Ricardo Nunes toma posse após ser reeleito na prefeitura de São Paulo - Foto: Edilson Dantas/O Globo |
Ricardo Nunes toma posse pregando a pacificação

Ricardo Nunes toma posse pregando a pacificação

Em seu primeiro discurso, prefeito disse que fará um 'governo de continuidade com melhorias'.


Por Hyndara Freitas e Samuel Lima - São Paulo

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tomou posse como prefeito de São Paulo pelos próximos quatro anos nesta quarta-feira. Também foi empossado o vice, Ricardo de Mello Araújo (PL). Em seu primeiro discurso após a posse, que foi realizada na Câmara Municipal, Nunes pregou "pacificação" do país, elencou suas entregas especialmente na periferia, agradeceu o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse que não tem "outra ambição a não ser cuidar das pessoas da cidade de São Paulo".

Ele disse que fará um "governo de continuidade", mas com "avanços e melhorias", e ainda citou que levará consigo "lições" de Bruno Covas, de quem herdou o mandato em maio de 2021.

- O Brasil precisa ser pacificado consigo mesmo. Onde reina o trabalho, não reina a discórdia, onde reina a colaboração, não reina a divisão e onde reina o propósito, não reina o confronto. São Paulo e o Brasil precisam de resultados, porque o povo quer avanços e não solavancos. - A humildade deve guiar nossos passos, nenhuma divergência pode ser maior do que a convergência em favor do povo da nossa cidade. A ideologia nunca pode ser maior que o dia a dia. Da minha parte, buscarei sempre dialogar e abrir canais de comunicação com todos.

Assim que o discurso terminou, Nunes e Mello Araújo falaram brevemente pelo telefone com Bolsonaro. O ex-presidente ligou para o coronel, por chamada de vídeo, para parabenizá-los pela posse. A ligação foi rápida porque o prefeito explicou que precisava sair da Câmara em direção ao Theatro Municipal, onde é realizada uma solenidade para marcar o início da nova gestão.

Nunes ainda citou os "piores momentos" da cidade durante a pandemia da Covid-19 e falou sobre "a força dos paulistanos". Sua fala foi um balanço de sua gestão, destacando suas visitas aos bairros da periferia, os R$ 36 bilhões de investimentos nos últimos quatro anos, a construção de unidades de saúde e a contratação de agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e prometeu mais 2 mil guardas nesta gestão.

Outras promessas foram melhorias nos índices da educação municipal e entrega de novas unidades habitacionais, além de citar obras de canalização de córregos e contenção de enchentes, como exemplos de obras que "não são de cartão-postal, mas são feitas para cuidar das pessoas". No primeiro mandato, Nunes patinou para entregar obras estruturantes para a cidade especialmente na área da mobilidade, como novos corredores e terminais de ônibus, os BRTs prometidos para a Zona Leste, e a duplicação da estrada do M'Boi Mirim, na Zona Sul. Também não foi entregue nenhum Centro Educacional Unificado (CEU).


- A melhoria contínua da educação é uma meta pessoal, o aluno será prioridade. O foco da nossa gestão é o aluno, que é o foco da população e que deve ter toda atenção - destacou. - O meu compromisso não é com obras faraônicas, Faremos as obras necessárias, mas meu objetivo é cuidar das pessoas.

Em sua fala após ser empossado, Mello Araújo agradeceu a Deus, aos seus familiares e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que o convenceu a entrar para a política e o nomeou presidente do Ceagesp em 2019. Ele ainda citou uma frase do papa João Paulo II, pregou União para melhorar a cidade e pediu um trabalho conjunto com os vereadores, e disse que saiu de uma "zona de conforto" de seu emprego para "fazer a administração pública funcionar". Ele fez menção ao desejo de ter "uma cidade com zero crimes" em que "a população tenha tranquilidade para andar nas ruas com o celular nas mãos".

- Hoje estamos todos em uma missão de mostrar respeito ao dinheiro público, de transformar a vida das pessoas em algo melhor, de dar segurança, saúde, educação, mobilidade, tudo o que o povo precisa. Temos dinheiro, As contas da cidade em dia, fruto do excelente trabalho do prefeito e sua equipe. A receita não é difícil: deixar as vaidades de lado, e ser um time - falou. - Vamos sair daqui a quatro anos por uma porta que terá altura suficiente para sairmos de cabeça erguida, por termos entregado uma cidade melhor.

O momento mais tenso da posse dos vereadores foi quando a recém-eleita Zoe Martinez fez um discurso defendendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o que gerou vaias da oposição. A vereadora Silva da Bancada Feminista (PSOL) gritou "sem anistia para golpistas" enquanto segurava um cartaz com a mesma frase, e houve gritaria entre vereadores bolsonaristas de um lado, e petistas e psolistas do outro, que só foi interrompida quando o vereador Eliseu Gabriel pediu silêncio.

