Boa parte da capital Santiago ainda está sem energia elétrica |
Quedas na distribuição de energia ameaçam concessão da Enel no Chile

Quedas na distribuição de energia ameaçam concessão da Enel no Chile

por Cyro Fiuza

A Enel Sp.A, concessionária de energia italiana que atua em vários países, inclusive no Brasil, está ameaçada de perder sua concessão no Chile após uma forte tormenta semana passada no país, que veio acompanhada de chuvas e derrubou o sistema elétrico na capital Santiago e em várias outras localidades.

O governo chileno iniciou um processo de encerramento da concessão, que seguirá adiante a menos que a companhia italiana restabeleça minimamente, e em 24 horas, a energia que neste momento afeta cerca de 20 mil lares, segundo o ministro da Energia, Diego Pardow, revelou em vídeo postado na plataforma "X".

O ministro atua diretamente a pedido do presidente Gabriel Boric. "A grave inoperância das distribuidoras de energia é inaceitável. Não cumprem com os prazos legais, não conseguem cumprir com seus compromissos (de manutenção e restabelecimento de energia). Empresas como a Enel procuram economizar quando ainda há gente sem luz em suas casas. Pedi ao ministro Diego Pardow não apenas avançar com as sanções em curso como também revisar a concessão da Enel", anunciou Boric.

Uma das maiores companhias elétricas atuantes no Chile, a Enel é a responsável por garantir a distribuição de energia em 33 distritos da região metropolitana, que é densamente povoada e inclui a capital Santiago e a cidade litorânea de Valparaíso, onde se encontra o Congresso Nacional. Em busca de solucionar o problema, a empresa trouxe técnicos do Brasil, Argentina e Colômbia para ajudar as equipes locais. Ao mesmo tempo, anunciou que dará compensações nas contas de todos os clientes que tiverem sido afetados pelas quedas de força.

O Chile é responsável por cerca de 5% dos lucros ajustados antes dos impostos sobre juros,taxas, depreciação e amortização (Ebtida), da Enel, que este ano atingiram US$ 594 milhões considerando o primeiro semestre de 2024, segundo apurou a agência Bloomberg.

São Paulo ficou semanas sem eletricidade no último verão


Em São Paulo, a Enel também atravessou uma fase difícil no último verão 2023/2024. As quedas seguidas de energia começaram em novembro e, no final de dezembro, se concentraram na região central da capital paulista, com centenas de prédios residenciais e comerciais atingidos pelas falhas da companhia. A população ainda lembra de dezenas de caminhões com geradores movidos a combustível fóssil nas caçambas, congestionando algumas ruas do Centro.

No final do ano, o Centro de São Paulo também ficou às escuras

A concessão da Enel com o Governo Federal é de 30 anos e vai até 2028. Durante as seguidas quedas de energia no ano passado, cogitou-se iniciar o cancelamento da concessão por parte do município e da União. A Prefeitura paulistana ameaçou publicamente com essa ação, mas aparentemente tudo não passou de fumaça, com o assunto esquecido após o final do verão e do período de fortes chuvas. A discussão de uma possível extinção do contrato de fato nunca avançou para uma troca de concessionária ou até mesmo a reestatização da companhia.

A Enel recebeu nesse interim multas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da Secretaria Nacional do Consumidor, do Procon estadual e da Prefeitura, mas até agora não se sabe se todas essas sanções foram devidamente pagas pela multinacional italiana. O que a população espera agora é que, com a aproximação da temporada de primavera/verão 2024/25, os incidentes não se repitam na cidade e que a Enel esteja melhor preparada para enfrentar as intempéries que sempre chegam junto das fortes chuvas.