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Lula vai ser eleito por Bolsonaro e pela Faria Lima

Lula vai ser eleito por Bolsonaro e pela Faria Lima


José Luiz Portella
Colunista do UOL

A política é a disputa do ser humano pelo Poder. O campo dos conflitos, ideias, personalismos, vícios e virtudes da espécie. E também das bizarrices.



Entre elas, um adversário pode, com a sua conduta contrária, eleger o inimigo. É o voto por exclusão. Voto no A, para B não se eleger.

Lula está contando com vento a favor em suas velas na regata para o Planalto. Velas pandas.

Bolsonaro, sendo o que é, a cada dia adiciona uma pequena porção de votos a Lula ou consolida votos que pareciam indecisos. Como não há outro receptáculo, quase tudo flui para Lula. Ele não precisa nem se mexer. Basta respirar.

Outro eleitor, é a Faria Lima, a maioria, não todos, porque há "Faria Limers lulistas", como o insigne André Esteves, o homem que chama o presidente da Câmara só por Arthur, como a mãe de Lira. Intimidade não é para qualquer um.

Mas, a maioria faz um discurso catastrófico de Lula, lembrando Dilma, Mantega, Arno Augustin. Traça um quadro apocalíptico. Simultaneamente, defende posições tecnocratas e de pouca sensibilidade social, com o espantalho do ajuste fiscal. As pessoas mais carentes, ao ouvirem aquilo, se aproximam mais de Lula, como alguém que irá resguardá-las, sobretudo no Nordeste.

A Faria Lima nunca fez um passeio à pobreza do Nordeste, a uma cidade como Adustina na Bahia, uma das mais pobres do país, e conversou com as pessoas. Falar que o Estado, a única coisa com a qual elas podem contar, vai se afastar, vai encolher, vai cortar gastos, é voto certo no Lula. Seria bom uma excursão patrocinada pela XP a Adustina, falar com professoras que ensinam em escolas com condições precárias, como em 1995..

A Faria Lima fala para si mesma. Contudo, esquece que o Brasil são mais Adustinas e poucas Farias Limas.

Ou seja, se é que não querem Lula, eles trabalham intensamente para ele, com a respectiva insensibilidade diante da pobreza que nos assola, e, agora, mais. Se é que não querem, porque todos sabemos que Esteves é só um cabeça de ponte, bem relacionado em Lula 1 e Lula 2, os outros, aos poucos vêm atrás; com aquele "saber dizer ", que vai alterando cenário conforme a mudança de Poder.

Todavia a Faria Lima não é una, indivisível, como falamos, há os que repelem Lula, de verdade, não gostam dele, o temem, mas trabalham para ele diuturnamente, sem enxergar que fazem gol contra, toda vez que explicitam uma rudeza fiscal desnecessária e atroz.

Na pesquisa da Genial, recente, que entrevistou pessoalmente e não por telefone, nem por robôs, o que distorce, em parte a pesquisa, Lula pode se eleger no primeiro turno, exatamente pela contribuição gigantesca de Bolsonaro e da frivolidade do mercado financeiro e do empresariado de porte.

Se olharmos o número de indecisos, quando a menção ao candidato a presidente é espontânea, temos 52%. Mais do que suficiente para tirar Bolsonaro do segundo turno, precisa só 25%, e ganhar dos 27% de votos consolidados de Lula, que podem chegar a 30%.

Ao lado da incompetência dos candidatos diante do choque de oferta, derrama-se inconsciente o voto dos "inimigos-amigos", Bolsonaro e Faria Lima, com as respectivas idiossincrasias. Bolsonaro não tem cura, é o desastre natural que colhemos todos os dias. Já a Faria Lima, com sua inteligência acumulada, e seus pesquisadores permanentes da realidade do país, deveria perceber que o Brasil, agora, precisa de emprego, renda, acolhimento, esperança.

E que isso não vai se construir com a proposta de corte de gastos, de compressão de investimento via Teto de Gastos. Aliás, incorretas.

O Teto de Gastos é uma medida esdrúxula e exótica. Pretendia durar vinte anos, com revisão em dez, num país em que o presidente veta o Refis na sexta e na terça seguinte propõe que o Congresso derrube o veto. É uma pilhéria, no país do passado incerto, além de ter como indicador de expansão o IPCA para qualquer despesa.

Uma jabuticabeira que não durou o tempo de dar frutos. O drible no Teto foi considerado como ponto de surpresa, será que a Faria Lima não percebia, quando recebia Arthur e colegas, que tal iria acontecer? Santa inocência.

Inocência assim, em pessoas que fazem tanto dinheiro, soa estranho. É a vontade de acreditar. Que supera a percepção. O ser humano enxerga o que deseja ver, e não o que vê. Cegos que enxergam, diria Saramago.

Se a Faria Lima se assusta com Lula, e seus elogios à Nicarágua, de Gleisi à Venezuela, e teme pela contrarreforma trabalhista, saiba que está colaborando muito com tudo isso.

O terrorismo fiscal é um grande cabo eleitoral. De Lula.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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