O controlador da Reag, João Carlos Mansur, ao lado do CEO do Banco Master, Daniel Vorcaro, em registro nas redes sociais - Foto: Reprodução/redes sociais |
As ligações umbilicais entre Tanure, Master e gestora suspeita de lavar dinheiro do PCC

As ligações umbilicais entre Tanure, Master e gestora suspeita de lavar dinheiro do PCC

Por Malu Gaspar e Johanns Eller


A Reag Investimentos, um dos alvos da megaoperação da Polícia Federal (PF) que apura a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no mercado de combustíveis de São Paulo e o uso de fundos para a lavagem de dinheiro, concentra parte expressiva do lançamento de títulos do Banco Master e de empresas controladas pelo empresário Nelson Tanure. Reag, Master e Tanure têm uma relação antiga e sociedade em vários negócios - alguns dos quais foram alvo de processos, multas e denúncias na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de capitais.

O fundo, que teria sido usado na aquisição de empresas e usinas pelo PCC e também na blindagem do patrimônio de investigados, é um dos que, segundo a PF, teriam lavado cerca de R$ 46 bilhões do crime organizado.

Seu controlador, João Carlos Mansur, é conhecido no mercado como parceiro de negócios de Daniel Vorcaro, controlador do Master. A proximidade é verificada inclusive pelas redes sociais: no LinkedIN, Mansur já publicou selfies sorridentes com o dono do Master. "Dia de comemorar com os amigos", dizia a legenda de uma publicação feita em 2022.

Um dos negócios que os dois fizeram juntos foi a compra do Will Bank, em 2024. No ano passado, Reag e o Master adquiriram, junto com Nelson Tanure, papeis do grupo GPA, dono da rede Pão de Açúcar, de olho na potencial venda das operações no Brasil pelo grupo Casino. Tanure foi assessorado na empreitada por Maurício Quadrado, ex-sócio do Master.

Outra empresa ligada a Tanure, a Trustee, também é apontada pela investigação como uma das utilizadas pelo PCC para lavar dinheiro.

A Reag também é parceira de Vorcaro e Tanure na Blum Participações, sócia controladora de uma companhia de securitização de crédito. Mansur foi conselheiro da Blum entre 2019 e 2022, e adquiriu a companhia em dezembro de 2023. Três meses depois, o Master capitalizou a holding com R$ 480 milhões através de um fundo do próprio banco.

Apurações na CVM


Mansur e Vorcaro também estão ligados em investigações em curso na CVM.

Em um processo que provocou disputas internas na CVM, a Reag administradora foi acusada de desviar o dinheiro captado com a distribuição de debêntures para Vorcaro, do banco Máxima, antigo nome do Master, e a alguns fundos ligados ao grupo.

No caso, R$ 51 milhões foram arrecadados com a venda de títulos de duas companhias, a Centara Investimentos e Participações (C.I.P). e a Simsan, através de cotistas externos, como empresas do consórcio DPVAT - ou seja, incluindo recursos públicos - e o antigo Banco Rural em flagrantes condições de conflito de interesse.

O dinheiro, que de acordo com as escrituras de emissão seria destinado a financiamentos imobiliários, foi desviado para fundos ligados a Vorcaro, ao Máxima e aos controladores dos demais fundos, sem remunerar os investidores que compraram os papeis.

Em 2019, a CVM mandou que os Vorcaro e seus parceiros devolvessem o dinheiro, mas a área técnica da autarquia descobriu que eles dissimularam a devolução depositando os R$ 51 milhões para fundos ligados a eles mesmos. A administradora desses fundo era a Reag.

Como publicamos no blog em maio, a autarquia deliberou pelo encerramento do processo contra o Master após o voto decisivo do então diretor Henrique Machado.

Machado, que era o relator do caso, contrariou o parecer dos técnicos e aceitou um acordo que mais uma vez previa a restituição dos R$ 51 milhões e o pagamento de multas pelos gestores envolvidos. As multas foram honradas, mas os milhões não foram devolvidos para os investidores até hoje.

No ano seguinte, Machado se tornou advogado do banco de Vorcaro.

Após a operação da PF, a Reag divulgou ao mercado e aos acionistas fato relevante referente às diligências policiais.

"Trata-se de procedimento investigativo em curso. As companhias esclarecem que estão colaborando integralmente com as autoridades competentes, fornecendo as informações e documentos solicitados, e permanecerão à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários. As companhias manterão seus acionistas e o mercado informados sobre o desenvolvimento dos assuntos objeto deste fato relevante", destacou a gestora.

Após a publicação desta reportagem, o Banco Master enviou a seguinte nota:

"A Reag é uma prestadora de serviços do Banco Master, e tem como atividades a gestão e a administração de fundos. É uma entre outras entidades financeiras que prestam serviços nesta atividade. O Master é apenas um entre centenas de clientes da Reag."

Por meio de nota enviada na noite de quinta-feira, a Trustee informou não ter "qualquer relação pessoal com os investigados.

"A Trustee DTVM comunica que renunciou à administração de todos os fundos que foram alvos da operação Carbono Oculto nesta quinta-feira (28). A renúncia ocorreu antes mesmo da operação ser deflagrada, por decisão da área de compliance da Trustee DTVM por desconformidade de atualização cadastral identificada há alguns meses. A empresa tem processos rigorosos de diligência e constante averiguação das aplicações nos fundos e perfil de seus cotistas. Ressalta, ainda, que não possui qualquer relação pessoal com os investigados", diz o comunicado.

Tanure, por sua vez, negou ter ligações com a Reag e a Trustee. "O empresário Nelson Tanure jamais foi sócio da Reag Investimentos, como também não tem relação societária com a Trustee DTVM", diz o comunicado.

O Globo
https://oglobo.globo.com/blogs/malu-gaspar/post/2025/08/gestora-alvo-da-pf-por-suspeita-de-lavar-dinheiro-do-pcc-e-socia-do-banco-master-e-tanure.ghtml