Wesley Batista, à direita, e Joesley Batista, ao fundo perto das bandeiras do Brasil, em reunião ampliada com os presidentes Lula e Prabowo Subianto no Palácio Merdeka, em Jacarta | Imagem: Foto: Felipe Frazão/Estadão
Joesley Batista diz que falou 'bem' do Brasil a Trump: 'Infelizmente, tem brasileiro que não faz'

Joesley Batista diz que falou 'bem' do Brasil a Trump: 'Infelizmente, tem brasileiro que não faz'

Irmãos Batista vão a reunião reservada com Lula na Ásia; grupo J&F fecha 3 acordos com governo indonésio para explorar setores de agronegócio, pescados e energia


Por Felipe Frazão

ENVIADO ESPECIAL A JACARTA - "Tem que falar bem do Brasil". Assim o empresário Joesley Batista, dono da maior exportadora de proteína animal do mundo, responde sobre o que fez no encontro privado com Donald Trump, na Casa Branca, um mês atrás.

A conversa era parte de uma estratégia conjunta do setor privado aos contatos secretos entre autoridades dos governos brasileiro e americano, revelados pelo Estadão, para facilitar a aproximação dele com Luiz Inácio Lula da Silva. Até então, as portas estavam fechadas e, como disse o petista, ele e Trump "estavam de mal", mesmo sem se conhecerem.

"A gente conhece muita gente lá, né? Tem que falar bem do Brasil, coisa que todo brasileiro deveria fazer. Infelizmente, nem todo brasileiro fala bem do Brasil", disse Joesley ao Estadão durante visita a Jacarta, capital da Indonésia, como parte da delegação empresarial convidada para acompanhar a visita de Lula.

O empresário trajava uma gravata estampada vermelha e brincou que era uma estratégia porque com essa cor "ficava bem" nos EUA e no Brasil ao mesmo tempo - o Partido dos Trabalhadores, de Lula, e o Partido Republicano, de Trump, compartilham o vermelho.

Joesley não vai acompanhar a reunião de Lula com Trump. Ele disse que não vai esticar viagem até a Malásia, onde poderia ver de perto a "química" entre os presidentes. O irmão dele, Wesley Batista, sim, pretende ir a Kuala Lumpur.

O resultado mais esperado dos esforços diplomáticos e empresariais será o encontro do próximo domingo, dia 26, a primeira vez que os presidentes do Brasil e Estados Unidos vão se sentar à mesa para uma discussão mais detalhada. Lula e Trump terão uma conversa eminentemente política. Um acordo é considerado improvável. Mas o petista já pediu a reversão das medidas do tarifaço de 50% sobre o País e a revogação de punições a autoridades do Supremo e do Executivo. Até agora, sem resposta.

"Conhecer gente lá" é um eufemismo de Joesley. Os irmãos Batista possuem operações extensas nos EUA. A JBS, uma das empresas dos irmãos, mandou para o comitê de inauguração presidencial de Trump US$ 5 milhões. Uma doação pós-campanha.

Joesley Batista volta da festa de Lula em Jacarta. Foto: Felipe Frazão/Estadão
Joesley Batista volta da festa de Lula em Jacarta Foto: Felipe Frazão/Estadão

Após o tarifaço, eles entraram em cena. O empresário reuniu-se com Trump e fez contatos na Casa Branca com aliados próximos do republicano, como a chefe de gabinete Susie Wiles. Mas não fala muito sobre o acesso privilegiado em Washington.

Junto ao governo brasileiro, o tratamento ficou claro. De todos os empresários que estiveram com Lula em Jacarta (havia Embraer, Marfrig e Vale), apenas Joesley e Wesley Batista sentaram-se à mesa para a série de encontros reservados e o almoço no Palácio Merdeka, a convite do presidente Prabowo Subianto.

Em outro espaço das cerimônias, juntou-se a eles o executivo José Carlos Grubisich, que vai assumir as operações em futuro escritório do grupo em Jacarta. O trio, entrosado com autoridades brasileiras, assinou três acordos com o governo da Indonésia, sob aplausos de Lula e Subianto.

  • Memorando de Entendimento entre a PT Danantara Investment Management (Persero) e a JBS N.V. na condução da exploração e negociação do Plano de Transação
  • ⁠Memorando de Entendimento entre a PT Perusahaan Listruk Negara (Persero) e a J&F S.A. sobre cooperação no estudo do desenvolvimento de usinas hidrelétricas em apoio à transição energética na Indonésia
  • Memorando de Entendimento entre Fluxus Holding e Pertamina referente à exploração de oportunidades de cooperação no setor energético

Segundo Grubisich, os acordos envolvem a Âmbar Energia e a PLN, a JBS e o fundo soberano indonésio e a Fluxus e a empresa correspondente de óleo e gás da Indonésia.

José Carlos Grubisich e Wesley Batista em assento da comitiva brasileira no palácio presidencial da Indonésia. Foto: Felipe Frazão/EstadãoJosé Carlos Grubisich e Wesley Batista em assento da comitiva brasileira no palácio presidencial da Indonésia Foto: Felipe Frazão/Estadão

É incomum que acordos privados sejam assinados e anunciados numa cerimônia de Estado e diante dos aplausos de dois presidentes. O Palácio do Planalto não publicou fotos dos atos assinados por eles, mas sim a lista, divulgada também pelo lado da Indonésia.

