''Três Cristos'', uma realidade do tratamento psiquiátrico, por Eleonora Rosset

''Três Cristos'', uma realidade do tratamento psiquiátrico, por Eleonora Rosset

Esse filme mostra como é difícil o tratamento de pacientes graves só com boa vontade

Nos anos 50 do século passado, os hospitais psiquiátricos tratavam os pacientes graves com eletrochoque, coma induzida por insulina, lobotomia frontal, litium e quase nenhuma terapia.

O filme conta uma história real vivida pelo dr. Milton Rokeach (Richard Gere no filme), psicólogo social.

Ele escreveu e publicou no livro "Os Três Cristos de Ypsilanti" sua experiência com três pacientes diagnosticados como esquizofênicos paranóides, vivendo numa instituição em Michigan.

Em sua proposta, nada de tratamentos tradicionais. Ele isolou os três pacientes e iniciou uma terapia centrada em conversas com os pacientes entre si e com ele, sempre acompanhado de sua assistente (Charlotte Hope), que tomava notas das conversas.

Isso aconteceu no final dos anos 50, início dos anos 60, quando movimentos a favor da abertura de hospitais psiquiátricos estavam na moda na Europa. Alguns abriram e o resultado foi o abandono dos doentes graves por suas famílias. O que era ruim, ficou pior para os doentes.

No filme, Richard Gere é o dr. Alan Stone, que faz a terapia que ele entende que fará bem aos pacientes. Não há nenhum método nem teoria para ele, que parece que nunca fez terapia na vida e, portanto, vai se envolver de forma caótica com o grupo.

Lá pelas tantas, o filme sugere que a mulher do dr. Stone é alcoolatra e faz aparições no hospital, com ciúmes da assistente do marido.

Bem, o mais grave é a mentira nas cartas que os pacientes pensam que mandam para o dr. Stone e para o diretor do hospital e que são respondidas pela assistente com sugestões de como devem se comportar.

O ambiente criado está longe de ser terapêutico.

Assim, Leon (Walton Goggins), quer ser chamado de "Deus". Joseph (Peter Dinklage), diz que é "Jesus Cristo de Nazaré". E Clyde (Bradley Witford) acredita que é "Cristo", mas não de Nazaré. A assistente do dr. Stone é tratada pelos "Cristos" como "Deusa", objeto de desejo.

O dr. Stone escreveu um artigo na revista "Psychology Today" e foi a capa da edição.

Infelizmente, mas como era de se esperar, não houve nenhum avanço na saúde mental dos "Cristos" nesse tipo de condução da "terapia" do dr. Stone, que foi demitido do hospital quando ocorreu uma tragédia.

A verdade é que o dr Rokeach usou dos três "Cristos" para experimentar uma hipótese sem nenhum amparo científico.

Hoje em dia psiquiatras formados em medicina medicam pacientes esquizofrênicos para evitar surtos e alguns deles vivem uma vida melhor. Sabemos que tais pacientes reagem bem a ambientes acolhedores mas ainda não podemos falar em cura.

Moral da história: Boa vontade às vezes, faz mais mal do que bem.

( O trailer está no meu blog: www.eleonorarosset.com.br)