Imagem: Divulgação
Monica Vitti, musa do cinema italiano, morre aos 90 anos

Monica Vitti, musa do cinema italiano, morre aos 90 anos

A atriz italiana Monica Vitti, musa do cinema italiano nos anos de 1960 e atriz favorita de seu compatriota, o diretor Michelangelo Antonioni, faleceu aos 90 anos, depois de passar décadas afastada das telas por uma doença degenerativa.

"Adeus Monica Vitti, adeus à rainha do cinema italiano. Hoje é um dia verdadeiramente triste, morre uma grande artista e uma grande italiana", anunciou o ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini, que recordou a longa carreira da atriz, tanto em comédias como dramas.

O olhar terno e melancólico, a voz rouca e sedutora e o cabelo indomável caracterizaram Monica Vitti, que encarnou de maneira perfeita as personagens atormentadas: A Aventura (1960), A Noite (1961), O Eclipse (1962) e O Deserto Vermelho (1964), quatro filmes que colocaram Antonioni entre os mestres do cinema mundial.




"Tive a oportunidade de começar minha carreira com um homem de grande talento, mas também com força espiritual, cheio de vida e entusiasmo", afirmou a atriz em uma entrevista em 1982. Ela foi casada com Antonioni entre 1957 e 1967. Depois, casou-se com o cineasta e diretor de fotografia Roberto Russo, em 1995. Em 2011, Russo anunciou que Vitti sofria de Alzheimer há quase 15 anos.

Nascida Maria Luisa Ceciarelli em Roma, em 3 de novembro de 1931, Monica Vitti se formou em 1953 na Academia Nacional de Arte Dramática e iniciou a carreira no teatro, onde brilhou por seu talento cômico.

Graças a seus papéis coadjuvantes em filmes de comédia, ela foi descoberta por Michelangelo Antonioni, com quem rapidamente iniciou uma relação artística e sentimental. A atriz interpretou a atormentada Claudia em A Aventura, a atraente Valentina em A Noite, a misteriosa Vittoria em O Eclipse e a neurótica Giuliana em O Deserto Vermelho.

Depois de trabalhar com Antonioni, Monica Vitti se tornou um dos grandes nomes da comédia italiana, no mesmo nível de colegas como Alberto Sordi, Ugo Tognazzi, Vittorio Gassman e Nino Manfredi.

Ela brilhou em especial em A Garota com a Pistola (1968), filme de sucesso de Mario Monicelli em que interpretou Assunta, uma siciliana que persegue o homem que a "desonrou" até a Escócia.

A atriz recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, incluindo cinco David di Donatello, maior prêmio do cinema italiano, um Leão de Ouro por sua carreira no Festival de Veneza e um Urso de Prata no Festival de Berlim.

O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, elogiou "a grande ironia e o talento extraordinário de Vitti, que conquistou gerações de italianos com sua inteligência, talento e beleza". "Ela fez o cinema italiano brilhar em todo o mundo", afirmou em um comunicado.

O ícone do cinema italiano descobriu a paixão pela atuação com o teatro durante a Segunda Guerra Mundial, quando aliviava a tensão de sua família com fantoches. "Sob as bombas, quando tínhamos que nos refugiar em abrigos, meu irmãozinho e eu improvisamos peças para distrair as pessoas ao nosso redor", recordou anos depois em entrevista.

Popular e ao mesmo tempo enigmática, sensual e inteligente, ela foi uma antidiva, apesar de ter trabalhado com cineastas de grande prestígio como Luis Buñuel (O Fantasma da Liberdade, 1974) e André Cayatte (A Razão de Estado, 1978). Em 1990, ela dirigiu e atuou no filme "Escândalo Secreto".

Monica Vitti integrou duas vezes o júri do Festival de Cinema de Cannes: em 1968 como presidenta, mas renunciou durante a revolução estudantil que marcou a edição, e em 1974. "Era sublime. Interpretava a vizinha como uma deusa e as deusas com a simplicidade de uma vizinha", resumiu no Twitter Gilles Jacob, ex-presidente do Festival de Cannes.