Presidente Lula participa da 14ª Conferência Nacional de Assistência Social no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília - Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo |
Artigo: 2026, a eleição da oposição sem oposição

Artigo: 2026, a eleição da oposição sem oposição

Faltando dez meses para eleição, os oposicionistas brasileiros não demonstram, perante a opinião pública, o mínimo de articulação e viabilidade concreta


Por Maurício Moura

"Final não se joga, se ganha" é uma máxima de esporte competitivo. As disputas eleitorais não se afastam muito desse mantra. Em 2014, por exemplo, o PT venceu uma eleição mesmo diante de um país cuja maioria queria mudança. Não é por acaso que o slogan da ex-presidente Dilma Rousseff era "mais mudança". Porém, em 2026, o que nos espera na disputa pelo Palácio do Planalto?

Acima de tudo e de todos, e sem trocadilhos com slogans presidências anteriores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o personagem central. Em ano de reeleição, a pergunta fundamental a ser respondida nas urnas é se o presidente (ou seu governo) merece ou não continuar.

As pesquisas do Instituto Ideia mostram, que em dezembro de 2025, há sete pontos percentuais a mais de eleitores respondendo que Lula não merece continuar quando comparado aos que acreditam no mérito de sua permanência. Além disso, é sempre fundamental lembrar que a abstenção eleitoral brasileira (em torno de 20% na média) é essencialmente de eleitores de baixa renda, especialmente analfabetos. Eleitores ausentes, que pelo perfil, teriam maior probabilidade de votar no PT. Ou seja, os candidatos do PT normalmente precisam de uma "gordura" maior de popularidade para vencer

O presidente petista sofre ainda de uma tendência global: com a polarização política solidificada e as bolhas estabelecidas é muito raro governantes que tenham popularidade consistentemente positiva. A exceção mundial são a presidente do México, Claudia Sheinbaum, e Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia. Na América Latina, a oposição tem vencido a maioria absoluta das eleições nacionais. Em 2025, por exemplo, somente Daniel Noboa, do Equador, conseguiu a reeleição.

Nesse contexto, seria natural imaginar que o clima é favorável para a oposição brasileira, correto? Não necessariamente. A realidade política não dialoga com o cenário eleitoral. Faltando dez meses para eleição, os oposicionistas brasileiros não demonstram, perante a opinião pública, o mínimo de articulação e viabilidade concreta. E os motivos são visíveis e não visíveis. E se engana quem pensa que o problema principal é a escolha dos candidatos para enfrentar Lula. O nome ou sobrenome é o menos relevante.

Um dos motivos visíveis é a falta de uma narrativa eleitoral minimamente encantadora, consequência da falta de visão alternativa de país. Os eleitores que realmente vão decidir essa eleição (os 3% que votaram em Bolsonaro em 2018 e Lula em 2022, e são passíveis de persuasão) não têm a menor conexão com temas como anistia ou perdão a bolsonaristas e seguidores. Também não estão em busca de um gestor para o Brasil. Essa narrativa de gestor, ou choque de gestão, fizeram o PSDB perder quatro eleições para o PT. Em 2014, em particular, faltou a Aécio Neves ir além de "tirar o PT" para convencer os eleitores a mudarem de governo. Nesse sentido, o antipetismo puro não fará a maioria necessária. Continua sendo necessário um argumento maior (e melhor) que esse. Atualmente, não há.

Além disso, é pouco esperar que a segurança pública seja o pilar de convencimento nacional. Esse ainda é tradicionalmente um tema mais local que nacional. É verdade que a opinião pública tem percebido que segurança vai além da Polícia Militar estadual, mas ainda é longe de ser decisiva na presidencial. Até hoje não houve presidente eleito com essa bandeira principal. Fernando Collor e Jair Bolsonaro foram eleitos como antissistema e anticorrupção, por mais incrível que isso possa parecer atualmente. Fernando Henrique se apresentava como o bastião da estabilidade econômica contra o potencial caos petista e o PT usou e abusou da defesa dos pobres nas campanhas.

Do lado invisível do imaginário público, reside o fato de que os partidos e suas lideranças se interessam mais em eleger deputados e senadores do que um novo presidente da República. O poder político e financeiro migrou do Planalto para o Congresso Nacional. E isso é o ponto crítico da diferença entre o Brasil e outros países em que a oposição tem tido êxito. Na prática, a mínima organização política para a construção de um projeto alternativo para disputar a Presidência não existe nos grupos oposicionistas atuais, sejam bolsonaristas ou não. Em 2022, Lula e o PT como oposição, minimamente, se organizaram para concorrer e vencer. Não há nada similar em 2025

Portanto, no Brasil de 2026, em que pelo menos metade da população desaprova o atual governo, eleição para ganhar é a do Congresso, o resto é para disputar, incluindo a Presidência. Se nada mudar estruturalmente, o pleito nacional de 2026 tem grande potencial de ficar conhecido como a eleição de oposição sem oposição.

*Fundador do Instituto de Pesquisa Ideia e professor visitante na George Washington University

O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/12/16/artigo-2026-a-eleicao-da-oposicao-sem-oposicao.ghtml