Tarcísio de Freitas, Flávio Bolsonaro e o pai, Jair | Foto: Agência Brasil |
Moraes aprisionou Tarcísio, por Tales Faria

Moraes aprisionou Tarcísio, por Tales Faria

Ao determinar a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também aprisionou - pelo menos temporariamente - os planos de início da campanha ao Palácio do Planalto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Junto com a ordem de prisão preventiva, Moraes desmarcou audiências durante a prisão domiciliar, que havia permitido, de Bolsonaro com onze amigos e políticos. Dois deles, chefes de Executivos estaduais e possíveis candidatos a presidente da República: Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado (União-GO).

Para Caiado, o encontro, marcado para o dia 9 de dezembro, era simplesmente mais um ato de sua pré-campanha que ele não subordina ao apoio formal do ex-presidente. Caiado coloca-se como um candidato da direita, mas não um bolsonarista.

Já com Tarcísio de Freitas é diferente. Ele se coloca como um bolsonarista, embora com perfil mais moderado. O encontro marcado para o dia 10 de dezembro era decisivo: uma oportunidade de estabelecer com Bolsonaro e o clã, pelo menos, um acordo de procedimentos até o lançamento formal da campanha.

Tarcísio considera que tem nas mãos uma reeleição quase certa para o Palácio dos Bandeirantes. Uma decisão de concorrer ao Planalto seria mais complexa. Ele precisaria, se não do apoio explícito de Bolsonaro, pelo menos do compromisso de que os filhos do ex-presidente não o atacarão. O ideal é que nem houvesse uma candidatura com o sobrenome Bolsonaro.

E é aí que mora o perigo. Nem os filhos dão sinal de que concordam em ter o sobrenome Bolsonaro fora das urnas, nem o próprio Bolsonaro tem dado sinais de que apoiará alguém de fora da família.

Pior. Os sinais que os filhos dão, ou são de ataques, ou, quando mais brandos, de que Tarcísio não será o candidato do clã. Nesta sexta-feira, 21, véspera da prisão do pai, Eduardo, em entrevista ao site "Jota", declarou:

"Tem muita gente que não é de São Paulo e não conhece o Tarcísio. Ele tem seus méritos e tem seus defeitos. Mas eu acho que não seria natural a candidatura dele, porque ele é uma pessoa muito forte em São Paulo e tem uma reeleição para governador garantida. [...] Tarcísio depende do apoio de Jair Bolsonaro, porque ainda não se fez uma liderança nacional".

Eduardo defendeu, no máximo, que Tarcísio figure como vice na chapa de seu irmão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), para presidente. Perguntado se consdera o governador como bolsonarista, foi claro:

"Se for uma pessoa próxima de Jair Bolsonaro, sim ele é bolsonarista. Se for pela sua conduta política, deixaria uma dúvida no ar. Mas de qualquer maneira, é uma pessoa que tem suas qualidades e seus defeitos."

Nem dá para dizer que o clã apenas tem ressalvas a Tarcísio. Na verdade, o governador é visto como uma espécie de Cavalo de Troia "do sistema" dentro do bolsonarismo. Eis o que disse Carlos Bolsonaro num post que publicou no mesmo sábado, 22, da prisão do pai:

"O recado, na percepção [de] quem tem capacidade de enxergar as engrenagens, é o mesmo, só que agora mais enfático: transfira seu capital, abra mão da sua força ou morrerá sozinho, jogado numa cela. [...] O objetivo agora é fabricar uma 'direita permitida', [...] sem representar uma ameaça real aos esquemas espúrios que controlam nosso país."

Pois é. Ao não deixar Tarcísio acertar seus ponteiros com Bolsonaro, Alexandre de Moraes aprisionou o governador e deixou os filhos do ex-presidente como seus carcereiros.

Correio da Manhã
https://www.correiodamanha.com.br/colunistas/tales-faria/2025/11/235095-moraes-aprisionou-tarcisio.html