Ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio será o primeiro a trocar de partido; ex-presidenciável deve seguir o mesmo caminho a partir da segunda metade do ano
Por Luísa Marzullo - Rio de Janeiro
Pouco mais de um ano após sofrer uma significativa debandada liderada pelo senador Cid Gomes - que levou consigo a maior parte da bancada estadual do partido no Ceará -, o PDT vive agora um novo esvaziamento. Desta vez, a perda deve atingir diretamente o grupo político liderado pelo ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes, irmão de Cid.
O primeiro movimento concreto desse novo realinhamento será a saída do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, que deve se filiar ao União Brasil ainda em junho. Próximo de Ciro e nome recorrente nas articulações eleitorais do grupo, Roberto Cláudio abrirá caminho para outras desfiliações ao longo do segundo semestre.
A debandada ocorre em meio ao reposicionamento do grupo cirista no cenário político estadual. Aliados vêm se aproximando da oposição ao governador Elmano de Freitas (PT) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ampliando o afastamento iniciado ainda durante a campanha presidencial de 2022, quando Ciro se apresentou como adversário direto do petista.
Embora a bancada federal do PDT tenha adotado um discurso de independência em relação ao governo Lula após a saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência Social, no plano estadual o rompimento com o PT não se consumou, apesar das tentativas de Ciro.
Na semana passada, Ciro Gomes esteve na Assembleia Legislativa do Ceará ao lado de deputados da oposição, incluindo nomes do PL e do União Brasil. No encontro, chegou a afirmar que aceitaria "ir para o sacrifício" e disputar novamente o governo estadual. A fala, contudo, foi vista como uma provocação mais retórica do que uma candidatura real. Em entrevista coletiva posterior, Ciro declarou apoio a Roberto Cláudio como o nome mais viável do grupo para disputar o Palácio da Abolição.
Além disso, Ciro também anunciou apoio ao deputado bolsonarista Alcides Fernandes (PL) para o Senado. A chapa com Roberto Cláudio e Alcides deve contar ainda com a presença de um antigo adversário do PDT: o ex-deputado Capitão Wagner, que pode ocupar a vaga de vice ou disputar a segunda cadeira no Senado, numa composição que reforça o viés oposicionista do novo bloco.
Enquanto essas articulações ocorriam em Fortaleza, a bancada federal do PDT se reunia em Brasília, na residência do deputado Mário Heringer. Durante o encontro, Ciro Gomes telefonou para o deputado André Figueiredo, numa tentativa de manter um discurso de unidade com Lupi e selar uma posição oficial de oposição ao governo federal. O esforço, contudo, não surtiu efeito: os deputados preferiram adotar a neutralidade e se declararam independentes.
O PDT tem visto a força que tinha no Ceará minguar. Depois de fazer 67 prefeitos na eleição de 2020, dando sequência a um histórico de relevância no estado, o partido conquistou no ano passado apenas cinco municípios - nenhum deles com número expressivo de moradores.
O maior baque foi em Fortaleza, onde o ex-prefeito José Sarto (PDT) ficou em terceiro. Foi a primeira vez na história da cidade que um prefeito não conseguiu se reeleger.
Saída de Ciro é dada como certa
Nos bastidores do PDT, a saída do próprio Ciro Gomes é tratada como uma questão de tempo. Ele recebeu convites formais para se filiar ao União Brasil e ao PSDB, que atualmente negocia uma fusão com o Podemos. O ex-senador Tasso Jereissati é um dos principais entusiastas de sua ida para o ninho tucano.
Apesar do convite, há entraves regionais: no Ceará, o Podemos é comandado por Bismarck Maia, pai do atual secretário de Turismo do governo Elmano, Eduardo Bismarck.
Sob ressalvas, a cúpula pedetista já admite que a saída de Ciro pode até ser benéfica. A avaliação é de que a permanência do ex-ministro se tornou um entrave à renovação do partido, que pretende buscar novos nomes que aceitem disputar a Câmara dos Deputados.
Por outro lado, a movimentação dos aliados de Ciro já é criticada por integrantes da legenda. Parte dos dirigentes afirma que o grupo deveria permanecer no PDT, especialmente após o partido ter assumido posição ao lado de Ciro no racha com Cid Gomes, no final de 2023 - uma decisão que resultou na perda de 40 prefeitos e 18 deputados estaduais.
O rompimento entre os irmãos teve como ponto central a aliança com o PT. Enquanto Cid se reaproximou da base lulista e hoje é aliado do governo federal no Senado, Ciro manteve sua linha de oposição aberta, tanto em nível estadual quanto nacional.
O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/05/15/aliados-de-ciro-gomes-articulam-saida-do-pdt-que-ja-sofreu-debandada-do-grupo-de-cid.ghtml