Desafios da gestão


Nunes chega ao novo mandato com desafios que vão da cracolândia aos apagões, passam pelos índices da educação e obras de mobilidade.

Houve mudanças no secretariado, mas o chefe do Executivo municipal deixou claro que apostará num governo de continuidade ao manter em postos-chave Edson Aparecido, na Secretaria de Governo, Luiz Zamarco, na Saúde, e Fernando Padula, na Educação. Apesar de ter sido eleito com uma coligação de 11 partidos, o "leilão de cargos" foi limitado a pastas com orçamentos menores. Sua própria sigla, o MDB, foi quem ficou com mais secretarias.

Entre seus desafios, destacam-se o cumprimento de promessas de seu primeiro mandato, como a construção de corredores e terminais de ônibus e a melhoria dos índices educacionais, e dar uma resposta a questões antigas da cidade, como a Cracolândia e o Elevado Presidente João Goulart, conhecido como Minhocão - Nunes ainda não sinalizou se pretende demolir o local ou transformá-lo em parque.

Na gestão anterior, Nunes apostou em centenas de obras emergenciais, sobretudo nas áreas periféricas, relacionadas à contenção de encostas, escoamento da água da chuva e canalização de córregos, e se orgulha de dizer que reduziu as mortes em alagamentos e deslizamentos na cidade. Em algumas regiões, houve de fato melhora, mas as enchentes ainda são uma realidade na cidade, especialmente durante o verão, quando chuvas de meia hora deixam vias importantes da cidade intransitáveis.

Ainda em relação ao clima, um problema que ganhou destaque nos últimos dois anos e que será cobrado pela população são os apagões. Cada vez mais frequentes, as quedas de energia viraram motivo de queda de braço entre prefeitura, Enel e governo federal, e aqueceram o debate sobre enterramento de fios e podas de árvores - atribuições da prefeitura.

Outros desafios para o prefeito nessa área passam pelo preparo da cidade para ondas de calor e frio extremo e na redução de gases poluentes, que passa pela eletrificação da frota de ônibus que até foi prometida por Nunes, mas não foi concluída. O incentivo ao uso do transporte público e de bicicletas também seguem como demandas da cidade, e o prefeito precisará cumprir as metas de construção de terminais e corredores de ônibus e novas ciclovias prometidas. Também nesta área, a duplicação da estrada do M'Boi Mirim, na Zona Sul, é um desafio.

O crescente aumento do subsídio para as concessionárias de ônibus também será uma questão a ser enfrentada ao mesmo tempo em que o prefeito mantém a tarifa zero aos domingos e promete ampliar o benefício para mães que tenham filhos matriculados em creches municipais. Na semana passada, o prefeito anunciou o aumento da tarifa de ônibus para R$ 5. Ainda nessa seara, Nunes deve enfrentar um longo processo para rescindir o contrato com as empresas Transwolff e UpBus, suspeitas de lavarem dinheiro para o crime organizado. O aumento de mortes no trânsito também precisará ser alvo de medidas da prefeitura.

Em relação à segurança pública, apesar da competência principal ser da gestão estadual, Nunes sabe que precisará investir nessa área para aumentar a sensação de segurança dos paulistanos. O prefeito terá os próximos anos para mostrar resultados do Smart Sampa, programa de monitoramento por câmeras com reconhecimento facial que foi o seu principal investimento nesse setor, e ampliar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM), além de adotar medidas como a melhoria da iluminação urbana.

A Cracolândia, problema de três décadas, está longe de ser resolvida e, durante a gestão de Bruno Covas e Nunes, a concentração de dependentes químicos se espalhou pelo Centro e o fluxo mudou de localização diversas vezes - atualmente, está próximo à estação da Luz - com polêmicas envolvendo a instalação de grades para segregar os usuários da rua. O problema exige a integração entre governo estadual e municipal e passa por políticas de saúde, segurança pública, assistência social, trabalho e habitação.

Outra questão sensível é o número de pessoas em situação de rua. Durante a pandemia da Covid-19, ele cresceu vertiginosamente e a situação nunca se reverteu. Um censo da prefeitura realizado em 2021 apontou 32 mil pessoas nessa condição. Mas o Observatório brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontam 89.951 pessoas em situação de rua em dezembro de 2023 na cidade de São Paulo, número 38% maior do que o mesmo mês do ano anterior. A instituição se baseia nos dados do CadÚnico disponibilizados pelo Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/01/01/ricardo-nunes-toma-posse-para-mais-um-mandato-na-prefeitura-de-sao-paulo.ghtml