Embora admita um sinal de prestígio, Wesley afirmou que não se trata de uma reedição da política de "Campeões Nacionais" de gestões petistas anteriores. Ele disse não se tratar de um interesse do governo brasileiro e creditou sua presença a convite do governo da Indonésia.

"A bola começou a andar, daqui pra frente vamos trabalhar juntos para ver oportunidades", disse Wesley Batista, procurando desvencilhar as coisas. "Fomos convidados a vir olhar oportunidades e demostramos interesse. Fortalece a relação bilateral, mas não tem a ver com o governo brasileiro. O governo (indonésio) está buscando, como no Brasil, investimentos e desenvolver a indústria local."

À noite, voltaram ao Merdeka para a festa antecipada de aniversário oferecida por Subianto a Lula. Joesley vestiu-se com a camisa batik, toda estampada, como os ministros de Estado e o presidente. Wesley ficou de terno, porque a camisa estava apertada.

Mas o entrosamento e a desenvoltura demostra que eles estavam à vontade na comitiva. Sorriram, tiraram fotos e bateram papo, entre outros, com a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central.

Entre as festividades e reuniões reservadas, passaram a noite no lobby e no piano bar do hotel St. Régis, na companhia de Jorge Viana, presidente da Apex Brasil, e de ministros como Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). Todos de alguma forma vinculados, pelo lado do governo, a interesses do grupo empresarial.

Joesley Batista fotografa o presidente da Apex, Jorge Viana, em cerimônia oficial na Indonésia. Foto: Felipe Frazão/EstadãoJoesley Batista fotografa o presidente da Apex, Jorge Viana, em cerimônia oficial na Indonésia Foto: Felipe Frazão/Estadão

Dois anos atrás, numa viagem de Lula a Pequim cancelada em cima da hora pelo presidente por razões de saúde, os empresários foram amplamente notados em seu retorno às viagens com o presidente. Mas apareciam pouco.

Em 2025, ainda discretos, agora sentam à mesa com presidentes pelo mundo, algo que parecia distante no período em que frequentaram as páginas policiais e viraram personagens políticos de delações premiadas que atingiram 1.829 candidatos de todo o espectro partidário. No auge da Operação Lava Jato e seus desdobramentos sobre escândalos de corrupção, os irmãos Batista e Grubisich foram presos, assim como Lula.

Agora, da mesa de delegações, viram Carlos Fávaro defender uma resolução do contencioso entre os países na OMC por barreiras ao frango nacional na Indonésia. A disputa foi arbitrada em favor do Brasil.

A proposta brasileira, ainda em discussão, é que passem a permitir a importação de frango do País para compor a merenda escolar, uma forma de acesso controlado ao mercado da indonésia, de 285 milhões de pessoas, sem "atropelar" o empresariado local.

Os ministros vão dar seguimento à negociação da proposta.

Lula chegou a falar em discurso numa breve referência ao tema: "Podemos contribuir para a segurança alimentar do povo indonésio, o que inclui o programa de alimentação escolar do presidente Prabowo, 'Refeição Nutritiva Gratuita'".

O petista reclamou do comércio bilateral de apenas US$ 6,3 bilhões de dólares, em 2024. "É muito pouco", disse Lula, que deseja ver a cifra perto de US$ 20 bilhões. "O intercâmbio bilateral permanece aquém do potencial de nossos países, que juntos somam meio bilhão de habitantes."

Segundo dados do governo brasileiro, a Indonésia é o quinto maior parceiro do agronegócio e destino das exportações de soja, açúcar, trigo, milho e café.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, chega a sede da ASEAN em Jacarta, IndonésiaO presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, chega a sede da ASEAN em Jacarta, Indonésia Foto: Aditya Irawan/AFP

Lula também quer incentivar o setor de produtos de Defesa, um pedido de Subianto. Os países assinaram um acordo de cooperação no setor.

"A Força Aérea da Indonésia conhece bem as capacidades do Super Tucano. As aeronaves brasileiras de uso civil representam a melhor solução para companhias regionais - eficiência, baixo consumo e tecnologia de ponta", disse Lula.

Além dos caças e de aeronaves comerciais de porte médio, que poderiam se encaixar bem na geografia do arquipélago, o país também acenou com o KC-390, cargueiro militar, e com caças Gripen, que poderiam ser vendidos a Jacarta em parceria com a Suécia.

Lula defendeu ainda que os países atuem junto no setor de combustíveis sustentáveis, a partir do etanol, inclusive para navegação marítima.

Os irmãos Batista querem aproveitar o potencial do arquipélago indonésio para explorar produção de proteína, aves, ovo e pescados - salmão, carne bovina, suínos, processados, bacon e presunto.

"Vamos explorar oportunidades de investimento conjunto com o fundo soberano para explorar oportunidades de produção local de proteínas e pescados em geral - camarão, tilápia", citou Wesley, de olho na exportação de gado vivo ao país muçulmano - cerca de 600 mil cabeças por ano. Ele pretende introduzir seus produtos no mercado do Sudeste Asiático a partir das plataforma da companhia na Austrália. São US$ 7 bilhões em vendas.

Estadão
https://www.estadao.com.br/internacional/joesley-batista-diz-que-falou-bem-do-brasil-a-trump-infelizmente-tem-brasileiro-que-nao-faz/