Fernando Haddad (Foto: Diogo Zacarias/MF) |
Haddad em seu labirinto, por Ruy Nogueira

Haddad em seu labirinto, por Ruy Nogueira

''Fernando Haddad é um sujeito honesto. É, ao revés, um sujeito extremamente vaidoso'', escreve Ruy Nogueira

Fernando Haddad é um sujeito honesto. Não se conhece nada que suje sua biografia, algo louvável num país onde isso é raro. É, ao revés, um sujeito extremamente vaidoso, equivocado, de teimosia digna de um jegue no sertão fervente do Cariri. Nunca erra, é um iluminado pela sapiência divina.

Foi muito bom ministro da educação e está sendo bom ministro da fazenda (é claro que com Lula na presidência, as coisas ficam mais fáceis, por conta do talento, competência e carisma do Estadista). Como prefeito foi um total desastre na comunicação com a sociedade e colecionou, errático e vaidoso, muitas decisões impopulares.

Eleito com 55,57% dos votos, massacrando Serra (44,43%), Haddad governou de forma muito autoritária, distante de Lula e de costas para o PT, comprando brigas inglórias com os taxistas, por exemplo, tornando a cidade um big-brother tenebroso, coalhando ruas e esquinas com o odiados "pardais" eletrônicos, instituindo a abjeta indústria das multas e impondo velocidades máximas ridículas nas marginais e principais vias (na capital do progresso, da pressa, das pessoas em constante movimento). Recordo-me de minhas voltas da casa na Serra da Mantiqueira, aos domingos à noite. Vinha nos regulamentares 120 km/hora, até a divisa de Guarulhos com São Paulo, onde inacreditáveis 40 km/hora provocavam a imediata reação de minha então mulher, a bela e talentosa Valquiria: "Pelo amor de Deus, não precisa mais xingar! Eu já sei que Haddad é um desastre!" E eu, petista filiado, constatava o fracasso do prefeito que ajudei a eleger.

As populações de São Miguel Paulista, Marsilac, Pirituba, Jaçanã e outros rincões paulistanos, acostumadas a receberem Marta Suplicy aos beijos e abraços (retribuídos sinceramente pela notável prefeita) nunca viram Fernando Haddad por aquelas bandas - a não ser quando buscava votos. Em sua gestão enfrentamos a crise dos "20 centavos" - onde uma garotada cretina, com a Rede Globo em excitação golpista transmitindo ao vivo multidões tomando as ruas, prenunciava o golpe. Foi obra de Haddad e sua indisfarçável insensibilidade. E o governador Geraldo Alckmin, então adversário visceral, resolveu suavemente a parada anunciando a revogação do absurdo. A seu lado, a imagem do prefeito inconformadíssimo, casmurro, macambúzio, com cara de menino rico contrariado pela governanta.

Na reeleição Haddad obteve míseros 16,70% dos votos, perdendo em TODAS as zonas eleitorais para um João Dória, que jejuno nas urnas aplicou-lhe humilhante sova obtendo 53,29% dos votos já no 1º turno, fato inédito na história paulistana. Detalhe lodoso: Haddad tinha como vice a deplorável e folclórica figura de Gabriel Benedito Chalita, autoritária escolha sua.

Substituindo Lula, encarcerado pela máfia togada da República de Curitiba, Fernando Haddad enfrentou corajosamente Bolsonaro, cumprindo uma missão partidária com imenso sentido de dever. Perdeu a 1ª semana do 2º turno, imóvel, reclamando da vida e do adversário. O que esperava? Flores e bombons? A inegável honradez é inferior à sesquipedal perseverança nos erros.

Um ministro da Fazenda deve saber que o Pix é sagrado, "imexível", faz parte do cotidiano dos brasileiros. A tragédia política e comunicacional do Pix é obra dele, só dele. Nikolas é um fascista fazendo o que um fascista faz sempre. O problema não é ele. É o ministro que conduz a economia com índices invejáveis, em ciclo inegavelmente virtuoso, e não consegue transmitir o extraordinário feito aos brasileiros. Repete na Fazenda a mesma política de comunicação da prefeitura, entregue à dinossauros que teclam máquinas Remington e Olivetti.

Alguma cabeça deveria rolar. A do secretário da Receita ou a de seu chefe imediato, o ministro que não consegue antever a imensa carga fecal jogada no colo do governo do qual faz parte. Um ministro relevante, que enviou cantadas bisonhas para a inútil ministra-cipreste (cresceu à beira do túmulo da irmã-mártir) foi defenestrado. E o que causa um prejuízo monumental ao governo, aterrorizando o país, fortalecendo a horda de fascistas, ficará airoso e impune? Absurdo.

Quando saio de casa deparo-me com a inútil ciclovia da Praça Vilaboim, no coração de Higienópolis. Ela custou o fim de um estacionamento público, cujas vagas recebiam a média de cerca de 600 automóveis diariamente, com pessoas que frequentavam bares e restaurantes até altas horas. Alguns desses estabelecimentos fecharam as portas e geraram dezenas, quiçá, centenas de desempregados. Haddad foi pior que a pandemia do Covid. A tal ciclovia está em colina íngreme, onde apenas um esforçado ciclista a desafia suarento e com a língua para fora umas duas vezes ao mês. É o retrato 3x4 do desastrado que sabe de tudo.

Brasil 247
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