Crianças em Nevados de Chillán: estação no sul do Chile tem uma nova escola infantil de esqui - Foto: Divulgação |
Férias de julho: Argentina 'cara' e maior oferta de voos transformam Santiago em 'nova' Buenos Aires para brasileiros

Férias de julho: Argentina 'cara' e maior oferta de voos transformam Santiago em 'nova' Buenos Aires para brasileiros

Destinos nacionais continuam sendo a maior preferência das famílias brasileiras para o período, mas cidades na América Latina têm ganhado destaque nas buscas


Por Letícia Lopes - Rio

A valorização do peso freou a enxurrada de desembarques de turistas do Brasil na Argentina, mas com o câmbio ainda alto, mantendo o dólar no patamar de R$ 5,50, a previsão é que as férias de julho transformem Santiago, no Chile, numa nova "Buenos Aires" para os viajantes brasileiros.

Companhias aéreas e agências de viagem apontam que destinos nacionais ainda são a principal opção para a maioria dos brasileiros que vão viajar no período, mas que algumas rotas internacionais têm ganhado espaço na preferência dos turistas, principalmente na América Latina.

Na CVC, o Chile desbancou Orlando entre os pacotes internacionais mais vendidos para julho. A procura por viagens para Santiago cresceu 19%, no que Fábio Mader, vice-presidente de Produtos da marca, analisa como uma saída para os turistas que desistiram da Argentina por conta do preço.

Outro fator que impulsiona esse cenário é a maior oferta de voos para a capital chilena, porta de entrada de destinos de inverno como os parques de esqui Valle Nevado e Portillo. Em julho do ano passado, a Latam operava 136 voos diretos entre seis capitais brasileiras e Santiago. Já nesse ano, são 168 viagens por semana saindo de nove cidades, um aumento de 23,5%.

Além de Rio, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília, Florianópolis e São Paulo, entraram na lista Fortaleza e Recife. Também foi retomada a operação a partir de Porto Alegre, após a reabertura do Aeroporto Internacional Salgado Filho, fechado por cinco meses depois do desastre das chuvas no ano passado no estado gaúcho.

- O câmbio alto não nos fez desinvestir em rotas para os Estados Unidos ou Europa. Continuamos crescendo nessas regiões, mas a América do Sul está entrando com mais força na briga. Nunca operamos de tantas capitais brasileiras para Santiago - destaca Aline Mafra, diretora de Vendas e Marketing da Latam Airlines.

Santiago não está apenas entre os destinos mais desejados para julho, mas também é a rota internacional com o menor preço médio para voos de ida e volta no período, custando R$ 1.610, 10% abaixo do registrado no ano passado, segundo cálculos do metabuscador Kayak.

- O Chile sempre esteve ali como uma das opções de viagem de inverno na América do Sul, um desejo dos brasileiros. A Argentina era muito vantajosa, mas esse ano muda o cenário com a alta dos preços, o que fez com que as pessoas se abrissem para outras opções na região - analisa Daniela Araujo, diretora de Produtos em Destino da Decolar.

Frio, neve e vinho


Apesar da valorização do peso, em meio as políticas implementadas pelo governo de Javier Milei, a procura por destinos de inverno de ticket mais alto na Argentina continua crescendo. Na Decolar, a venda de pacotes para ver as geleiras de El Calafate, na Patagônia, aumentou 42%, enquanto Bariloche cresceu 8% e Ushuaia, no extremo sul do continente, subiu 24%.

Com mais demanda, as aéreas reviram o planejamento. A Latam inaugurou uma rota sazonal com sete voos semanais saindo de São Paulo para Bariloche. A operação começou em 23 de junho com um voo lotado, e deve seguir até 31 de agosto.

