Uma das últimas remanescentes da primeira geração de atrizes da dramaturgia contemporânea no país, da qual fizeram parte Cacilda Becker, Tônia Carrero, Maria Della Costa, Odete Lara, Ilka Soares e Eliane Lage (atualmente com 94 anos), a carioca Maria Fernanda morreu na Casa de Saúde São José no último sábado, no Rio de Janeiro, aos 96 anos.
Segundo o hospital onde estava internada, Maria Fernanda morreu em decorrência de uma pneumonia bacteriana. Viúva, ela deixou um único filho, Luiz Heitor Fernando Meireles Gallão, fruto de seu primeiro casamento com o diretor de TV Luiz Gallon. De seu segundo casamento, com o pintor e escritor Oscar Araripe, não teve filhos.
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Batizada Maria Fernanda Meirelles Correia Dias, a atriz nasceu no Rio de Janeiro em 25 em outubro de 1925. Era uma das três filhas da poetisa Cecília Meireles, todas Marias (Maria Mathilde e Maria Elvira, já são falecidas) com o pintor português Fernando Correia Dias, que se suicidou quando ela tinha 10 anos de idade.
Na televisão, interpretou personagens marcantes em novelas como "E o Vento Levou" (1956), da Tupi; "Gabriela" (1975) e "Pai Herói" (1979), da Globo; e Dona Beja (1986), da TV Manchete. No cinema, participou de mais de 20 produções, entre elas "Carlota Joaquina, Princesa do Brazil", no qual interpretou a Rainha D. Maria I, a louca.
Mas foi no teatro que Maria Fernanda se consagrou artisticamente - interpretou Ofélia na primeira montagem brasileira da peça "Hamlet"; ganhou todos os prêmios teatrais do país pela icônica personagem Blanche DuBois, de "Um Bonde Chamado Desejo", e por anos foi jurada teatral do Prêmio Shell.
"Um Bonde chamado Desejo", ficou em cartaz por quase 10 anos e rendeu a Maria Fernanda os principais prêmios teatrais da época, incluindo o primeiro Moliére de Melhor Atriz (1963). Sua interpretação se tornou tão célebre que chegou a ser assistida pela própria Vivien Leigh, vencedora do Oscar (1952) pelo mesmo papel, por ocasião da visita da atriz ao Brasil.
Também a intérprete de Scarlet O'Hara em "E o Vento Levou" e ganhadora do Oscar pelo trabalho em "Um Bonde Chamado Desejo", Vivian Leigh chegou a visitar Cecilia Meirelles no hospital, acompanhando Maria Fernanda. Restabelecida, a escritora não esqueceu da gentileza e fez um poema para a atriz britânica, nascida na Índia e que se consagrou em Hollywood.
Maria Fernanda iniciou a carreira artística em 1948, interpretando a personagem Ofélia, na primeira montagem de "Hamlet" feita no Brasil, ao lado de atores como Sergio Cardoso e Sergio Britto. Logo depois, se mudou para a Europa para estudar artes cênicas.
Os últimos trabalhos de Maria Fernanda como atriz foram em 2004, na peça "A Importância de Ser Fiel", do Grupo TAPA; e em 2015, no filme "O Quinze" (2005), baseado na obra de Rachel de Queiroz. A partir daí, resolveu se aposentar em definitivo dos palcos e das telas do cinema e da TV.