Patricia Villar atua na área de moda organizando eventos: quase todas as atividades são resolvidas pelo smartphone - Foto: Divulgação |
Teles se preparam para ir além da conectividade. Veja os novos serviços que elas oferecem

Teles se preparam para ir além da conectividade. Veja os novos serviços que elas oferecem

Operadoras vão além do tradicional pacote de ligações e dados de conexão. Novas ofertas já somam 30% da receita do setor


Por Bruno Rosa

Empréstimos bancários, seguro de vida, cursos de educação, energia elétrica e até internet. É assim que as principais empresas de telecomunicações vêm diversificando cada vez mais seus serviços no país, bem além do tradicional pacote de ligações e dados de conexão. De olho no aumento das receitas, Vivo, Claro, TIM, Sky e Algar estão se transformando em hubs com uma cesta variada de produtos para os milhões de usuários que atendem.

A estratégia envolve ainda a busca de licenças em órgãos reguladores e parcerias com empresas especializadas nos setores elétrico, financeiro e educacional.

Segundo especialistas, a estratégia das teles é a busca pela sobrevivência a médio e longo prazos. Os chamados SVAs (sigla para Serviços de Valor Agregado) vêm crescendo e hoje já respondem por 30% das receitas totais, de acordo com dados da consultoria Teleco.

Em alguns casos, o avanço no número de clientes nestes segmentos supera os 200% somente no último ano. É o caso do serviço de saúde da Vivo, que atingiu 370 mil assinaturas, alta de 217% em relação ao ano passado. Na TIM, a parceria para a área educacional aumentou 75%, de 400 mil para 700 mil usuários neste ano.

Eduardo Tude, presidente da Teleco, diz que a iniciativa visa compensar a queda nas receitas em telecomunicações, em um movimento que começou com a retração na telefonia fixa e, mais recentemente, com a internet se tornando uma espécie de commodity em meio à maior oferta de empresas regionais.

- Então, as maiores empresas passaram a reforçar seus pacotes com mais serviços para vender mais e reter mais clientes, de forma a buscar maior fidelidade - afirma Tude.

Segundo Rodrigo Gruner, diretor-executivo de Inovação, Novos Negócios e Consumer Electronics da Vivo, a estratégia é atender à demanda dos usuários além dos serviços tradicionais de telecomunicações.

Por isso, diz ele, a companhia vem ampliando a oferta de serviços justamente por ter contato com o cliente final e conhecer seus hábitos de consumo. Somente nos nove primeiros meses deste ano, os novos serviços apresentaram crescimento entre 17% e 30%, enquanto o faturamento total avançou 7%.

Aposta em parcerias

Na área financeira, por exemplo, a Vivo obteve uma licença no Banco Central (BC) para oferecer crédito pessoal, cuja linha vai até R$ 50 mil. Hoje, já tem Pix parcelado e linhas como antecipação do saque-aniversário do FGTS, além de seguros. Somente nos últimos 12 meses, até setembro deste ano, as receitas com serviços financeiros cresceram 16%, totalizando R$ 450 milhões.

Além disso, o montante total de empréstimos pessoais concedidos via Vivo Pay alcançou R$ 823 milhões entre outubro de 2020 e setembro deste ano. Mas Gruner diz que a companhia está ampliando o portfólio. Uma das ideias é aumentar as apostas em consórcios, hoje restritos à compra de smartphones.

Em saúde, a tele criou um serviço com assinatura mensal que dá acesso a descontos de até 80% em consultas médicas, exames e medicamentos. Em educação, são 72 mil que fazem cursos em parceria com a Ânima. Na área de venda de produtos, a Vivo vem ampliando sua operação de marketplace. Recentemente, fez parceria com a Samsung para a venda de televisores.

- O aumento das receitas da empresa vem naturalmente dessas novas avenidas que funcionam como alavancas de crescimento adicional. Queremos criar uma proposta melhor de valor e permitir que o cliente fique mais tempo na Vivo - diz Gruner, lembrando que a empresa formou recentemente uma parceria para ofertar energia no mercado livre para empresas.

A TIM já tem parcerias com o Descomplica, na área de educação, o Cartão De Todos, com descontos em consultas, exames e medicamentos, e C6 Bank (serviços financeiros). Fabio Avellar, vice-presidente de Receitas da TIM, lembra ainda que recentemente fechou parceria com a Eletrobras para a criação de plataforma de negócios em energia.

O executivo explica que contabiliza essa receita dentro do que chama de plataforma de clientes. Somente no terceiro trimestre, o faturamento chegou a R$ 40 milhões no segmento.

