Imagem: Ricardo Stuckert
Bronca, foco na comunicação e embate com o bolsonarismo: saiba tudo sobre a primeira reunião ministerial de Lula no ano

Bronca, foco na comunicação e embate com o bolsonarismo: saiba tudo sobre a primeira reunião ministerial de Lula no ano

Presidente fez uma série de cobranças aos subordinados e disse que precisa estar bem de saúde para disputar a reeleição


Por Jeniffer Gularte, Renata Agostini e Karolini Bandeira - Brasília

Na primeira reunião ministerial de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou aos integrantes do primeiro escalão o que já indicava reservadamente: o governo trabalha de olho no próximo pleito e na disputa contra a direita e o bolsonarismo. O petista fez uma série de cobranças aos subordinados e pontuou a necessidade de melhora na comunicação. Lula também disse, segundo quatro pessoas presentes à reunião, que precisa estar bem de saúde para disputar a reeleição e afirmou ainda que Deus decidiria o seu futuro, o que surpreendeu integrantes do governo.

Com o objetivo de elevar os índices de popularidade e fortalecer o governo, o presidente nomeou na semana passada o marqueteiro de sua campanha em 2022, Sidônio Palmeira, na Secretaria de Comunicação Social (Secom).

- O que eu quero dizer para vocês é que 2026 já começou. - disse Lula: - Pelos adversários, a eleição já começou. É só ver o que vocês assistem na internet para vocês perceberem que eles já estão em campanha. E nós não podemos antecipar a campanha porque nós temos que trabalhar.

Portaria da 'confusão'


Lula admitiu que o governo não entregou "tudo o que foi prometido para o povo" e que, após a crise do Pix, os ministérios não poderão fazer "uma portaria que depois crie confusão". Ele se referia à norma da Receita Federal, revogada após a oposição explorar o tema, que aumentava o monitoramento de transações financeiras.

A nova regra também serviu para a disseminação de notícias falsas sobre uma inexistente taxação do Pix.


Reunião Ministerial na Granja do Torto - Presidente Lula se reuniu com os ministros para traçar diretrizes para a segunda metade do governo (2025 e 2026) - Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

- Daqui para frente, nenhum ministro vai poder fazer uma portaria que depois crie confusão para nós sem que passe pela Presidência através da Casa Civil. Muitas vezes a gente pensa que não é nada, faz uma portaria qualquer e depois arrebenta e cai na Presidência da República - comentou Lula.

Preocupado com a aprovação do governo, o presidente encerrou a reunião com um pedido para que seu time esteja mais próximo da população ao longo deste ano. Ele determinou a seus auxiliares que participem mais de eventos, atos públicos e inaugurações e ajudem, assim, o governo a dar visibilidade às ações federais.

Segundo dois ministros presentes ouvidos sob reserva, Lula enfatizou que sua equipe deve "sair às ruas" e que, em 2025, a lógica tem de ser "mais rua e menos Palácio".

O presidente relembrou momentos difíceis pelos quais passou. Lula precisou ser submetido a uma cirurgia de emergência em dezembro para drenar um hematoma na cabeça. Isso ocorreu porque, dois meses antes, sofreu uma queda após se desequilibrar em um banco no banheiro do Palácio da Alvorada.


Lula disse aos ministros que, no final do ano passado, poderia ter morrido ou ficado em coma se não fizesse uma cirurgia às pressas em São Paulo. Ele ressaltou, porém, estar bem de saúde.

Durante a sua fala, Lula citou ainda o temor que sentiu durante um problema técnico no avião presidencial, no México, quando a aeronave oficial voou em círculos durante quatro horas e teve que retornar ao aeroporto da capital mexicana. O presidente afirmou que não imaginava que presenciaria episódios como esses em que esteve próximo da morte.

Ao refletir sobre o seu futuro, Lula disse ainda que vai chamar os ministros de partidos aliados para conversar sobre as alianças políticas em 2026. O presidente também citou que o governo precisa estar forte para ele ser candidato e ter boa margem para disputar o pleito presidencial.

Lula disse ainda que não havia mais necessidade de usar o chapéu panamá, item escolhido nas últimas semanas para cobrir os curativos na cabeça. Também ressaltou que deverá ele mesmo retomar as viagens em breve.

