"Jane Eyre" - Idem, Reino Unido, Estados Unidos, 2011 Direção: Cary Joji Fukunaga, Netflix |
''Jane Eyre'', um marco do feminismo, por Eleonora Rosset

''Jane Eyre'', um marco do feminismo, por Eleonora Rosset

Adaptação de um clássico da literatura inglesa, este filme também é um marco do feminismo. Não só pela personagem mas também pela autora, Charlotte Bronte, que só depois que até a rainha Victoria gostou, pode publicar o livro com seu próprio nome. Na primeira edição ela teve que adotar um pseudônimo masculino

A imagem é bela mas de uma beleza árida. O vento e o frio tornam as pedras, molhadas pela chuva, escorregadias. O que faz aquela mocinha com ar perdido, molhada e cansada, naquele lugar deserto?

Assim começa o filme, a mais nova adaptação de 2011 para o cinema, do romance "Jane Eyre" de Charlotte Bronte (1816-1855), publicado em 1847. Em longos flashbacks vamos entendendo o que aconteceu com a heroína da história. Será contado o destino daquela mulher jovem, valente, que enfrentou com firmeza obstáculos quase intransponíveis em sua vida.

Orfã e criança, ela vai morar com a tia que não a tolerava e a envia para um internato de freiras severas, um lugar escuro e amedrontador. A disciplina e o silêncio eram a regra, bem como as orações na capela. As meninas não eram bem alimentadas e o castigo pelas falhas eram aplicados com rigor. Jane não tinha férias com a família como as outras alunas já que a tia não queria vê-la.

Acostumada ao sofrimento, que aguentava com estoicismo, foi com prazer que ela aceitou o cargo de governanta e professora de uma menina, Adele Varens (Romy Settbon Moore), em um castelo longínquo, Thornfield. A menina era uma criança encantadora que se apegou a Jane com facilidade. Era inteligente e tão ávida de afeto como sua professora.

O enorme castelo era então habitado só por mulheres porque o dono aparecia raramente. A governanta da casa (Judi Dench) era simpática e acolhedora e mantinha sempre tudo em ordem. Se o dono de tudo chegasse sem aviso, tudo tinha que estar perfeito.

Jane estava feliz alí mas havia no ar algo estranho, que Jane sentia, mas não sabia o que era.

E na primeira visita do patrão ao castelo uma coisa ficou bastante clara. Ele era distante e calado.

O romance escrito por Charlotte Bronte fez muito sucesso na Inglaterra, agradando até mesmo à rainha Victória. Mas, até então, o livro só tinha sido publicado com pseudônimo masculino. Com a aprovação geral, a verdadeira autora assumiu seu romance.

Não podemos nos esquecer que o lugar da mulher no século 19 era ainda a casa e os afazeres com os filhos. Daí a autora poder ser considerada uma das primeiras mulheres feministas, já que sua personagem, Jane Eyre, era uma mulher, que mesmo sozinha no mundo, soube direcionar sua vida.

A liberdade para viver a própria vida e tomar decisões por si mesma, seria um sentimento que as mulheres admiravam já há algum tempo. A personagem e a sua autora tornaram-se modelo para a mulher que queria ser dona de seus projetos de vida.

O filme foi rodado numa bela região, com as estações bem marcadas. Neve abundante, flores no jardim e frutos no outono, são as diferentes faces da natureza que cercava o castelo.

A produção de arte é esmerada nos mínimos detalhes e os figurinos austeros mas elegantes.

Mia Wasikowska está perfeita no papel que não admite frivolidades em Jane, mostrando uma beleza pura, porém sem esconder o desejo de viver uma paixão. Michael Fassbender mostra seu lado sedutor, ao mesmo tempo contido e ardoroso.

Um belo filme.

(O trailer está no meu blog: www.eleonorarosset.com.br )