O presidente da FUP, Deyvid Bacelar, e a CEO da Petrobras, Magda Chambriard | Imagem: Fotos de Bruno Spada/Câmara dos Deputados e Leo Pinheiro/Valor
Federação dos petroleiros amplia poder na estrutura da Petrobras sob Magda Chambriard

Federação dos petroleiros amplia poder na estrutura da Petrobras sob Magda Chambriard

Por Malu Gaspar

A chegada de Magda Chambriard ao comando da Petrobras abriu espaço para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), entidade sindical que já detinha várias indicações para cargos importantes na gestão de Jean Paul Prates, ampliar mais ainda sua influência na companhia.

Até a própria Magda, que fez uma aliança com a FUP para garantir a sua indicação pelo presidente Lula e vem trocando executivos para colocar mais apadrinhados da federação em posições estratégicas, já começa a demonstrar incômodo com o "expansionismo" dos sindicalistas sobre a estrutura da companhia.

Um dos focos desse "expansionismo" é a Diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade, hoje ocupada por Maurício Tolmasquim. Depois de meses tentando tirar do cargo os gerentes-executivos de Energia Renovável, Daniel Pedroso, e de Gestão Integrada de Transição Energética, Cristiano Levone, a FUP conseguiu derrubá-los.

Em postagens e vídeos nas redes sociais, o presidente da entidade, Deyvid Bacelar, pediu a saída de Pedroso, por ele ter participado das tratativas da venda da refinaria Landulpho Alves, na Bahia, para o fundo soberano dos Emirados Árabes. E aproveitou para fustigar Tolmasquim, a quem pedia para "abrir o olho" e "tirar esse cara do seu lado."

Para o lugar de Pedroso vai Rodrigo Leão, que foi assessor de Jean Paul Prates e presidente da Petrobras Bioenergia, e para o lugar de Levone vai William Nozacki, assessor de Aloizio Mercadante no BNDES. Os dois nomes foram chancelados pela FUP.

Mas mesmo tendo feito um acordo com a FUP para se viabilizar no cargo logo no início do governo, Prates manteve tanto Tolmasquim quanto Pedroso e Levone como seus gerentes. Nesta troca de CEOs, Magda Chambriard também se juntou à FUP, mas desta vez abriu mais espaço para a entidade.

Entre o anúncio de sua escolha e a posse de fato, inclusive, Magda cogitou tirar Tolmasquim da diretoria. Mas ele também se movimentou nos bastidores e chegou inclusive a fazer uma reunião com o ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, na Base Aérea do Galeão, para discutir o assunto.

Tolmasquim acabou ficando, mas seus auxiliares diretos perderam os postos.

Quem continuou firme, porém, foi Danilo Ferreira da Silva, que era chefe de gabinete de Prates e continuou na mesma posição com Magda. Chamado internamente de "primeiro-ministro", em razão do poder que detém, Danilo é apresentado no site da FUP como representante do "projeto político" da entidade.

É ele quem controla todas as indicações políticas feitas na empresa, dos conselhos em que a Petrobras tem cadeiras a gerências e até dirigentes de unidades locais. Danilo tem interlocução direta com o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e o da Casa Civil, Rui Costa.

É justamente o domínio de Danilo sobre esse mapa de indicações que vem incomodando Magda, que pediu para revisar todas elas nos últimos dias.

Não se espera, porém, que a CEO vá se opor aos planos da FUP para a Petrobras. Pelo contrário. Ela tem dado sinais de que a aliança é para valer. Tanto que convidou Bacelar, o presidente da entidade, para discursar em sua cerimônia de posse, logo depois dela mesma e antes dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Silveira e do próprio presidente Lula.

Fertilizantes

Na ocasião, Bacelar comemorou a decisão de reativar a fábrica de fertilizantes de Araucária, no Paraná - reivindicada desde a posse de Lula pelos sindicalistas e pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, mas rejeitada pelos técnicos em razão dos constantes prejuízos que levaram ao seu fechamento em 2020.

"Já começando bem a presidenta Magda, temos aí um processo de reabertura da fabrica de nitrogenados, no Paraná", afirmou, sob aplausos de um grupo de cerca de 30 pessoas usando o característico jaleco laranja da entidade que estava acomodado no auditório.

Internamente, a reabertura da fábrica foi defendida pelo diretor de processos industriais e produtos, William França, mais um dos indicados pela FUP. Mas a divisão na reunião de diretoria que aprovou a reativação da fábrica por 5 votos a 4, conforme informou o colunista Lauro Jardim, mostra que ainda há bastante tensão interna entre a FUP e as alas mais técnicas da empresa.

Procurado, o presidente da FUP, Deyvid Bacelar, defendeu alterações na composição da Diretoria de Transição Energética.

"A FUP vem cobrando mudanças há algum tempo porque as pessoas que estavam abaixo do diretor Tolmasquim não estavam contribuindo para cumprir o programa de governo do presidente Lula, o qual a FUP ajudou a construir e que foi aprovado pela população nas urnas. As mudanças que virão precisam colocar pessoas que de fato ajudem nessa direção, pois até agora a Diretoria de Transição Energética não mostrou para o que veio", disparou Bacelar.

"A presidente Magda Chambriard se mostra alinhada com a agenda de governo do presidente Lula, com ênfase na transição energética justa, na volta da Petrobrás ao setor de fertilizantes - tendo a reabertura da Ansa, a fábrica do Paraná, [sido] o primeiro passo para isso -, a retomada do setor naval, entre outros compromissos do governo apoiados pela FUP", completou.

A FUP sempre foi próxima do PT, partido de Lula, mas a proximidade com o presidente aumentou ainda mais durante o período em que o presidente ficou preso em Curitiba em razão dos processos da Lava-Jato. A entidade fez campanhas pela libertação dele e organizou caravanas para dar bom dia a ele do lado de fora da prisão. Também realizou atos em favor do petista na campanha de 2022. Agora, tem sido recompensada com mais e mais poder.

O Globo
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