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Dom Orlando: ''Para ser Pátria amada, não pode ser Pátria armada''

Dom Orlando: ''Para ser Pátria amada, não pode ser Pátria armada''

Normalmente voltado ao rito das missas, bênçãos e peregrinações de fieis de todas as partes do Brasil e até do exterior, o Dia de Nossa Senhora Aparecida foi celebrado no feriado desta terça-feira nos moldes das mais fortes manifestações políticas da Igreja Católica nos anos 70, período de maior protagonismo da ditadura militar no País.

Da mesma forma que naqueles anos, quando figuras ilustres como Dom Helder Câmara e Dom Paulo Evaristo Arns enfrentavam com destemor os desmandos da linha dura do regime militar, a Basílica localizada às margens da via Dutra, na cidade de Aparecida (SP), assistiu a um duro e marcante discurso contra o atual governo, proferido por Dom Orlando Brandes.



O arcebispo de Aparecida afirmou que "para ser Pátria amada, não pode ser Pátria armada", durante a missa celebrada pela manhã, no que foi prontamente aplaudido por milhares de pessoas que se encontravam na catedral. Este ano, por conta da pandemia de Covid-19, apenas 2,5 mil fieis puderam acompanhar cada missa - a capacidade do local é de 35 mil pessoas.

O presidente Jair Bolsonaro compareceu à Basílica, mas só na parte da tarde, em companhia dos ministros João Roma, da Cidadania; e Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia. Bolsonaro chegou, desta vez de máscara, e recebeu aplausos e vaias do público. Ele não acompanhou o sermão matinal, que contou com as críticas contundentes do arcebispo:

"Para ser Pátria amada seja uma Pátria sem ódio. Para ser Pátria amada, uma República sem mentira e sem fake news. Pátria amada sem corrupção. E Pátria amada com fraternidade. 'Fratelli tutto'. Todos os irmãos construindo a grande família brasileira", prosseguiu Dom Orlando Brandes, sem citar Bolsonaro, que tem o "Pátria amada" como slogan de seu governo.

Durante a homília, o arcebispo também defendeu a vacinação contra o coronavírus e a prática da ciência. Ele ainda falou sobre a fome, lembrando o caso de brasileiros que buscam restos de carne em ossos dispensados pelos frigoríficos e açougues. Para combater isso, pediu união, diálogo, empatia e democracia.

"Vamos todos ser aliados do bem em comum. Que nenhum brasileiro e brasileira possa catar no lixo ossos para sobreviver. Aliados na verdade que liberta, na justiça social, que tanto agrada à mãe que rezou 'os famintos serão saciados e os pequeninos serão elevados'".

Em outro momento da missa, Dom Orlando Brindes disse: "Quero pedir que cada um de nós abrace o Brasil. Abrace o nosso povo. A começar pelo povo mais original. Vamos abraçar os nossos índios, primeiro povo dessa terra de Santa Cruz. Vamos abraçar os negros, que logo vieram fazer parte desta terra. Vamos abraçar os europeus que chegaram. Vamos abraçar nossas crianças, porque hoje é dia da criança. Vamos abraçar nossos pobres e abracemos também nossas autoridades para que juntos construamos um Brasil pátria amada".

Em sermão proferido no ano passado, o arcebispo de Aparecida já tinha condenado as queimadas na Amazônia e também no Pantanal. Dom Orlando Brindes, de 76 anos, é arcebispo de Aparecida desde 16 de novembro de 2016. É nascido em Urubici, na região da serra catarinense. Começou seus estudos em teologia em Lages (SC), fez filosofia na Universidade Católica do Paraná e seguiu para Roma, para estudos de pós-graduação na Pontifícia Universidade Gregoriana e na Academia Alfonsiana. De volta ao Brasil, exerceu diversas funções na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), até chegar ao arcebispado de Aparecida.