Francisco Chagas | Imagem: Divulgação PT
''Carta aos Petistas da Capital'', O que nos une?, por Francisco Chagas

''Carta aos Petistas da Capital'', O que nos une?, por Francisco Chagas

O ex-deputado federal e vereador por São Paulo, Francisco Chagas, divulgou nesta segunda-feira, dia 29, a "Carta aos Petistas da Capital", O que nos une? Chagas vem de disputar a presidência do diretório municipal do PT em SP, eleição que perdeu por pequena margem de votos para o vereador Hélio Rodrigues.

CARTA AOS PETISTAS DA CAPITAL


O que nos une?


O resultado do segundo turno do PED em São Paulo deixou um recado claro: o PT da capital nunca mais será o mesmo. Obtive 49,7% dos votos contra 50,3% do meu adversário. Não questiono o resultado. Nosso grupo atuou com forte fiscalização no segundo turno, denunciando os abusos do primeiro. Foi isso que impediu, por exemplo, que se repetissem escândalos como o da eleição do DZ de Vila Prudente, que no 1º turno deu uma vantagem de 605 votos ao adversário, e que no 2º caiu para 328 - mesmo diante de um forte esquema de intimidação a filiados, mesários e fiscais em toda a cidade. Mas a vida segue.

Parafraseando Norbert Elias, para quem "a morte é o fim da vida", perdemos porque nos faltaram votos. Mas precisamos discutir por que faltaram.
Nas redes sociais, vimos uma peça publicitária do candidato vencedor agradecendo os votos, exaltando a vitória e pedindo unidade.

Falemos de unidade.

Durante o PED, fui acusado de estar próximo ao prefeito Ricardo Nunes - de que minha campanha teria sido financiada por ele, e que, caso eleito, o próprio Nunes dirigiria o PT. Ouvi isso pessoalmente num debate da região Noroeste, diante de dezenas de companheiros e companheiras indignadas. Me recusei a responder por considerar os ataques absurdos. Mas errei. Porque, mesmo depois de tantos enfrentamentos contra o bolsonarismo, nossas filiadas e filiados ainda são vítimas de fake news - agora, entre nós.

Sempre acreditei que os métodos que usamos moldam quem somos. Por isso, me recuso a usar os métodos escusos que a extrema direita emprega no mundo todo para gerar caos e governar sobre os escombros - destruindo qualquer traço coletivo de civilização.

Durante a campanha, também disseram que o problema eram meus aliados, em especial os Tattos - grupo que há décadas constrói o PT com força organizativa imensa, sobretudo na zona sul, mas não apenas. Tenho por eles grande apreço. E é preciso dizer: nenhum presidente do PT na capital foi eleito sem o apoio dos Tattos - nem o atual, nem os anteriores. Também não teria lançado minha candidatura sem o apoio deles.

Mas a nossa campanha foi muito além.

Recebemos o apoio da deputada Professora Bebel, dos militantes da APEOESP, do deputado Marcolino, da companheira Ivone Silva, presidenta do Instituto Lula, dos bancários, do deputado Dr. Jorge do Carmo, do vereador Senival Moura, do ex-vereador Manoel Del Rio, de Campos (chefe de gabinete do deputado Rui Falcão), do ex-deputado Adriano Diogo, do companheiro Luciano Barbosa - que foi candidato e retirou seu nome em nosso apoio - e do vereador mais votado da zona leste e liderança em ascensão, Alessandro Guedes.

Foi essa soma de forças que deu à nossa candidatura uma densidade política que ninguém imaginava.

O adversário formou uma coalizão que ele próprio definiu, em matéria publicada pelo Estadão, como uma "coalizão anti-Tatto". Nos bastidores, era chamada de "coalizão anti-Nunes". Por essa lógica, minha candidatura representava a extrema direita infiltrada no PT. Se de fato acreditam nisso, deveriam ter pedido minha expulsão do Partido.

Agora clamam hipocritamente por unidade? Querem coesão com quem acusaram de ser agente de Ricardo Nunes no PT?

Por coerência, é necessário que haja retratação pública. Não faz sentido propor unidade com quem foi acusado de ser inimigo interno.

"Navegar é preciso, viver não é preciso." (Fernando Pessoa)

Minha trajetória sempre esteve comprometida com o PT. Coloquei esses compromissos acima da minha vida pessoal e sigo pagando um preço alto por isso - mas sem arrependimentos.

O preço da unidade maculada

"A unidade não pode ser feita a qualquer custo." (Fala de Hélio Rodrigues, em reunião da CNB da capital)

Com 49,7% dos votos das filiadas e filiados, e vitórias em 18 Diretórios Zonais - os maiores, com maior densidade nas periferias, que somam 52,2% das filiadas e filliados da capital - me sinto vitorioso. Temos autoridade política e moral para propor os pontos para uma unidade real:

1. Agenda permanente de mobilização: pela justiça fiscal e tributária (isenção aos mais pobres e taxação dos super-ricos); fim da jornada 6x1; redução de jornada sem corte de salário; defesa intransigente da soberania nacional, contra a taxação abusiva dos EUA, interferência externa no Judiciário, tratados entreguistas (como Alcântara e o veto ao enriquecimento de urânio), e rompimento com o Estado de Israel pelo genocídio contra o povo palestino.

2. Oposição programática firme a Nunes e Tarcísio: com plebiscito para municipalizar o serviço funerário e garantir gratuidade para quem ganha até R$ 5 mil. Oposição não é bravata nas redes, é organização e mobilização popular.

3. Centralidade na reeleição do presidente Lula em 2026, que precisa ser construída com a defesa do nosso programa e grande mobilização popular.

4. Fortalecimento dos DZs: com sedes abertas, apoio aos movimentos sociais e núcleos ativos, especialmente no combate ao racismo.

5. Cadastramento digital dos filiados: com canais permanentes de informação e plenárias virtuais regulares.

6. Formação política constante: em parceria com a Fundação Perseu Abramo e Escola Nacional de Formação, com foco no uso estratégico das redes.

7. Juventude livre e autônoma no PT: sem tutela nem burocratização da rebeldia.

8. Debate livre em todas as instâncias: a militância não pode ser apenas "condutora de boiadas", mas protagonista na formulação política.

9. Resgate da utopia: por uma sociedade justa, igualitária, democrática e livre - seja chamada de socialismo, comunismo ou o nome que a história nos indicar.

10. Frente progressista contra a barbárie: com um programa nacional que permita reeleger o presidente Lula.

11. Debate desde já sobre 2028: o PT da capital é grande demais para ser caudatário de qualquer projeto.

12. Criação do Conselho dos Sábios Resilientes: para mobilizar o patrimônio político e cultural de quadros históricos que já não estão nas instâncias partidárias, mas seguem essenciais - ex-ministros, ex-dirigentes sociais, ex-parlamentares, ex-subprefeitos.

13. Reconhecimento da maioria política real: que isso se reflita na composição da nova Executiva e do Diretório Municipal.

São Paulo, 29 de julho de 2025

Francisco Chagas
Vice-presidente do PT da Capital
Ex-deputado federal e vereador