Balança comercial brasileira teve superávit mesmo com restrições ao mercado americano imposta pelo tarifaço de Trump |
Um mês de tarifaço: vendas para EUA caem 18,5%, e superávit da balança sobe

Um mês de tarifaço: vendas para EUA caem 18,5%, e superávit da balança sobe

Wanderley Preite Sobrinho

A balança comercial brasileira apresentou superávit de US$ 6,133 bilhões em agosto, primeiro mês em que vigorou a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a diversos produtos brasileiros. O crescimento foi de 3,9% em relação a agosto do ano passado. Já as exportações para o mercado americano despencaram 18,5% no mês passado, informou hoje o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

O que aconteceu

As exportações brasileiras somaram US$ 29,8 bilhões em agosto, contra US$ 28,7 bilhões em agosto do ano passado. O resultado foi impulsionado pela agropecuária e indústria extrativista. "Temos um destaque em valor para a carne bovina, que aumentou 56%, e para o ouro, que aumentou 55,9% em valor, mas em volume cresceu [também]", afirmou Erlon Brandão, diretor de estatísticas e estudos de comércio exterior do ministério.

Já as importações atingiram US$ 23,7 bilhões no mês passado. A queda foi de 2% em comparação com agosto de 2024 (US$ 24,2 bilhões). Destaque para bens de capital, que caíram 10,1% em valores, e bens de consumo (-9%).

No acumulado do ano, o Brasil exportou US$ 227,5 bilhões. O crescimento foi de 0,5% em relação ao acumulado dos oito primeiros meses de 2024.

Já as importações somaram US$ 184,7 bilhões de janeiro a agosto. O valor significa crescimento de 6,9% em comparação com os US$ 172,9 bilhões importados no mesmo período do ano passado. Assim, o saldo positivo nos oito primeiros meses do ano foi US$ 42,8 bilhões.

Já o saldo corrente de comércio ficou de US$ 412,3 bilhões nos oito primeiros meses do ano. Essa é a diferença entre o valor total exportado e importado em um determinado período.

O aumento da exportação foi mais que suficiente para compensar a queda da importação e fazer com que a corrente de comércio crescesse no mês de agosto, com aumento de 1,2%.
Erlon Brandão, diretor de estatísticas do Mdic

Caem exportações para os EUA

As exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5%, para US$ 4 bilhões em agosto. No ano passado, o Brasil havia exportado US$ 4,4 bilhões para o mercado americano.

Os produtos com as maiores quedas de exportação para os EUA foram:

  • Minério de ferro: - 100%. "Não exportamos minério de ferro nesse mês de agosto para os Estados Unidos", afirmou o diretor de estatísticas.
  • Açúcar: - 88,4%.
  • Aeronaves e partes de aeronaves: - 84,9%
  • Motores e máquinas não elétricos: - 60,9%
  • Carne bovina fresca: - 46,2%
  • Máquinas de Energia Elétrica: - 45,6%
  • Madeira em bruto (parcialmente trabalhada): - 39,9%.
  • Óleos combustíveis: - 37%
  • Produtos semi-acabados de ferro-aço: - 23,4%
  • Celulose: - 22,7%.

Já as importações de produtos americanos subiram 4,6%, e chegaram a US$ 3,9 bilhões no mês passado. Há um ano, as importações para os americanos somaram R$ 3,8 bilhões.

Outros mercados

Brasil também vendeu menos para Canadá e União Europeia. Enquanto as vendas recuaram 11,9% para a UE (de US$ 4,5 bi para US$ 4 bi), o recuo foi de 10,7% para os canadenses, de US$ 546 milhões em agosto de 2024 para US$ 487 milhões em agosto de 2025.

Já as exportações para o México cresceram 43,8%. Em agosto, foram vendidos US$ 790 milhões ao país latino-americano, contra US$ 549 milhões um ano antes.

O grupo representado por China, Hong Kong e Macau foi o principal destino dos produtos brasileiros em agosto. Aumento de 29,9%, de US$ 7,3 bilhões para US$ 9,5 bilhões, o que significou uma participação de 32,1% das exportações nacionais no mês passado.

Os produtos mais vendidos para a China foram:

  • Carne bovina: + 84%
  • Óleos e produtos de petróleo: + 75%
  • Soja: + 28,4%
  • Açúcar e melaço: + 20%
  • Minério de ferro: + 4,9%

A China, que vinha caindo a exportação para esse destino ao longo do ano por conta principalmente de preço, (...) nesse mês de agosto [teve] um grande crescimento de volume exportado.
Erlon Brandão, diretor de estatísticas do Mdic

O tarifaço


O presidente Donald Trump anuncia tarifaço em 2 de abril de 2025
O presidente Donald Trump anuncia tarifaço em 2 de abril de 2025 Imagem: Brendan Smialowski/AFP

O tarifaço de 50% vale desde 6 de agosto. Naquela data, os EUA passaram a cobrar mais 40% sobre as tarifas de 10% que já aplicavam desde abril sobre a importação de produtos brasileiros. Desde então, uma taxa de 50% passou a ser cobrada sobre produtos como café, carnes, pescados, açúcar, cacau e frutas tropicais, como manga e uva. Castanhas, suco de laranja e produtos de aviação civil entraram em uma lista de quase 700 que se livraram da sobretaxa.

As razões para o tarifaço são políticas. Trump implementou a tarifa adicional de 40% sobre o Brasil "para lidar com políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA", escreveu o republicano em sua ordem executiva.

O documento cita o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A Casa Branca classificou o processo contra o ex-presidente como uma "perseguição, intimidação, assédio e censura".

Moraes tem abusado de sua autoridade judicial para ameaçar, atingir e intimidar milhares de seus oponentes políticos.
Comunicado da Casa Branca

As decisões judiciais do Brasil contra big techs também foram mencionadas. O americano acusou o Brasil de tomar "medidas sem precedentes para coagir empresas americanas de forma tirânica e arbitrária" com objetivo de "censurar" discursos políticos, remover usuários e alterar políticas de moderação de conteúdo sob penas de "multas extraordinárias" e processos criminais.

Uol
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/09/04/balanca-comercial-comercio-exterior-balanca-tarifaco-agosto.htm