Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump  10/10/2025 REUTERS/Kent Nishimura |
Volta atrás de Trump lembra como inflação e popularidade andam juntas

Volta atrás de Trump lembra como inflação e popularidade andam juntas

Café e carne, produtos com grande importação do Brasil, lideraram inflação nos últimos meses nos EUA, enquanto rejeição a Trump sobe mês após mês


O preço nos supermercados e a reação dos eleitores norte-americanos podem explicar a decisão de Donald Trump de retirar boa parte das tarifas ao Brasil. Na economia e política, dados recentes revelam clara correlação entre inflação e reprovação à Casa Branca.

Desde o início das tarifas, o consumidor dos EUA tem sentido especialmente o aumento de itens que não nascem e crescem em solo americano. Nessa história, o Brasil é uma parte importante para entender o que está acontecendo na maior economia do mundo.

Em 12 meses, o café instantâneo subiu 21,7% até setembro - o último dado disponível da pesquisa mensal de inflação. Entre os mais de 300 itens da pesquisa oficial de inflação nos EUA, esse foi o que mais subiu. O café torrado e moído foi na mesma toada, e subiu 18,9%.



Para efeito de comparação, a inflação média, o chamado índice cheio, teve alta de 3% no mesmo período de 12 meses.

Na lista dos preços que mais subiram, em seguida aparece a carne bovina. O corte para assados teve aumento de 18,4%, cortes para bife saltaram 14,7% e a carne moída - usada para hamburgueres - subiu 12,9%.

Todos esses produtos são largamente importados pelos Estados Unidos. No café, o Brasil é o maior fornecedor. Na carne bovina, somos o segundo.

Desde o início da guerra comercial anunciada pelo governo Trump, produtos brasileiros passaram a sofrer alíquota base de 10%. Além disse, desde 9 de julho, uma segunda alíquota de 40% foi imposta aos itens "Made in Brazil". Ou seja, o café e a carne brasileira estavam chegando 50% mais caros aos EUA.

Ao contrário do dito repetidas vezes por Trump, esse imposto não é pago pelos países exportadores: são os consumidores americanos que pagam a conta.

E parece que poucos gostaram disso: ao mesmo tempo em que preços subiam, a popularidade de Trump passou a cair.



O atual presidente dos EUA tomou posse em janeiro, quando 46% aprovavam Trump e 45% não o apoiavam. Os números se referem à média das pesquisas de opinião pública compiladas pela ferramenta CNN Poll Tracking.

Desde então, a reprovação ao governo Trump subiu em oito dos dez meses de governo do republicano. Com esse movimento, as pesquisas de popularidade atingiram o pior patamar para o presidente americano.

Em novembro, as pesquisas já publicadas indicam média de reprovação de 58,3% contra aprovação de 39,5%. A reprovação a Trump nunca foi tão grande nesse segundo mandato, enquanto a aprovação nunca foi tão baixa.

Os números frios das pesquisas de opinião se concretizaram nas urnas. Nos últimos dias, candidatos apoiados por Trump perderam em três disputas: Virgínia, Nova Jersey e Nova York.

O noticiário mostra, mais uma vez, que James Carville sempre esteve correto. Estrategista da campanha vitoriosa de Bill Clinton em 1992, o consultor ficou famoso pela frase "é a economia, estúpido".

CNN Brasil
https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/fernando-nakagawa/economia/macroeconomia/volta-atras-de-trump-lembra-como-inflacao-e-popularidade-andam-juntas/