O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes 31/08/2022 - Foto: Gabriel de Paiva/ Agência O Globo |
Aliados de Ciro Gomes articulam saída do PDT, que já sofreu debandada do grupo de Cid

Aliados de Ciro Gomes articulam saída do PDT, que já sofreu debandada do grupo de Cid

Ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio será o primeiro a trocar de partido; ex-presidenciável deve seguir o mesmo caminho a partir da segunda metade do ano


Por Luísa Marzullo - Rio de Janeiro

Pouco mais de um ano após sofrer uma significativa debandada liderada pelo senador Cid Gomes - que levou consigo a maior parte da bancada estadual do partido no Ceará -, o PDT vive agora um novo esvaziamento. Desta vez, a perda deve atingir diretamente o grupo político liderado pelo ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes, irmão de Cid.

O primeiro movimento concreto desse novo realinhamento será a saída do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, que deve se filiar ao União Brasil ainda em junho. Próximo de Ciro e nome recorrente nas articulações eleitorais do grupo, Roberto Cláudio abrirá caminho para outras desfiliações ao longo do segundo semestre.

A debandada ocorre em meio ao reposicionamento do grupo cirista no cenário político estadual. Aliados vêm se aproximando da oposição ao governador Elmano de Freitas (PT) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ampliando o afastamento iniciado ainda durante a campanha presidencial de 2022, quando Ciro se apresentou como adversário direto do petista.

Embora a bancada federal do PDT tenha adotado um discurso de independência em relação ao governo Lula após a saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência Social, no plano estadual o rompimento com o PT não se consumou, apesar das tentativas de Ciro.

Na semana passada, Ciro Gomes esteve na Assembleia Legislativa do Ceará ao lado de deputados da oposição, incluindo nomes do PL e do União Brasil. No encontro, chegou a afirmar que aceitaria "ir para o sacrifício" e disputar novamente o governo estadual. A fala, contudo, foi vista como uma provocação mais retórica do que uma candidatura real. Em entrevista coletiva posterior, Ciro declarou apoio a Roberto Cláudio como o nome mais viável do grupo para disputar o Palácio da Abolição.

Além disso, Ciro também anunciou apoio ao deputado bolsonarista Alcides Fernandes (PL) para o Senado. A chapa com Roberto Cláudio e Alcides deve contar ainda com a presença de um antigo adversário do PDT: o ex-deputado Capitão Wagner, que pode ocupar a vaga de vice ou disputar a segunda cadeira no Senado, numa composição que reforça o viés oposicionista do novo bloco.

Enquanto essas articulações ocorriam em Fortaleza, a bancada federal do PDT se reunia em Brasília, na residência do deputado Mário Heringer. Durante o encontro, Ciro Gomes telefonou para o deputado André Figueiredo, numa tentativa de manter um discurso de unidade com Lupi e selar uma posição oficial de oposição ao governo federal. O esforço, contudo, não surtiu efeito: os deputados preferiram adotar a neutralidade e se declararam independentes.

O PDT tem visto a força que tinha no Ceará minguar. Depois de fazer 67 prefeitos na eleição de 2020, dando sequência a um histórico de relevância no estado, o partido conquistou no ano passado apenas cinco municípios - nenhum deles com número expressivo de moradores.

O maior baque foi em Fortaleza, onde o ex-prefeito José Sarto (PDT) ficou em terceiro. Foi a primeira vez na história da cidade que um prefeito não conseguiu se reeleger.

Saída de Ciro é dada como certa


Nos bastidores do PDT, a saída do próprio Ciro Gomes é tratada como uma questão de tempo. Ele recebeu convites formais para se filiar ao União Brasil e ao PSDB, que atualmente negocia uma fusão com o Podemos. O ex-senador Tasso Jereissati é um dos principais entusiastas de sua ida para o ninho tucano.

Apesar do convite, há entraves regionais: no Ceará, o Podemos é comandado por Bismarck Maia, pai do atual secretário de Turismo do governo Elmano, Eduardo Bismarck.

Sob ressalvas, a cúpula pedetista já admite que a saída de Ciro pode até ser benéfica. A avaliação é de que a permanência do ex-ministro se tornou um entrave à renovação do partido, que pretende buscar novos nomes que aceitem disputar a Câmara dos Deputados.

Por outro lado, a movimentação dos aliados de Ciro já é criticada por integrantes da legenda. Parte dos dirigentes afirma que o grupo deveria permanecer no PDT, especialmente após o partido ter assumido posição ao lado de Ciro no racha com Cid Gomes, no final de 2023 - uma decisão que resultou na perda de 40 prefeitos e 18 deputados estaduais.

O rompimento entre os irmãos teve como ponto central a aliança com o PT. Enquanto Cid se reaproximou da base lulista e hoje é aliado do governo federal no Senado, Ciro manteve sua linha de oposição aberta, tanto em nível estadual quanto nacional.

O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/05/15/aliados-de-ciro-gomes-articulam-saida-do-pdt-que-ja-sofreu-debandada-do-grupo-de-cid.ghtml