O cardeal italiano Matteo Maria Zuppi (C) comparece à missa do Sexto Novemdiale na Basílica de São Pedro ao lado de outros cardeais, após o funeral do Papa e antes do conclave, no Vaticano, em 1º de maio de 2025 | Imagem: (Foto de Filippo MONTEFORTE / AFP) - (crédito: FILIPPO MONTEFORTE/AFP)
Conclave e o futuro da Igreja

Conclave e o futuro da Igreja

Quem entra papa, sai cardeal. Às vésperas do conclave, a máxima é lembrada pelos integrantes mais calejados do colégio cardinalício, o alto escalão da Igreja Católica que escolherá o Sumo Pontífice. Favoritos nas bolsas de apostas podem naufragar; e outros, sequer lembrados, se surpreender com os votos a seu favor.

Em resumo, o resultado da reunião na Capela Sistina, no Vaticano, que começa na quarta-feira, é mesmo uma "caixinha de surpresas", expressão que, com certeza, agradaria ao papa Francisco, admirador número 1 de futebol. Até sair a fumaça branca na chaminé indicando a eleição do novo pontífice e a multidão aglomerada na Praça de São Pedro ouvir o "Habemos Papam", tudo pode acontecer. Em segredo.

A duração do conclave se reveste de mistério. Várias vezes, a fumaça preta pode tingir o céu de Roma, mostrando que nada foi decidido. Como ninguém sabe o que ocorre entre as paredes da capela coberta pelos afrescos de Michelangelo, o destino vai depender mesmo da ação do Espírito Santo. Somente Ele, conforme a fé católica, ilumina e orienta a decisão dos presentes.

Entre os 133 cardeais que vão eleger o futuro ocupante do trono de São Pedro, há nomes bem cotados. Estão no topo da lista o filipino Luis Antonio Tagle, apelidado de "Francisco asiático", e o italiano Matteo Zuppi, próximo a movimentos sociais, ambos da linha progressista. Contrário a uniões homossexuais, ideologia de gênero e questões morais que atribui ao "colonialismo ideológico do Ocidente", se destaca o africano Robert Sarah, da Guiné. Também conservador, ganha atenção o húngaro Péter Erdó, teólogo de formação rigorosa.

No grupo daqueles considerados moderados, vistos como essenciais neste mundo polarizado para construção de pontes entre progressistas e conservadores, figuram o italiano Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, e o congolês Fridolin Ambongo Besungu, que já se mostrou contra a bênção a casais gays. Ele, a exemplo de cerca de 80% dos atuais integrantes do colégio cardinalício, foi escolhido por Francisco. Do Brasil, há sete cardeais com menos de 80 anos, que são eleitores e podem ser eleitos.

Em tempos tão midiáticos, as conversas nas ruas, nos bares e em locais de trabalho quase sempre incluem o conclave. O assunto está na boca do povo. E o cinema turbinou o tema com o filme (Conclave) ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado. Mas entre ficção e realidade, há oceanos de diferenças. É bom lembrar que, além de líder de 1,4 bilhão de católicos no mundo, o papa desempenha o papel de chefe de Estado, tem múltiplas responsabilidades. Portanto, a decisão final pode surpreender alguns dos participantes, e exigir uma resposta imediata, apontar a direção.

O próprio Francisco contou em seu livro Esperança, primeira autobiografia de um Sumo Pontífice, como foi pego de surpresa. E falou da sua reação: "Quando o meu nome foi pronunciado pela septuagésima vez, explodiu um aplauso, enquanto a leitura dos votos continuava. Não sei quantos foram exatamente no final, não conseguia ouvir mais nada, o barulho encobria a voz do escrutinador". A volta à realidade veio na voz do cardeal gaúcho dom Cláudio Hummes, que o lembrou: "Não se esqueça dos pobres". Francisco escreveu que a frase o marcou, sentiu na carne: "Foi ali que surgiu o nome Francisco".

Correio Braziliense
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