Brasil no espelho: o maior estudo já feito no país sobre valores, atitudes e percepções da nossa população.

Brasil no espelho: o maior estudo já feito no país sobre valores, atitudes e percepções da nossa população.

Em um país tão grande como o nosso, como definir uma identidade - ou brasilidade?

Os últimos anos, especialmente a última década, têm marcado um ponto de inflexão na forma de ver e compreender o que é o Brasil.

Um país de paisagem tão múltipla quanto sua gente, tem aprendido que ser brasileiro é ser diferente, complexo, misturado. A diversidade e a desigualdade de gênero, raça e religião foram se revelando. As línguas, os símbolos e os significados regionais têm ganhado força e reconhecimento na identidade da nossa brasilidade .



Mas quando a gente se olha no espelho, o que vê no reflexo? Somos diversos e abertos ou heterogêneos e fechados para o diferente?

É fato: vivemos em uma era multigeracional. Como essa troca de experiências e visões de mundo impactarão nosso futuro?

Com quase 10 mil entrevistas presenciais domiciliares em todo território nacional, nos 26 estados e no Distrito Federal, realizamos a maior pesquisa sobre valores, atitudes e percepções da história do país , para detectar e analisar tudo aquilo que há anos vem sendo desenhado sobre a cara do Brasil e do brasileiro: nossos valores de hoje e de amanhã .

Mas para entender de verdade os valores que movem o Brasil, também é preciso investigar um terreno mais silencioso e, muitas vezes, invisível: o do conhecimento.

Afinal, o que sabemos, de fato, sobre o nosso país?

E o quanto acreditamos saber?

Podemos começar pela base: é impossível descrever o brasileiro sem sua família.

Queremos ter nossa família presente em todos os momentos. E essa família são várias: novos arranjos e estruturas já são aceitos por boa parte dos brasileiros.

A composição familiar brasileira é diversificada.

Tradição familiar é importante, mas amor é o que define o conceito de família, em todos os recortes do país.

A religião tem influência nessas opiniões, que oscilam, mas mantêm altos índices de concordância.

Você diria que... (%)



A família exerce centralidade nas relações sociais, nas motivações e na tomada de decisões dos brasileiros.


Os mais jovens, as mulheres, os católicos e nordestinos têm ainda mais intensidade nessa relação familiar.


A família também está no topo dos principais sonhos.


Para quem tem maior acesso à educação, a felicidade da família é ainda mais valorizada.


O brasileiro é um povo de fé. E Deus é importante em todos os momentos da vida, nos bons ou ruins.


É curioso observar que essa presença é forte em todos os recortes da população, inclusive entre os que não têm religião.


O Brasil é um país religioso, embora eclético na sua prática.


86% dos brasileiros possuem religião. E mesmo entre quem não tem religião, quase a totalidade diz ter fé. No entanto, o perfil de quem não tem religião é mais jovem.


A matriz religiosa do país segue representada em todas regiões, com alguns destaques:


No Norte e no Centro-Oeste existe uma presença maior de evangélicos .

No Nordeste, Sudeste e Sul , existem mais pessoas que se declaram sem religião .

No Brasil, a religião evangélica tem predominância feminina, enquanto entre os que se declaram sem religião, a maioria é composta por homens.

A matriz religiosa brasileira apresenta poucas variações entre as classes sociais. No entanto, os mais ricos tendem a se declarar mais frequentemente sem religião.




Brasileiros também são adeptos do "fatalismo religioso": Acreditam que Deus está no comando e dizem que a fé vale mais que a ciência.



Pessoas de maior renda e escolaridade concordam menos que a fé vale mais que a ciência, com uma diferença de cerca de 17 pontos percentuais quando comparados a segmentos de menor renda e escolaridade.

Com as trocas de gerações, a tendência é aumentar significativamente as fatias de Evangélicos e sem religião


Vamos utilizar divisão de gerações. Gerações são categorias demográficas que refletem padrões culturais, tecnológicos e sociais moldados pelos eventos e avanços tecnológicos de sua época. Usaremos uma divisão baseada em estudos de comportamento e renomeadas de acordo com o período em que cresceram:

Obs: Gerações Bossa-Nova, Redemocratização e Geração.com têm 2% de NS/NR.


Como o Brasil reconhece o "jeitinho brasileiro"?


O "jeitinho brasileiro" é visto de diferentes formas.
É sobrevivência é criatividade, é uma propensão a encontrar boas soluções. Mas também pode estar associado a condutas negativas como corrupção e malandragem.

A diversidade de pensamento se fundamenta à medida que alguns atributos são mais fortes para grupos demográficos específicos.


Comportamentos que violam direitos e leis "graves" são interpretados como amplamente desonestos.

Ainda que essas respostas possam sofrer do viés de desejabilidade social, os números indicam que os brasileiros aprenderam sobre leis recentes e que a compreensão sobre a gravidade dos atos é praticamente unânime.