Vista geral do Glaciar Perito Moreno no Parque Nacional Los Glaciares, perto de El Calafate, na Argentina - Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFPVista geral do Glaciar Perito Moreno no Parque Nacional Los Glaciares, perto de El Calafate, na Argentina - Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFP

A Gol Linhas Aéreas também implementou uma operação para Bariloche para essas férias, com o primeiro voo previsto para o dia 2. Rafael Araújo, diretor executivo de Planejamento da companhia, explica que a decisão veio ao observar a alta na procura na concorrência. Ele ainda destaca que Mendoza, tradicionalmente muito procurado nesta época, também ganhou as atenções da empresa.

- Aumentamos a oferta para Mendoza em 15% ano neste ano, e estamos estudando lançar rotas para lá a partir de outras cidades além de São Paulo, como o Rio - planeja. - Apesar de a Argentina estar mais cara, é um mercado mais resiliente. Esse turista tem um perfil específico, busca hotéis mais sofisticados.

Os vinhedos da Ver Sacrum, em Mendoza - Foto: Reprodução
Os vinhedos da Ver Sacrum, em Mendoza - Foto: Reprodução

Consultoria e ex-presidente da Embratur, Jeanine Pires analisa que a combinação do câmbio alto com a distância e o preço das passagens tem estimulado uma descoberta por destinos próximos:

- Chile e Argentina garantem o frio e a neve a quem tem esse sonho, e ainda combinam isso com gastronomia, cultura, aventura, vinho e, sobretudo, acessibilidade, seja pelo preço mais em conta que destinos na Europa e nos EUA, ou até mesmo o idioma.

Outros destinos internacionais também vêm crescendo. Na CVC, a busca por pacotes para a França subiu 58%, enquanto para a República Dominicana, principalmente Punta Cana, aumentou 17%.

Retomada em Gramado


Depois de uma forte queda na movimentação de turistas no ano passado por conta do desastre das enchentes, a Serra Gaúcha se prepara para a retomada. Mader, da CVC, destaca que, na comparação com 2023, o aumento na venda de pacotes para Gramado é de 19%. A Serra Catarinense também tem crescido, segundo a Decolar.

Longe do frio, destinos tradicionais do nordeste para a época também estão sendo mais buscados. Em Pernambuco, Recife e Porto de Galinhas tiveram alta de 42% no interesse, já que o ticket médio, que inclui aéreo, transfer, hospedagem e passeios, caiu 12%, calcula a CVC.

Com a alta temporada nos Lençóis Maranhenses, quando as lagoas estão cheias, a demanda por pacotes e voos para São Luís também cresceu. Na Gol, a alta na procura foi de 12,5% na comparação com o ano passado. Segundo as estatísticas do Kayak, a procura subiu 33%. Por isso, a Gol ampliou a oferta nacional de assentos para São Luís em 12,5% para julho.

Apesar disso, conhecer a capital maranhense e o parque nacional que é Patrimônio Mundial pela Unesco ficou mais caro: nos cálculos da CVC, o ticket médio subiu 37%:

- É um destino "instagramável", virou moda, a procura vem crescendo muito, e aí o preço sobe - diz Mader. - Mas até pela pressão do câmbio, o brasileiro se programou antes para as férias de julho. No ano passado, vendemos a maior parte dos pacotes em junho. Nesse ano, já entre fevereiro e abril. Isso ajuda a fechar a viagem num preço bem mais vantajoso e abre margem até para um destino mais caro.

A aérea low cost chilena JetSmart também apostou na ampliação de rotas e oferta de assentos para destinos do Chile e da Argentina nesta temporada. Na última semana, a companhia inaugurou a rota direta Recife-Buenos Aires e retomou a operação sazonal entre São Paulo e Santiago.

"Também ampliamos nossa conectividade com a Argentina: além dos voos já operados a partir do Brasil, destacamos o novo trecho entre Rio de Janeiro e Mendoza, ideal para quem busca experiências na neve, e o voo Rio-Buenos Aires, que permite conexões rápidas para cidades argentinas como Bariloche e Neuquén", informou em nota a companhia.

O Globo
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/07/05/ferias-de-julho-argentina-cara-e-maior-oferta-de-voos-transformam-santiago-em-nova-buenos-aires-para-brasileiros.ghtml