Miguel RelvasDR/Reprodução SIC |
Miguel Relvas: ''Afinal, o diabo veio mesmo e apareceu no Rato''

Miguel Relvas: ''Afinal, o diabo veio mesmo e apareceu no Rato''

O antigo ministro de Passos Coelho pede um PSD de excelência, de ética irrepreensível, e aconselha o partido a aprender a lição, para não ser a próxima vítima do Chega.


Alexandra Tavares-Teles

Os resultados das legislativas são "um desastre para o sistema político, um tremor de terra com um tsunami", resume ao DN Miguel Relvas, lançando um alerta: "Afinal, o diabo veio mesmo e apareceu no Rato. Espero que o PS se mantenha como partido com vocação de poder e espero ainda mais que o PSD aprenda com o que aconteceu ao PS, de maneira a evitar ser a próxima vítima". Para isso acontecer, o ex-ministro de Passos Coelho defende que partido e Governo deverão "ser reformistas, inovadores, irrepreensíveis no plano ético".

"Repare-se", diz Relvas, " se apenas 4% dos eleitores do PS são jovens dos 18 aos 24 anos, o PSD não esteve muito melhor, obtendo 8% o que o deixou empatado com o PCP, com o Bloco de Esquerda", lembrando que os eleitores não deram a Luís Montenegro a maioria absoluta. "Não ganhou um cheque em branco. Nem um passaporte para o futuro. Por isso, teremos de ter um PSD de excelência".

Relvas continua, referindo-se agora à estabilidade governativa: "O próximo Governo durará tanto mais tempo quanto menos se preocupar com as eleições e com a estabilidade. Quanto menos olhar para o relógio e mais se afirmar como um executivo reformista".

"Que o 'não é não' não seja 'nunca é nunca'"


Sobre futuras coligações parlamentares, Miguel Relvas aconselha cautela ao partido: "O PSD tem de ter muito cuidado, de maneira a evitar que o 'não é não' passe a 'nunca é nunca'", sendo que para o ex-ministro adjunto de Passos Coelho, "o Chega no Governo é uma questão que não se coloca". Desde logo porque "Ventura não está tão oferecido".

Defende que o PSD tem de arranjar outras formas de entendimento e elogia a Iniciativa Liberal. "Fez bem em não se aliar ao PSD. Foi um momento de lucidez, mostrando que à direita do PSD, a oposição ao Governo não fica apenas nas mãos do Chega. Já basta o apêndice que é o CDS".

A constituição do próximo Governo é uma questão difícil para quem não acompanha o dia-a-dia do executivo. Para Relvas, " ideia de quem está de fora é que os Governos lucram sempre com uma remodelação profunda", porém, acrescenta, "não se deve minimizar a experiência dos ministros".

Aposta na manutenção de Pedro Reis, na Economia, de Miguel Pinto Luz, nas Infraestruturas e Habitação e em Leitão Amaro, na Presidência. Pedro Duarte é certo que sairá, para concorrer à câmara do Porto. "A ministra da Saúde será um caso a ver. Na verdade, apenas dois ministros da Saúde cumpriram mandato completo: Paulo Macedo e Maria de Belém Roseira", lembra, referindo "um trunfo" do anterior executivo. "A liderança parlamentar de Hugo Soares foi essencial. Se for para o Governo, seria um reforço de muito peso, ainda mais numa fase em que os assuntos parlamentares vão ser fundamentais, mas deixaria uma lacuna grande no parlamento".

Costa, Rio e Cristas: pais do Chega


"O Chega quer ser poder. Mudou os desafios e os objetivos. Lidera a oposição. O Chega tem dois pais: António Costa, porque andou a brincar com o fogo, e Rui Rio, ao querer colocar o PSD à esquerda. E uma mãe, Assunção Cristas, porque se esqueceu de que o CDS só seria forte se à sua direita tivesse uma parede", diz Relvas ao DN, defendendo a importância para o regime de o PS se assumir como alternativa.

"Este é o maior desafio da história do PS, bem maior do que o que ocorreu em 1987, com o PRD. Repare: em vésperas de Conselho Europeu. Com quem é que Montenegro fala? Com Ventura. Não falo apenas de revisão constitucional. Falo de todo o protocolo, desde o Tribunal Constitucional ao Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações".

Diário de Notícias
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