Uma menina e um menino brincam num parque. Risos e correrias. São amigos aos 12 anos, Na Young (Seuj Ah Moon) e Hae Sung (Seung Min Yim). Estudam na mesma escola e competem pelas melhores notas.
Subindo as escadas de Seul de volta à casa, a menina chora e o amigo a consola:
"- Você é sempre a primeira. Eu só hoje fui o melhor. Por que você está chorando?"
Esses dois se dão tão bem que corta o coração ouvir o que as mães deles conversam. A família de Na Young vai imigrar para o Canadá. Os dois amigos vão se separar.
Doze anos depois, Na Young, agora com nome ocidental, Nora (Greta Lee), vive em Nova York e estuda dramaturgia. Nunca mais falou com seu amigo de infância. Até o dia em que o encontra no Facebook. Ele procurava por ela mas não sabia da mudança de nome.
E tudo recomeça. Mas em outra vida. Como se a infância fosse lembrada com amor, o primeiro amor, que durou muito pouco mas ainda está vivo, tanto nela como nele, que hoje é um engenheiro.
Porém adultos, eles não conseguem ir além das chamadas por Skype, lutando contra o fuso horário que os separa de novo. E ela decide terminar aquilo que mexe com ela e invade sua nova vida, casada com Arthur (John Magaro), escritor judeu que a ama. Ela não quer abrir mão da vida que leva agora.
Mas, mais doze anos depois, ele decide ir vê-la em Nova York. Está só e pensa nela. Outra vida recomeça por alguns dias.
Os dois, encantados um com o outro e sentindo o que sentiam na infância. Suas vidas passadas levam a longos passeios pela cidade e olhares cheios de palavras não ditas. Mas a proximidade impedida, como se não pudesem evitar separações.
O filme de Celine Song é delicado e belo, fotografado com talento e carinho. Ele nos aproxima do mundo antes de agora, o passado que parecia esquecido. E essa força de atração dos personagens nos contagia.
Mas Nora não idealiza os sentimentos que reaparecem. Sabe que tudo que os une também os separa. Ela está desligada de seu país e de sua cultura.
E o tema das vidas passadas vem agora, através do budismo, pensado de um outro jeito. Não mais fases da nossa vida mas reencarnações. O In-Yun diz que as relações das vidas passadas influenciam o que acontece nas vidas presentes. Age como um consolo para nossos dois personagens. Não puderam viver juntos nessa vida mas quem sabe no futuro?
Celine Song filma imagens que expressam palavras que não precisam ser ditas. A música é o som dos olhares e sorrisos que se trocam. E nos transportam para o passado, vidas alternativas, só vividas na nossa imaginação, o que nunca foi mas poderia ter sido.
"Vidas Passadas" é reflexivo nas memórias que faz reviver e nostálgico naquelas lembranças que nunca foram vividas.
Um filme precioso.
( O trailer está no meu blog www.eleonorarosset.com.br)