Rotina de ex-parlamentar guarda semelhanças com os mais de quatro anos em que esteve à frente da Câmara dos Deputados
Por Camila Turtelli
A oito quilômetros do Congresso, Rodrigo Maia vive uma rotina que guarda semelhanças com os mais de quatro anos em que esteve à frente da Câmara dos Deputados. O gabinete com acesso direto ao plenário já não é mais o local das recepções ou conversas por celular, aparelho que está sempre em suas mãos, mas políticos, empresários e integrantes da cúpula do Judiciário continuam sendo interlocutores frequentes. O "escritório" agora é uma casa no Lago Sul, a região mais valorizada de Brasília. Na articulação mais recente, o ex-deputado e hoje diretor-presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (FIN) tratou com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o alcance da Lei Magnitsky, evocando a preocupação das entidades que representa, como a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com a "segurança jurídica" após a decisão do ministro Flávio Dino reforçando que normas internacionais só valem no Brasil com aval do Judiciário.
O despacho do magistrado foi publicado no momento em que instituições financeiras já lidavam com mais dúvidas do que certezas. Do Lago Sul, Maia conversou com os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, alvo das sanções financeiras impostas pelo governo de Donald Trump.
O ex-parlamentar também foi à Corte para um encontro com o ministro Cristiano Zanin, relator de uma ação que vai definir especificamente se a legislação americana usada como punição a Moraes tem efetividade no Brasil. De acordo com interlocutores de ambos, um dos pontos em debate foi a possibilidade de os bancos se manifestarem formalmente na ação pedindo esclarecimentos sobre como devem proceder - escritórios de advocacia foram contratados no Brasil e nos EUA para darem orientações.
Outra hipótese é a realização de audiência pública reunindo as partes interessadas. Zanin, porém, já indicou que vai aguardar o posicionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em outras reuniões que teve sobre o assunto, Maia ouviu - e descartou - a sugestão de que ministros do STF levassem as contas bancárias para instituições que não mantêm negócios nos EUA e estão fora do alcance da Magnitsky, como as cooperativas de crédito. O ex-deputado, porém, vem insistindo que há caminho para um entendimento entre Judiciário e o mercado financeiro. Nessa tarefa, ele conta com um "território neutro", classificação que a casa no Lago Sul recebe de frequentadores assíduos. O endereço é descrito como um lugar em que é possível conversar sem exposição pública, e com a mediação de um nome experiente em negociações políticas complexas.
Ponte com a oposição
Foi nesse ambiente que, às vésperas da sanção contra Moraes, Maia promoveu um café da manhã com Gilmar Mendes, os líderes do PL no Congresso, o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ) e o senador Rogério Marinho (RN), e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto. O encontro foi descrito como cordial, embora não tenha produzido avanços práticos em temas de interesse da oposição, como a anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro. A iniciativa, no entanto, irritou integrantes da família Bolsonaro, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que viram no gesto uma aproximação indesejada entre dirigentes do partido e o Supremo.
- Rodrigo Maia é um grande articulador político e busca sempre pacificar e o entendimento pelo bem do país - disse Sóstenes.
Outro tema recorrente nas conversas é a proposta de reforma do Orçamento defendida por Maia, que, entre outros pontos, vincula as emendas parlamentares às políticas públicas que o governo considera prioritárias. O pé no Congresso também já se manifestou em jantares com parlamentares da esquerda e nas articulações que consolidaram Hugo Motta (Republicanos-PB) como candidato à sucessão de Arthur Lira na Câmara, no início do ano. Há duas semanas, quando deputados de oposição fizeram um motim que paralisou por dois dias os trabalhos da Câmara após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, Maia conversou com Motta e deu sugestões de como lidar com a situação.
Em outra situação de tensão, quando governo e Congresso atravessaram um embate em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Motta atuou por uma reação política e defendeu em encontros fechados que a medida aumentava custos e atrapalharia o setor produtivo. O Parlamento derrubou o decreto, mas uma decisão de Moraes posteriormente restabeleceu a alíquota maior do tributo.
- Nesse momento de muita instabilidade política, o diálogo permanente com o Congresso se faz necessário. E ele tem estatura e respeito para conduzi-lo - disse o deputado Beto Pereira (PSDB-MS), um dos frequentadores da casa no Lago Sul.
O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/08/31/agora-a-frente-de-entidade-financeira-rodrigo-maia-mantem-articulacao-e-tenta-esfriar-crises-no-stf-e-no-congresso.ghtml
- Rodrigo Maia é um grande articulador político e busca sempre pacificar e o entendimento pelo bem do país - disse Sóstenes.
Outro tema recorrente nas conversas é a proposta de reforma do Orçamento defendida por Maia, que, entre outros pontos, vincula as emendas parlamentares às políticas públicas que o governo considera prioritárias. O pé no Congresso também já se manifestou em jantares com parlamentares da esquerda e nas articulações que consolidaram Hugo Motta (Republicanos-PB) como candidato à sucessão de Arthur Lira na Câmara, no início do ano. Há duas semanas, quando deputados de oposição fizeram um motim que paralisou por dois dias os trabalhos da Câmara após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, Maia conversou com Motta e deu sugestões de como lidar com a situação.
Em outra situação de tensão, quando governo e Congresso atravessaram um embate em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Motta atuou por uma reação política e defendeu em encontros fechados que a medida aumentava custos e atrapalharia o setor produtivo. O Parlamento derrubou o decreto, mas uma decisão de Moraes posteriormente restabeleceu a alíquota maior do tributo.
- Nesse momento de muita instabilidade política, o diálogo permanente com o Congresso se faz necessário. E ele tem estatura e respeito para conduzi-lo - disse o deputado Beto Pereira (PSDB-MS), um dos frequentadores da casa no Lago Sul.
O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/08/31/agora-a-frente-de-entidade-financeira-rodrigo-maia-mantem-articulacao-e-tenta-esfriar-crises-no-stf-e-no-congresso.ghtml