Parlamentar diz já estar claro 'quem funcionou' nos ministérios, sugere que permanência de responsável pela articulação seja reavaliada e defende, após o caso Pix, que as decisões passem por 'filtro político'
Por Jeniffer Gularte - Brasília
Amigo do presidente Lula há 40 anos, o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP) afirma que há ministérios com desempenho abaixo do esperado e vê possibilidade de as mudanças atingirem até as pastas sediadas no Palácio do Planalto. Ele sugere que a permanência do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, seja repensada e diz que o ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva é o nome ideal para pensar o "pós-Lula" na presidência do PT. Para Emídio, o governo errou na "origem" no episódio do Pix por não ter analisado a medida com um "filtro político".
Lula trocou o comando da comunicação. Isso resolve o problema do governo?
A troca é importante, porque há muitos problemas nessa área. O governo não conseguiu mostrar para a sociedade o que está sendo feito. É importante o Sidônio (Palmeira) interferir nas políticas públicas antes que elas sejam apresentadas. A debilidade na comunicação, somada à campanha da direita com fake news, produz muita desinformação e gera confusão. Mas os problemas não são só de comunicação. Tem ministérios que precisam melhorar. Já está claro quem funcionou e quem não funcionou.
Quem não funcionou?
Vou deixar isso para a avaliação do presidente, que saberá fazer as trocas. Por isso a reforma ministerial está na ordem do dia. A mudança é vital, porque a segunda metade do governo é decisiva. Está fazendo falta um núcleo dirigente: quatro, cinco ou seis ministros que estão mais próximos do presidente o tempo todo para discutir todos os temas.
O governo perdeu mais uma vez a disputa nas redes sociais para a oposição no episódio do Pix. Quais foram os erros?
O governo precisa aprimorar a tomada de decisão e os métodos de anúncios de medidas. Elas precisam passar por um filtro político. O governo foi derrotado pelas fake news. Houve erro na origem.
Houve queixas no PT e de ministros em relação à revogação da norma. O governo se precipitou ao recuar?
Não tinha mais solução. A opinião pública já estava contaminada, então não havia mais condição de derrotar a mentira.
O Planalto é todo petista. Deve haver mudanças?
Na articulação política. Casa Civil, Secretaria-Geral e Secom (Comunicação Social) são áreas de confiança pessoal do presidente. Não vejo abertura para composição. O Padilha está fazendo um excelente trabalho, mas ele pode ocupar outras funções. O presidente tem que avaliar se a presença do Padilha na relação com o Congresso continua ou se colocar um outro quadro pode melhorar. Pode ser que a troca de comando no Senado e na Câmara melhore essa relação, mas a realidade hoje é muito dura. Se tem algum lugar no Palácio em que poderia se pensar (em mudança), é a articulação política.
O Centrão na articulação política ajudaria?
Não sei se é o caso de trazer o Centrão. A composição do Ministério foi feita com o objetivo de garantir sustentabilidade no Parlamento. Esses partidos tinham espaço e iam entregar votos. Alguns entregaram mais, outros menos. O governo deveria pensar em repactuar a relação com a base, pensando na sustentação no Congresso e em 2026. Com quem vamos poder contar?
Tem partidos que, mesmo no governo, não devem dar apoio integralmente em 2026.
Não acho que todos os partidos têm condição de dizer agora: "Estaremos juntos com vocês". Se o Tarcísio (de Freitas) for candidato, provavelmente o PSD e o Republicanos estarão no palanque. Se não for, a direita vai inventar outra candidatura, e muitos desses partidos poderão ir. Mas é necessário botar essa discussão à mesa.
Uma carta escrita pelo senhor no fim do ano passado afirma que o PT "não pode fazer de conta que não é governo". O PT atrapalha?
Não, mas algumas pessoas do partido, às vezes, têm posições que parecem que não são governo. O PT precisa ser mais formulador, mas entendendo as condições em que o governo se desenvolve: sem maioria no Congresso. As ideias de direita estão em ascensão no mundo. Não dá para esperar que a agenda seja fácil.
O próximo líder do PT na Câmara será Lindbergh Farias (RJ), que já fez uma série de críticas à condução da política econômica de Fernando Haddad. A troca é prejudicial?
Não há espaço no PT ou na bancada para qualquer amadorismo. O Lindbergh tem muitas posições polêmicas, mas acredito que, na função de líder, vai interpretar o que é o sentimento do PT. Terá que seguir as decisões do partido e dialogar muito com o governo. A liderança não é um lugar para posições pessoais.
Lula tem preferência pelo Edinho Silva para suceder Gleisi Hoffmann na presidência do PT, mas há divisões. Há chance de um movimento contrário prosperar?
Não vamos ter 100% de adesão, mas o campo majoritário está com o Edinho. Não acredito em racha. O Lula não falou oficialmente: "Meu candidato é o Edinho". Na hora em que ele fizer isso, essa disputa diminui muito. O papel da Gleisi foi fundamental, mas, quando você chega ao governo, as coisas mudam. Precisamos de um perfil como o do Edinho, que é mais conciliador e dialoga.
Haverá uma guinada?
O PT precisa se preparar para o pós-Lula e se preocupar com a renovação de quadros.
Mas quem vai representar o pós-Lula?
O grande herdeiro do Lula é o PT. Não é uma pessoa. O Haddad representou em 2018. E tem bons quadros, como os ministros Camilo (Santana, da Educação) e Rui (Costa, da Casa Civil).
O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/01/18/entrevista-padilha-pode-ocupar-outras-funcoes-no-governo-diz-emidio-de-souza-deputado-estadual-e-amigo-de-lula.ghtml