Newsletter semanal do jornalista Thiago Prado mostra que interlocutores do paranaense vêm sugerindo a desistência da disputa contra Lula diante da melhora da popularidade do petista, e recomenda o documentário 'Caçador de Marajás'
Por Thiago Prado na newsletter Jogo Político
Enquanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), dá sinais de desânimo com a corrida presidencial, o PSD de Gilberto Kassab se prepara para colocar na rua na próxima semana o plano B do partido para o Planalto: o governador do Paraná, Ratinho Júnior, será a principal estrela das inserções de TV da legenda , com mais quantidades de aparições que lideranças como os recém-filiados governadores de Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de Minas Gerais, Mateus Simões, além do prefeito do Rio, Eduardo Paes.
Apesar do cartaz planejado pela própria sigla, vários interlocutores do paranaense vêm sugerindo a desistência da disputa contra Lula neste momento de melhora da popularidade do petista, entre eles o mais importante dos conselheiros: seu pai, o empresário Carlos Massa, apresentador do SBT desde o fim dos anos 90. O pai do governador tem agenda cheia atuando em áreas como agronegócio e hotelaria, mas também vem dedicando tempo a discutir política - em especial com Kassab, o maior patrocinador do plano presidencial do correligionário porque deseja ver Tarcísio de Freitas mais quatro anos no Palácio Bandeirantes.
Carlos Massa acha o governador de São Paulo o melhor nome para vencer Lula, mas segue muito presente na estratégia de comunicação do filho. Gosta de ver as peças de publicidade, dá palpites sobre a poluição ou não dos conteúdos e, muitas vezes, ajuda a dar um empurrão nos cortes de vídeo em seu perfil no Instagram para 8,4 milhões de seguidores. No fim de setembro, repostou um discurso de Ratinho Júnior alfinetando os investimentos na COP-30, e comparando com o que o governo do Paraná gastou com pavimentação de ruas em 323 cidades. Se a mensagem ficasse restrita apenas ao perfil do governador, apenas 1 milhão de seguidores teriam sido impactados.
Além da rede social robusta, uma campanha presidencial de Ratinho Júnior poderia ter o suporte da mídia tradicional nas mãos do pai. Em entrevista recente ao podcast "Boa Noite, Brasil", Carlos Massa revelou ser dono de 77 emissoras de rádio e seis de TV.
Ao longo do ano, o governador do Paraná acumulou acenos para a direita. Embora mais moderado e discreto nos posicionamentos que os presidenciáveis Ronaldo Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo), participou de manifestação na Avenida Paulista contra o Supremo Tribunal Federal (STF); defendeu o projeto da anistia para os acusados de envolvimento no 8 de Janeiro; e se solidarizou ao ex-presidente Jair Bolsonaro após a condenação por liderar a trama golpista.
Os números em pesquisas se mantêm favoráveis a despeito dos movimentos na direção de uma ala mais radical da direita. Em agosto, a Quaest apontou o governo paranaense com 84% de aprovação popular. As virtudes da administração estão vinculadas ao bom desempenho do estado na área da educação e a um ambicioso pacote de concessões.
Nos cenários presidenciais testados pela Quaest, mais índices que justificam a animação com o voo ao Planalto. Os percentuais de Ratinho Júnior no primeiro turno contra Lula oscilam de 8% a 10% a depender dos nomes da direita testados. Ele fica abaixo de nomes como Tarcísio e o ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (PSDB), mas acima de Caiado e Zema. A associação com o nome do pai é apontada como um fator relevante para o seu nome já ser reconhecido pelo eleitor nas sondagens a um ano da disputa.
Aos 69 anos, Carlos Massa - que sempre manteve excelente relação com Lula - passou a deixar mais claro em entrevistas recentes que tornou-se uma figura pública de direita, distante da discrição e moderação do filho, de 44 anos. Em entrevista esse ano para o canal no YouTube de Leda Nagle, o apresentador e empresário se saiu com esse raciocínio quando o tema em questão era 'como o Brasil trata mal o empresário'.
- A esquerda não dá certo. Me mostre um lugar do mundo que a esquerda deu certo? Não tem jeito de dar certo esse negócio de socialismo porque as pessoas são diferentes. Pega meus irmãos, são todos diferentes de mim. Não tem nenhum vendedor, só eu. Pega esses livros de (Karl) Marx. Na teoria é uma delícia, todo mundo igual. Vai lá em Cuba ver se todo mundo é igual. Quando discuto com intelectual, falo para eles passarem uma semana lá - disse o pai de Ratinho Júnior, que ontem foi assunto na internet por outro motivo: ele acaba de ganhar cidadania paraguaia, país onde revelou ser dono de terras.
A colega Fernanda Alves indicou e acertou na mosca: os sete episódios do documentário do Globoplay sobre o ex-presidente Fernando Collor são espetaculares. Obra obrigatória para quem adora jornalismo, política e um pouco de fofoca (ou como bem define a jornalista Dora Kramer, a 'sociologia do borogodó').
Devorei em dois dias. Além de riquíssimo em imagens (seja com o acervo da TV Globo, seja com vídeos de políticos errando nas gravações para a propaganda eleitoral gratuita), são muitas as entrevistas saborosas.
Sabe aquele debate sobre o CQC e o Pânico terem ajudado na eleição de Jair Bolsonaro em 2018? Mario Sérgio Conti, ex-diretor de redação da "Veja", e Ali Kamel, ex-diretor geral de Jornalismo da Globo, respondem sobre a mesma tese no documentário com relação a Collor em 1989. Conti não vê problemas na histórica capa da "Veja" com o título "O caçador de marajás". "Era ela ou uma com Ulysses Guimarães. Qual que venderia mais?", ironiza. Kamel fala em sintonia com o posicionamento da Globo que já assumiu o erro na edição do debate entre Lula e Collor na véspera do segundo turno presidencial.
Lula abocanhou boa parte do apoio dos artistas em 1989, mas houve 'dissidências': Caetano Veloso foi a favor de Leonel Brizola; Hebe Camargo, de Paulo Maluf; Cláudia Raia e Alexandre Frota não só apoiaram Collor, como apresentaram seus programas de TV. Frota, aliás, é um dos entrevistados de 'Caçadores de Marajás'. Ele se diz arrependido de não apoiar o petista. Queria ter participado da gravação histórica dos artistas cantando o 'Lula lá'.
Um dos grandes depoimentos do documentário é o de Thereza Collor, para muitos um dos pivôs da raiva de Pedro Collor com o irmão Fernando. Muito bem editado, os episódios mostram como a rivalidade entre os dois foi construída ao longo de anos de convivência. Pedro destruiu o ex-presidente com uma série de entrevistas na imprensa detalhando o esquema de corrupção comandado por PC Farias. Collor foi alvo de um processo de impeachment após as denúncias e o resto é história.
Se quer continuar lendo e ouvindo mais sobre Collor, mais duas dicas: o podcast Collor versus Collor, também disponível no Globoplay; e o livro 'Passando a limpo, a trajetória de um farsante' de Pedro Collor.
O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/10/30/jogo-politico-ratinho-junior-coloca-o-bloco-presidencial-na-rua-mas-pai-resiste-ao-plano.ghtml
 
                      
                                    
								




