Prestes a entrar em recuperação judicial, clube paulistano luta para evitar a falência
Por Sérgio Quintella
Fundado em 14 de março de 1875 com o nome de Club de Corridas Paulistano, o Jockey Club de São Paulo passou por diversas mudanças em seus 150 anos de história. A principal delas ocorreu em 1941, quando o Hipódromo da Mooca, localizado na Rua Bresser, foi desativado. A partir desse ano, as disputadas corridas de cavalo passaram ser realizadas na então praticamente desabitada Cidade Jardim, às margens do Rio Pinheiros, onde o Jockey permanece até hoje.
Porém, ao contrário de outras épocas em que o espaço se firmou como um dos principais redutos da elite paulistana (chegou a ter 9 000 sócios, ante os 370 atuais), a trajetória do icônico clube corre o risco de chegar ao fim da linha. Com dívidas que podem atingir 500 milhões de reais, o Jockey deve entrar com um pedido de recuperação judicial nas próximas semanas, enquanto briga com credores públicos e privados para não perder seus últimos imóveis, incluindo o espaço de 600 000 metros quadrados da Marginal Pinheiros e outro terreno que também abriga um hipódromo, com a metade desse tamanho, em Campinas.

Corrida realizada no último dia 8, público que acompanhou o evento (Roberto Setton/Veja SP)
Em outra frente, em 2023, a Câmara Municipal aprovou, na revisão do Plano Diretor, a proposta que declara o terreno da Cidade Jardim como de utilidade pública, para ser transformado em parque, mas a desapropriação depende de uma regulamentação da prefeitura que está parada. "Para fazerem uma desapropriação, por quanto você imagina que seria a avaliação do terreno? Quanto a prefeitura estaria disposta a pagar para ter a posse de uma área de 600 000 metros quadrados?", questiona o conselheiro Anibal Massaini Neto. "É uma região fartamente dotada de parques, como o Villa-Lobos e o Parque do Povo. Há regiões mais carentes de parques do que essa."

Piscina do clube para os 370 sócios, que pagam 540 reais de mensalidade (Roberto Setton/Veja SP)
Outro fator que deixou o Jockey vulnerável financeiramente foi a redução dos eventos de terceiros realizados em seus espaços. Sem uso, vários deles se deterioraram, sobretudo a partir da pandemia, e precisam passar por grandes restauros. Para poder fazer as obras nos locais, tombados por Condephaat e Conpresp, a diretoria atual anunciou um plano de restauração, avaliado em 400 milhões de reais, cujos recursos deverão ser obtidos por meio de leis de incentivos fiscais. "Os recursos entram devagar, é tudo muito caro, mas já conseguimos restaurar a entrada principal, os salões e a primeira arquibancada", afirma Marcelo Motta, presidente do Jockey Club. "A próxima etapa será a segunda arquibancada (são três) e um salão embaixo dela que usaremos para realizar eventos."
Além dos restauros e das contendas jurídicas, Motta, que também briga na Justiça para receber 200 milhões de reais da prefeitura pela desapropriação do terreno da Chácara do Jockey, na Vila Sônia, ocorrida em 2014, prevê a realização de parcerias com outros clubes paulistanos para que seus espaços ociosos sejam utilizados por eles. A ideia prevê a construção de campos de futebol e quadras de tênis, entre outros equipamentos. Outra possibilidade é a cessão de áreas para associações hípicas realizarem treinos em suas dependências.
Com um século e meio, o icônico Jockey Club de São Paulo mantém 183 funcionários, que custam 608 000 reais por mês, pagos com os cerca de 3 milhões de reais obtidos com as apostas esportivas e serviços correlatos. O montante é insuficiente para bancar uma estrutura do tamanho da atual, sobretudo pelas dívidas, milionárias e sucessivas. Por isso, o iminente processo de recuperação judicial pode ser o último páreo para o antigo Hipódromo da Mooca, na tentativa de evitar sua falência.
Publicado em VEJA São Paulo de 14 de março de 2025, edição nº 2935
https://vejasp.abril.com.br/cidades/jockey-club-dividas-recuperacao-judicial-150-anos-restauro/