. Reconhecem a gravidade do risco representado pela extrema-direita, com seu potencial de fechamento democrático e desagregação social. Mas, diante dessa situação, propõe que a esquerda abandone sua identidade para poder vencer a batalha. É uma tática de dar os anéis para manter o dedo, mas, neste caso, a entrega dos anéis apenas antecederia a perda do dedo".
O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/09/12/jogo-politico-tarcisio-de-freitas-ja-imagina-os-palanques-pelo-brasil-mas-sao-paulo-tem-no-a-desatar.ghtml