- O objetivo é ir além dos gigas ao oferecer serviços relevantes para o cliente. O foco é aumentar o engajamento e a fidelidade dos nossos clientes e também diversificar nossas receitas. A conectividade traz justamente novas possibilidades. É aí que entram as parcerias - destaca Avellar.

A Claro aumenta as apostas. Segundo Rodrigo Marques, vice-presidente de Estratégia e Gestão Operacional da Claro, a ideia é ir além da conectividade. Ele explica que, com a base de TV por assinatura, a empresa vem criando um hub de entretenimento, com streamings e games. O executivo lembra que, com a Nvidia, vai criar um console virtual de jogos com assinatura mensal.

Há ainda a criação de um centro de controle de automação de casa conectada acessada via app da Claro, que permite acessar câmeras e controlar fechaduras de portas.

- Temos notado que os clientes começam a usar e vão aumentando sua utilização mês a mês. Criamos o Claro Pay, para prover facilidade de serviços financeiros com carteira digital. Se a gente tem conectividade, agrega mais opções - afirma Marques.

Ele diz que a ideia é deixar de oferecer somente um serviço de internet, segmento no qual a competição é elevada:

- Queremos personalizar cada vez mais para agregar valor e ter sinergia com o nosso core business. Fazemos isso com nosso serviço de música e de livros.

O executivo destaca ainda os serviços que vêm sendo desenvolvidos para as empresas com base nas informações de seus usuários. Entram na lista, por exemplo, dados de geolocalização e informações para ajudar companhias a analisar o risco de crédito, no qual utiliza o histórico financeiro dos usuários.

- São usados IA e aprendizado de máquina, por exemplo, para entender a movimentação dos usuários. São dados valiosos para empresas de varejo, por exemplo.

Na Vrio.Corp, que comanda a marca Sky no Brasil, a estratégia envolve a criação de um portfólio completo de soluções, diz Dario Werthein, presidente do Grupo Werthein (GW), controlador da Vrio.Corp. Para ele, a diversificação dos serviços para além da telecomunicação busca se antecipar às necessidades dos consumidores, desde os mais jovens a chefes de família e empresas.

Ele cita a criação de novas frentes de negócios, como a SKX, que oferece serviços financeiros, e a Overlabs, com consultoria, serviços, desenvolvimento de softwares e aplicativos para empresas, com foco na redução de custos operacionais dos clientes.

- Com a expansão dos nossos serviços, agregamos ao nosso portfólio uma proposta integrada por conectividade, benefícios em seguros e energia renovável. O objetivo é oferecer aos nossos clientes atuais e futuros um portfólio diversificado. Por isso, trabalhamos com investimentos e produtos próprios e com alianças estratégicas com outras empresas, como é o caso de energia renovável, seguros e a chegada em breve da internet satelital.

Mudança de paradigma

Guilherme Rela, diretor de Negócios da Algar Telecom, diz que a meta é ter um cardápio completo de soluções, acessíveis e de fácil contratação, com opções em áreas como agro, indústria, entretenimento, saúde, educação e serviços financeiros.

Uma das iniciativas da empresa envolve a criação da Algar Telecom Venture Builder, unidade de negócios focada em apoiar startups, para desenvolver soluções proprietárias e firmar parcerias estratégicas.

Ele lembra que a empresa, no caso da telemedicina, vai expandir o serviço para incluir acesso a medicamentos e outros benefícios.

- Observamos uma mudança de paradigma, onde a receita, antes baseada em serviços de voz, agora tem a conectividade como protagonista. Em breve, prevemos uma inversão completa: a conectividade será essencial, mas as operadoras precisarão ser provedoras de soluções completas para diferentes verticais - afirma Rela.

Entre os consumidores, a estratégia vem ajudando no dia a dia. Patricia Villar e Helena Gomes, que atuam na área de moda organizando eventos como o Bazar Beneficente do Horto e comandam o brechó Closet do Horto, não abrem mão de fazer o máximo de coisas possíveis pelo celular.

- O celular é vital para o sucesso do nosso negócio. Já acordo checando mensagens de clientes, passo o dia postando e fazendo fotos das roupas, cadastro peças no sistema de estoque e faço cursos de Gestão Financeira e Marketing pelo aparelho - diz Patrícia.

O Globo
https://oglobo.globo.com/economia/negocios/noticia/2024/12/29/teles-se-preparam-para-ir-alem-da-conectividade-veja-os-novos-servicos-que-elas-oferecem.ghtml