Debate sobre corte antecipado dos juros básicos ganha força no mercado após queda no preço da gasolina; eleições de 2026 entram no cálculo
Por Olivia Bulla
O mercado financeiro alimenta o debate sobre um corte antecipado da taxa Selic, o que descola os negócios locais do ambiente externo. Os investidores concentram-se nas particularidades domésticas e relegam o cenário global complicado, em meio à tensão comercial entre Estados Unidos e China e ao prolongado shutdown norte-americano.
Como já dito aqui, a queda dos juros básicos em janeiro - ou, talvez, ainda neste ano - leva a uma correção nos preços dos ativos de risco. É isso o que explica a alta do Ibovespa ontem, na contramão do sinal negativo vindo de Nova York, e a resiliência do dólar na faixa de R$ 5,40, em meio à devolução de prêmios nos juros futuros.
A possibilidade de o Banco Central agir no curto prazo ganhou força após o anúncio da Petrobras, na segunda-feira (20), de redução no preço da gasolina. O impacto da medida sobre o IPCA de novembro praticamente esvazia a espera pela prévia da inflação, que sai amanhã. O IPCA-15 não deve contemplar essa mudança recente.
É consenso nos cálculos de economistas do mercado que a queda no preço médio do combustível irá ajudar o BC a cumprir a meta de inflação no acumulado deste ano. O índice oficial de preços ao consumidor deve ficar dentro do intervalo de tolerância, situando-se próximo ao teto, de até 4,50%.
Toma-lá-dá-cá
É este quadro inflacionário mais benigno que esquentou o debate sobre cortes na Selic. O ambiente político, com o governo Lula subindo o tom em relação ao BC e o movimento da Fazenda para garantir a receita perdida com a derrubada da MP do IOF, serve de argumento a favor de uma queda antecipada.Mas o principal motivo são as eleições em 2026. Afinal, com o jogo eleitoral ganhando força a partir do segundo semestre do ano que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) teria apenas quatro reuniões para baixar a taxa Selic para a faixa de 12%, conforme prevê o relatório Focus. Vale lembrar que, atualmente, a taxa básica está em 15%.
Daí por que não se pode descartar as chances de um início do ciclo de cortes ainda em 2025. Para tanto, a sinalização teria de vir já no comunicado da próxima reunião do Copom, em novembro, seguido de um movimento inicial em dezembro. Trata-se de um cenário mais moderado do que quatro cortes agressivos seguidos, entre janeiro e junho.
Portanto, o mercado já refaz as contas e começa a preparar as apostas a serem colocadas na mesa antes de começar o jogo. E, como se sabe, quem antecipa o movimento joga com as cartas marcadas e pode até não ganhar a disputa - mas dita as regras da próxima rodada.
Passeio pelos mercados
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram sem direção única, mostrando dificuldades para recuperar-se das perdas da véspera. Na Europa, o pregão também é misto, com queda do DAX alemão, mas alta do CAC 40 parisiense e da City londrina. Já na Ásia, Tóquio caiu 1,35%, enquanto Xangai e Hong Kong tiveram altas moderadas.Entre as moedas, o dólar avança em relação às moedas rivais, com o índice DXY sobe (cesta de moedas de economias avançadas) de volta à marca de 99 pontos.
Nas commodities, o petróleo tem alta forte, ao redor de 5%, enquanto o minério de ferro negociado em Dalian (China) fechou em alta.
O ouro também avança. Entre as criptomoedas, o Bitcoin sobe.
Agenda do dia
Indicadores
9h30 - EUA: Índice de atividade do Fed de Chicago (setembro)10h30 - Brasil: Arrecadação federal (setembro)
11h - EUA: vendas de moradias usadas (setembro)
Eventos
China: Quarta Sessão Plenária do 20º Comitê Central do PCChBalanços
EUA: American Airlines (antes da abertura)
EUA: Intel e Ford (depois do fechamento)
Brazil Economy
https://brazileconomy.com.br/2025/10/mercado-corte-selic-descola-global/