Risco Brasil ameaça sequência positiva de IPOs na B3

Risco Brasil ameaça sequência positiva de IPOs na B3

Os seguidos resultados negativos dos últimos dias no Ibovespa acenderam a luz vermelha para os investidores da bolsa e dos IPOs. Apesar de uma tênue alta no pregão de ontem (dia 19) de 0,48%, interrompendo sequência de quedas, o resultado geral das últimas semanas não é animador, com uma queda de cerca de 10% em pouco mais de dois meses. Para os especialistas do mercado financeiro, é notória a influência da política nesse cenário.

No âmbito interno, os atritos entre os três poderes, a CPI da Covid-19, votações como da Reforma Tributária e Imposto de Renda, vem tirando o sono de quem investe em renda variável. No cenário externo, as notícias também não ajudam, sobretudo pela crise internacional que envolve a saída dos Estados Unidos do Afeganistão.

No plano econômico, em que pese uma série de resultados positivos nos balanços apresentados pelas empresas para o segundo trimestre de 2021, dados como da elevação da taxa Selic no curto prazo e a questão do ajuste fiscal influenciam negativamente. Um conjunto de fatores que podem desanimar não apenas investidores mas o mercado que planificava uma sequência de IPOs para o segundo semestre em curso.

Pelo menos três empresas desistiram, na última quinzena, de apresentar suas ofertas públicas iniciais. No início do mês, foi a AgriBrasil, do setor de produção, armazenamento e comercialização de sementes. Esta semana, a Vittia, também do agrobusiness, decidiu aguardar. Previsto para lançar sua oferta em setembro, o Banco de Brasília (BRB) foi outro player que achou melhor esperar por um melhor contexto econômico.

Outros candidatos a abrir o capital na bolsa seguem, no entanto, fazendo suas divulgações junto a investidores, bancos e corretoras. A fabricante de doces Dori Alimentos, a rede de academias Bluefit, a Ammo Varejo (empresa da Coteminas), a rede de restaurantes Madero e a tradicional fabricante de meias Lupo, são alguns dos nomes na fila.

Até agora, o ano tem sido bastante positivo para os IPOs no Brasil e para empresas brasileiras nos Estados Unidos (Nyse e Nasdaq), No âmbito local, as emissões já superam R$ 120 bilhões, batendo o recorde alcançado em 2020. Até então, as ofertas vinham conseguindo superar os aspectos negativos da política e da economia. Mas, com a piora do cenário, parece ter ocorrido uma diminuição no ímpeto dos compradores dos novos papéis, trazendo mais disputa pela liquidez do mercado e um ambiente mais inóspito para lançar as ofertas.

Foi o que aconteceu nos mais recentes lançamentos na B3. A rede hospitalar especializada no tratamento de câncer Oncoclinicas, que estreou no início da semana passada, já acumula queda de 18% em suas units. O brechó online Enjoei, que abriu seu capital no final de 2020, soma 40% de perdas em seu valor. O Mosaico, dono do site Buscapé, caiu 44% desde seu primeiro pregão. Até mesmo no maior IPO do ano, da Raízen, o que se observou até agora foi uma estagnação no valor de sua ação, que foi tão festejada no pré-lançamento.

De qualquer forma, os balanços positivos apresentados nos últimos dias comprovam que a maioria das empresas anteriormente listadas e as entrantes gozam de saúde financeira para atravessar momentos de turbulência como esse.

Com os próximos lançamentos, o mercado logo poderá ter uma visão mais clara do que o segundo semestre reserva em termos de performance daqui até o final do ano. Se vai engatar uma marcha à frente ou se acompanhará o turbilhão de más notícias com as quais o investidor brasileiro terá que conviver até 2022, ano de eleições majoritárias no País.