Giorgio Armani e ex-companheiro, Sergio Galeotti - Foto: Divulgação |
Reservado, Giorgio Armani rejeitava rótulos sobre sexualidade e teve grande amor morto em luta contra o HIV

Reservado, Giorgio Armani rejeitava rótulos sobre sexualidade e teve grande amor morto em luta contra o HIV

Embora não tenha se casado nem tido filhos, Armani manteve vínculos fortes com os sobrinhos, que devem herdar parte de sua fortuna e seguir envolvidos no grupo empresarial


Faleceu aos 91 anos Giorgio Armani, o estilista italiano que redefiniu a elegância contemporânea. Muito se fala do império que construiu e da revolução que promoveu na alfaiataria, mas sua vida pessoal, marcada por discrição, amores intensos e escolhas inesperadas, ajuda a explicar o homem por trás da marca.

Das origens humildes à escolha pela medicina

Nascido em 11 de julho de 1934 em Piacenza, no norte da Itália, Armani era o segundo de três filhos de uma família de classe média. Cresceu em um país devastado pela guerra, experiência que moldou seu olhar sóbrio e avesso a excessos. Jovem, sonhou em ser médico: estudou por dois anos na Universidade de Milão e chegou a servir em um hospital em Verona durante o serviço militar. Foi nesse período, porém, que percebeu não ter vocação para lidar com sangue e sofrimento.

O acaso que o levou à moda

A saída da medicina abriu caminho para outro destino. Armani começou a trabalhar na loja de departamentos La Rinascente, em Milão, como vitrinista e comprador de moda masculina. Ali aprendeu a observar a relação entre roupa, consumo e comportamento. Mais tarde, tornou-se assistente do estilista Nino Cerruti. Essa trajetória inicial, fora dos holofotes, foi essencial para a construção de sua visão estética, que uniria simplicidade e sofisticação.

Giorgio Armani nasceu em 1934, em Placência, na Itália. - Foto: Reprodução/instagram @giorgioarmaniGiorgio Armani nasceu em 1934, em Placência, na Itália. - Foto: Reprodução/instagram @giorgioarmani

Um amor que marcou para sempre

Reservado em relação à vida íntima, Armani viveu um relacionamento duradouro e intenso com Sergio Galeotti, arquiteto e cofundador da Armani, nos anos 1970. Foi com Galeotti que o estilista consolidou sua marca em 1975. A morte do parceiro, em 1985, vítima de complicações em decorrência da infecção pelo HIV, foi um divisor de águas em sua trajetória pessoal e profissional. Armani assumiu sozinho o comando do império e mergulhou no trabalho como forma de atravessar o luto.

Sexualidade e discrição

Armani raramente falava sobre relacionamentos. Em entrevistas pontuais, como à Vanity Fair, afirmou já ter se relacionado tanto com homens quanto com mulheres, rejeitando rótulos sobre sua sexualidade. A discrição era uma escolha consciente: acreditava que sua vida pessoal não deveria se sobrepor à obra. Nunca voltou a assumir publicamente outro grande relacionamento após Galeotti, mas cercou-se de amigos, familiares e colaboradores próximos que formavam seu círculo de confiança.

Família e legado íntimo

Embora não tenha se casado nem tido filhos, Armani manteve vínculos fortes com os sobrinhos, que devem herdar parte de sua fortuna e seguir envolvidos no grupo empresarial. Fora do trabalho, cultivava prazeres simples: longas temporadas em seu iate, passeios de barco, momentos de descanso à beira-mar. Para ele, a verdadeira sofisticação estava em viver com discrição, equilíbrio e tempo para contemplar o essencial.

Mais que moda

Se na passarela Armani foi sinônimo de minimalismo e poder, em sua vida pessoal representou um homem que transformou fragilidades em força, perdas em reinvenção e privacidade em estilo de vida. Sua história é também a de alguém que, antes de se tornar ícone, foi estudante de medicina, vitrinista, parceiro amoroso, irmão e tio. Ao partir, deixa não apenas um império da moda, mas também a lembrança de uma vida vivida com intensidade, reserva e coerência com sua própria visão de elegância.

O Globo
https://oglobo.globo.com/ela/gente/noticia/2025/09/04/reservado-giorgio-armani-rejeitava-rotulos-sobre-sexualidade-e-teve-grande-amor-morto-por-aids-em-1985.ghtml