"Tár"- Idem, Estados Unidos, 2022 Direção: Todd Field |
''Tár'', um papel à altura de Cate Blanchett, por Eleonora Rosset

''Tár'', um papel à altura de Cate Blanchett, por Eleonora Rosset

Atriz australiana, ganhadora de dois Oscar, disputa a terceira estatueta por seu papel da regente da Filarmônica de Berlim

Como num programa de concerto, o filme começa com os créditos. Enorme lista com fundo negro.

Com isso, o diretor e roteirista, Todd Field, empurra o espectador que costuma sair da sala apressado, a ficar sentado, olhando os créditos.

E quando tudo começa e ela aparece, sentimos que Lydia Tár só podia ser interpretada por Cate Blanchett. Todd Field escreveu o filme para ela.

A melhor interpretação, ou uma das melhores da atriz, vai empolgar quem presta atenção em maestros regendo orquestras. A personalidade de cada um muda a maneira dos músicos tocarem.

Tár é a única mulher regente principal da Filarmônica de Berlim. Seus colegas a chamam de "maestro". Ela acha ridículo colocar esse título no feminino. Para chegar onde está agora, ela teve que estudar e treinar, deixar-se ir com a música, que é a dona do palco onde LydiaTár tem um lugar privilegiado.

Seu objetivo agora é gravar todas as sinfonias de Mahler. Está trabalhando a 5ª, a mais importante, com a orquestra. Ver a movimentação de Tár, corpo, cabelos e braços, é ver uma bela coreografia que traz ainda mais emoção para os músicos e a plateia.

O "Adagietto" da 5ª é mostrado no ensaio. Tár comanda os músicos a interpretar pensando numa canção de amor composta para Alma, um novo amor de Mahler. A música nos arrepia, faz sorrir e chorar.

Tár é brilhante, apaixonada. Sua vida é a música.

Se bem que maliciosos comentam suas conquistas femininas. Ela é lésbica e é casada com a primeiro violino da orquestra (Nina Hoss), com quem partilha a adoção de uma menina pequena, Petra.

Tár vive uma vida luxuosa. Jatinhos a levam para todos os lugares onde vai trabalhar. Mora num amplo apartamento decorado com um gosto minimalista, onde trona um enorme piano e prateleiras cheias de livros.

Ela também é compositora. Mas está com dificuldades numa peça. Seus demônios e anjos internos estão em conflito e ela está sem paciência e estressada.

Sua assistente (Noémie Merlant), candidata a maestro, trata Tár com cerimonia mas ela não se mostra nem um pouco agradecida. Uma fã a segue de forma irritante e sai do cenário deixando rastros perigosos.

A nova violoncelista, russa e jovem, é a escolhida por Tár para o solo do concerto de Elgar. A mais antiga fica sentida. Há sempre um quê de sadismo que é a sua marca nessas relações.

Cuidado. Sabemos ou precisamos saber, que quando alguém chega ao pico da montanha de seus sonhos, o ar rarefeito tem o poder de acordar a parte mais invejosa da pessoa, que ataca de dentro. Puxa o tapete e a vitória leva um tombo.

Lydia vai ter que refazer a escalada de seu Evereste. Terá tempo para rever seus passos e quem sabe recuperar-se.

O filme é excelente e está na lista dos indicados a seis Oscar, inclusive o de melhor filme e o de melhor atriz para Cate Blanchett, que já tem dois.

(O trailer está no meu blog www.eleonorarosset.com.br)