Comprar produtos de camelô é mais moralmente aceito que comprar ingressos de cambistas e assistir a filmes pirateados.

Quão honestas/desonestas são cada uma dessas práticas? (%)


Dados de busca no Google mostram que a busca por filmes e séries grátis e camelô são frequentes sobre cambistas, muito se pergunta sobre segurança.

Comportamentos de consumo no comércio informal e ilegal recebem avaliação significativamente menos negativa no quesito amoralidade. A compra por cambista é vista por 60% como "totalmente desonesta" e assistir filmes por meios não-oficiais ou pirata por 50%.

O consumo de produtos vendidos por camelô divide a população: 41% considera desonesto, sendo 26% "totalmente desonesto". 36% consideram honesto, sendo que para 16% é "totalmente honesto". 21% consideram "nem honesto, nem desonesto", e 2% não souberam opinar.

Cultura e identidade brasileira


Mesmo diante da influência global, o brasileiro tem a música nacional e o carnaval como símbolos de identidade e união.


E sempre com música, e música brasileira! Apenas 2% dos brasileiros dizem não ouvir música, e a música nacional é preferida em comparação à internacional

Você prefere ouvir musica brasileira ou internacional?


Identidade brasileira


Qual o seu tipo de música preferido? Top 1


Qual o seu tipo de música preferido? Top 2


Samba que REPRESENTA o país!


Qual o seu tipo de música mais representa o Brasil? Top 1


Qual o seu tipo de música mais representa o Brasil? Top 2


Apenas 6% dizem poder confiar nas outras pessoas.


Brasil no Espelho, Globo/Quaest 2023


Apesar de uma diferença de 5 anos entre a pesquisa do World Values Survey e Brasil no Espelho, o índice de confiança interpessoal dos brasileiros não se alterou.


A maioria se considera de centro e de direita


Quando perguntados onde se encontram em uma escala de posicionamento ideológico, brasileiros se identificam mais com posições ao centro (37%) e mais à direita (36%). Outros 23% se identificam com posicionamento de esquerda no país.

Desde 2017, houve um aumento claro no percentual de brasileiros que se identificam como de direita. Mais recentemente, cresceu também o número de brasileiros que se identificam como de centro.


A diferença ideológica entre homens e mulheres é explicada especialmente pelas gerações mais novas


Quando comparamos o autoposicionamento ideológico entre homens e mulheres nascidos na mesma época, fica claro que não apenas os mais jovens tendem a se posicionar mais à esquerda, mas as mulheres das gerações Ordem e Progresso , Redemocratização e Geração.com se posicionam consistentemente mais à esquerda na comparação aos homens nascidos no mesmo período.

Estudos recentes indicam que esse fenômeno tem se repetido em diversos países do mundo.

Somos punitivistas e contrários à maconha, embora aceitemos homossexuais e sejamos contra armas.




Uma parte significativa do país se sente cansada e insegura. E deposita sua confiança na família mais próxima.


Mais da metade dos brasileiros se sentem cansados.


A região Norte é onde estão os brasileiros mais cansados, sobretudo nos estados do Acre e do Amapá.

Sergipe, Paraíba e Goiás também concentram brasileiros cansados, enquanto os alagoanos são os que menos se declaram cansados.


O cansaço tem razão de ser: 6 a cada 7 brasileiros precisam de mais de um trabalho para complementar a renda e sonham com negócio próprio.

Mais da metade dos brasileiros que precisa de um trabalho extra para complementar a renda do mês afirma se sentir cansada.

O sonho do negócio próprio anda junto à necessidade de ter mais de um emprego para poder complementar a renda do brasileiro.



Na avaliação sobre a riqueza no Brasil atual, os brasileiros acreditam que nascer em família rica, ter oportunidades e formação explicam mais do que o trabalho.


Em sociedades em que há alta mobilidade social e o valor meritocrático é forte, é esperado que exista a crença de que o caminho para a riqueza seja traçado por características individuais excepcionais: trabalho ou talento mais alto que o normal. Esse não é o caso brasileiro.

A maior parte dos brasileiros acredita que os ricos são ricos no país pelo acaso de ter tido uma origem rica. Em outras palavras, não há a percepção de mobilidade social para o topo das faixas econômicas, enquanto acredita-se que a desigualdade do país foi construída historicamente.


"Ricos são os outros"


A percepção de classe do brasileiro é substantivamente distorcida: mais da metade dos mais ricos do país afirmam ser de classe baixa ou média baixa .


Qual a sua classe social? (%)


Os brasileiros se sentem mais inseguros que cidadãos de países mais e menos "desenvolvidos".

No Brasil, a confiança interpessoal é baixa em todos recortes demográficos. Ao compararmos com índices globais, os números pouco mudaram nos últimos 5 anos.

Fonte: World Values Survey - 2018

Gente Globo
https://gente.globo.com/brasil-no-espelho.ghtml