Costa: "O PT é plural, vai ter gente que discorda, mas isso não afasta o compromisso político do partido com o governo" - Foto: Gabriela Biló/Folhapress - 31/10/2024 |
Presidente do PT diz que decisão do STF favorece o governo

Presidente do PT diz que decisão do STF favorece o governo

Humberto Costa afirma que o PT teme enfrentar Tarcísio de Freitas em 2026, porque governador esvazia frente ampla pretendida

por Andrea Jubé e Caetano Tonet - De Brasília

O presidente nacional do PT, senador Humberto Costa (PE), disse ao Valor que a decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar réu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os outros sete acusados pela tentativa de golpe de Estado favorece o governo, o PT e, sobretudo, a democracia. Na mesma entrevista, ele afirmou que o PT receia enfrentar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na eleição presidencial de 2026 porque o mandatário teria perfil para atrair o centro político, esvaziando a frente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer ampliar em relação a 2022.

Sobre a eleição para a presidência do PT, programada para julho, Costa negou que haja veto ao nome do ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva, que tem apoio nos bastidores de Lula. Mas ponderou que além da benção do presidente, o postulante ao cargo precisa dialogar mais e fazer composições para construir uma maioria que lhe dê suporte para conduzir a legenda.

Em relação à decisão do STF que tornou réus Bolsonaro, quatro ex-ministros e mais três aliados, o presidente do PT avalia tratar-se de uma "situação crítica para a extrema-direita", mas não o suficiente para esvaziar esse campo político no país. "É uma situação de fragilização, principalmente porque Bolsonaro é a principal liderança da extrema-direita no Brasil", analisou o novo dirigente, que foi chancelado no cargo pelo diretório nacional na semana passada.

Mas Costa ponderou que a direita radical é forte, e que está "enraizada na população, com força dentro do Congresso Nacional". Por isso, argumentou que eventual prisão de Bolsonaro não acabará com esse braço da direita. "Vamos ter que dar de cara com eles, com outros nomes, com novas roupagens", admitiu.

O dirigente petista acrescentou, porém, que quem sai mais favorecido desse processo é a democracia brasileira. Para ele, "pegar essa turma será um símbolo de que, se ultrapassar o sinal, pode ir para a cadeia, passar um bocado de tempo lá".

Questionado se para o PT seria melhor enfrentar Jair Bolsonaro nas urnas em 2026, caso a inelegibilidade dele fosse revertida, ou Tarcísio de Freitas, como representante do bolsonarismo na disputa presidencial, Costa afirmou que os dois cenários são desafiadores, mas acha o governador paulista "mais perigoso".

"O Bolsonaro tem um grande desgaste, mas ele tem uma capacidade de mobilização que nenhum outro candidato tem", observou. O petista acrescentou, no entanto, que ao radicalizar em vários temas, o ex-presidente sofre com o aumento da rejeição, favorecendo o adversário.

Quanto a Tarcísio, Costa vê risco maior. "Falsamente, está sendo vendida a imagem de que ele é uma extrema-direita civilizada, e ele é perigoso por isso". O líder petista relembra que, assim como em 2022, o PT terá de aglutinar do centro para a esquerda. "Mas, se aparece uma figura que pode ser um pouco esse centro, é uma disputa pelo centro com o governo." Procurado por meio de sua assessoria, o governador não comentou.

Bolsonaro tem um grande desgaste, mas tem também uma grande capacidade de mobilização"
Sobre a eleição interna do PT, Costa minimizou a resistência de uma ala da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, à indicação de Edinho para presidir o partido.

"Primeiro, o partido não está contra a indicação do presidente Lula", afirmou. "Nós pensamos, e eu penso assim também, que se você tem um governo em que o presidente da República é um filiado do partido, é crucial que exista entre quem vai presidir o partido e o presidente uma relação de confiança", completou. "Uma relação que, em um período em que a gente está na oposição, talvez não fosse tão importante", ressaltou.

O dirigente petista afirmou que ter o apoio de Lula para presidir o PT deve ser levado "fortemente em consideração". Mas destacou que essa configuração não é suficiente para o candidato ter a legitimidade do conjunto partido, um requisito que, para ser alcançado, exige mais esforço de articulação.

"Vai do próprio candidato ou candidata procurar fazer internamente as composições, os entendimentos, para ele ter uma larga maioria que lhe dá suporte", argumentou. "Essa é a questão que está em jogo", completou.

Questionado se Edinho precisaria ampliar o diálogo com lideranças da CNB que ainda fazem oposição ao nome dele, Costa ponderou que não fará crítica a ninguém, individualmente. Mas fez uma observação direta: "Eu acho que da forma como esse caminho foi construído até agora não contempla esse segundo aspecto".

Apesar do embate interno, que mira cargos na Executiva Nacional, como a Secretaria de Finanças, Costa salientou que não há divergências políticas relevantes no PT. Questionado sobre críticas de petistas à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ele minimizou. "O PT é plural, nesse meio, vai ter gente que discorda de muitos aspectos do governo ou da gestão do partido, mas isso não afasta o compromisso político do partido com o governo e com o mandato de Lula", concluiu.

Valor
https://valor.globo.com/politica/noticia/2025/03/27/presidente-do-pt-diz-que-decisao-do-stf-favorece-o-governo.ghtml