O cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, morreu na manhã desta segunda-feira, dia 4, na capital paulista. A informação foi divulgada pela Arquidiocese de São Paulo, em nota assinada pelo cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.

"Comunico, com grande pesar, o falecimento do Eminentíssimo Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo emérito de São Paulo e Prefeito emérito da Congregação para o Clero, no dia de hoje, com a idade de 88 anos incompletos, após prolongada enfermidade, que suportou com paciência e fé em Deus", escreveu Dom Odilo. "Convido todos a elevarem preces a Deus em agradecimento pela vida operosa do falecido Cardeal Hummes e de sufrágio em seu favor, para que Deus o acolha e lhe dê a vida eterna, como creu e esperou", diz a nota do Cardeal da Arquidiocese de São Paulo.

Nascido em Salvador do Sul (RS), em 8 de agosto de 1934, Dom Cláudio Hummes entrou na vida religiosa da Ordem Franciscana dos Frades Menores, e recebeu a ordenação sacerdotal em 3 de agosto de 1958 e a ordenação episcopal em 25 de maio de 1975.

Foi bispo diocesano de Santo André (SP), Arcebispo de Fortaleza e Arcebispo de São Paulo. Foi feito membro do Colégio Cardinalício pelo Papa São João Paulo II no Consistório de 21 de fevereiro de 2001. De 2006 a 2011, trabalhou ao lado do Papa Bento XVI em Roma, como Prefeito da Congregação para o Clero. De volta ao Brasil, ocupou a função de Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e da recém criada Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).

Ocupando esse e outros cargos importantes na CNBB entre as décadas de 1960 e 1970, Dom Cláudio Hummes acabou sendo ordenado bispo de Santo André, no ABC Paulista, em plena efervescência do movimento sindical. Foi quando o jovem padre passou a entrar em contato com operários da região, que tentavam se organizar em desafio às limitações impostas pela ditadura militar.

Oferecendo espaços da Diocese de Santo André para que os trabalhadores pudessem se reunir, o bispo se tornou amigo do metalúrgico e futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de se aproximar da Teologia da Libertação, corrente de pensamento que defendia a união entre fé e compromisso social e político.

Já na década de 2000, chegou a ser apontado como um dos principais "candidatos a papa" do primeiro conclave do século 21, aquele que se seguiu à morte de João Paulo II em 2005, e que elegeu o cardeal alemão Joseph Ratzinger. Por conta de seu alto prestígio no Vaticano, entre 2006 e 2011 ele trabalhou ao lado do próprio Papa Bento XVI em Roma, como Prefeito da Congregação para o Clero.

Com a aposentadoria de Bento XVI, que se tornou "papa emérito", o cardeal brasileiro acabou se envolvendo em um episódio como o inspirador de um dos nomes papais mais surpreendentes da história da Igreja Católica, o escolhido pelo argentino Jorge Mario Bergoglio, em 2013.

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Dom Cláudio Hummes recontou a história da seguinte maneira ao jornal italiano La Stampa: "Os votos convergiam para ele (Bergoglio). Ele estava muito introspectivo, silencioso. Quando as coisas começaram a ficar um pouco mais perigosas para ele, eu o confortei. Depois, houve o voto definitivo e começou um grande aplauso. Eu logo o abracei e beijei. E lhe disse aquela frase, 'Não se esqueça dos pobres'. Eu não tinha preparado nada, mas naquele momento me veio do coração, com força, dizer-lhe isso."

Foi dessa maneira que o cardeal brasileiro ajudou o novo papa a escolher o nome Francisco, em homenagem ao "santo dos pobres" São Francisco de Assis, na primeira vez que um pontífice se arriscou a usar essa designação. Lembrar-se dos pobres e de São Francisco foi algo extremamente natural vindo de um membro da ordem franciscana (fundada pelo santo de Assis), como era o caso de Dom Claudio Hummes.

O corpo do arcebispo emérito de São Paulo será velado na Catedral Metropolitana de Sé, na região central da capital, onde serão celebradas Santas Missas em homenagem a Dom Cláudio Hummes.