Ao longo da reunião, que durou mais de sete horas, Lula voltou a reclamar da inflação de alimentos, reforçando comentário feito por ele na abertura dos trabalhos. Ele disse que "não é possível" nada poder ser feito e pediu uma solução aos ministros, dizendo que não se trata de "tabelar preços".

- Agora será reconstrução, união e alimentos baratos na mesa do trabalhador. Porque os alimentos estão caros, todo ministro sabe que o alimento está caro. E é uma tarefa nossa fazer com que os alimentos cheguem baratos à mesa do trabalhador - disse Lula.

O presidente não fez menção direta à esperada reforma ministerial, mas enfatizou que espera ter os partidos aliados mais próximos. Ao todo, o petista já promoveu sete alterações no time escalado inicialmente.

Integrantes da articulação política do Planalto dizem que as eventuais mudanças nos ministérios visam, além de ter uma base menos frágil para aprovar projetos e propostas no Congresso, o apoio do maior número possível de partidos em 2026.

Sidônio: plano de 90 dias


Durante a reunião, Sidônio apresentou um plano de 90 dias para o Executivo colocar em prática e centralizar a divulgação de ações.

O ministro destacou a importância de alinhamento entre os ministérios e disse que as realizações mais abrangentes devem ser vocalizadas por Lula . Sidônio também orientou os ministros a fazerem comparações de suas áreas com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. A ideia é mostrar como encontraram a pasta e o que estão fazendo agora.

A comparação entre os governos Lula e Bolsonaro será um dos principais motes adotados pela política de comunicação de Sidônio.

Um dos últimos a falar, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, falou da importância do governo encampar o PEC dos Militares. O texto que prevê que integrantes das Forças Armadas que se candidatem a cargos eletivos não retornem mais à caserna após a campanha. O ministro citou que o "vai e volta" de militares para o ambiente político e para dentro dos quartéis atrapalha o funcionamento das Forças e que muitos militares da ativa são favoráveis ao texto. O ministro defendeu que a regra deve valer para 2026.

Os recados de Lula na abertura da primeira reunião ministerial do ano


  • '2026 começou': O presidente disse que "2025 é o grande ano da colheita" e que "2026 já começou", em referência às próximas eleições. "Pelos adversários, a eleição já começou. É só ver o que vocês assistem na internet para perceberem que eles já estão em campanha. E nós não podemos antecipar a campanha porque nós temos que trabalhar", afirmou.

  • Falta de entregas: Lula abriu a reunião admitindo que o governo não entregou "tudo o que foi prometido para o povo" na campanha eleitoral de 2022. Orientou os ministros a não "inventarem" mais nada e disse que o governo não tem o direito de errar. Em meio às discussões sobre reforma ministerial, também apontou que chamará ministros para conversas individuais.

  • Preço dos alimentos: Lula cobrou que ministros tenham ações para baixar preços dos alimentos e sinalizou que esse será um dos motes da gestão em 2025. O cenário atual eleva a sensação de que o governo "dá com uma mão e tira com a outra": enquanto a massa salarial cresceu e o país vive pleno emprego, o dinheiro rende menos no supermercado.

  • Empreendedores: Setor que tem resistência ao governo, empreendedores e autônomos foram citados por Lula, que pediu que ministros "aprendam a trabalhar com essa nova característica" da população: "É importante que a gente compreenda que o povo hoje não é o povo dos anos 1980, não é o povo que queria apenas ter emprego numa fábrica com carteira assinada".

  • Bronca na Fazenda: Lula afirmou que "nenhum ministro" vai poder fazer portaria sem antes passar pela Casa Civil. A fala foi em referência à crise do Pix, gerada por uma instrução normativa da Receita Federal. A fala de Lula é uma crítica direta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que comanda a pasta à qual a Receita está subordinada.

  • Torcida por Trump: Aos ministros, Lula comentou ainda que torce pelo sucesso da nova gestão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tomou posse ontem. O petista disse que espera manter uma boa relação com o país, a despeito do elo entre Trump e o bolsonarismo, assim como espera paz com a Venezuela, Rússia, China e Índia.

O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/01/21/bronca-foco-na-comunicacao-e-embate-com-o-bolsonarismo-saiba-tudo-sobre-a-primeira-reuniao-ministerial-de-lula-no-ano.ghtml