Diretor não se sai tão bem ao repetir ideias de 'Top Gun: Maverick' e dirigir Brad Pitt como veterano descompromissado
Inácio Araujo
F1: O FILME
Quando Estreia nesta quinta-feira (26), nos cinemas
Classificação 12 anos
Elenco Brad Pitt, Damson Idris e Javier Bardem
Produção Estados Unidos, 2025
Direção Joseph Kosinski
Em "F1: O Filme", o diretor e corroteirista Joseph Kosinski retoma o argumento central do bem-sucedido "Top Gun: Maverick", com Brad Pitt no lugar do veterano que coube a Tom Cruise da outra vez. Ele é Sonny Hayes, antiga promessa do automobilismo que, após sofrer um terrível acidente, largou tudo e optou por uma vida livre e nômade. Com o prêmio de uma corrida, sai pelo mundo procurando por alguém que precise de um piloto.
Para ajudar seu amigo Ruben, papel de Javier Bardem, dono de uma equipe praticamente falida da Fórmula 1, Sonny topa, depois de muita relutância, voltar à categoria maior desse esporte.

Que fique claro, Sonny não é qualquer um. Em seus bons tempos, correu com gente como Ayrton Senna e Alain Prost. Mas agora é um cinquentão e, tal como Cruise no filme anterior de Kosinski, recebido com espanto e gozação pelos mais novos. O que esse velhote vem fazer aqui? E com um carro vagabundo como o de Ruben, que não marca pontos há um século.
Para quem não viu "Maverick", atenção -Sonny está lá para ensiná-los a amadurecer, dando-lhes lições que não pediram. Trata-se de baixar a crista sobretudo do jovem e intrépido companheiro de equipe Joshua Pearce, papel de Damson Idris. Joshua o vê mais rival do que como companheiro de equipe e, em definitivo, não bota fé em Sonny, com boas razões -o veterano não sobe num carro de Fórmula 1 há quase três décadas.
Mas como dar essas lições, quando o carro só ocupa a última fila na hora da largada? Esse é o problema que a projetista Kate, papel de Kerry Condon, terá de resolver. Nota feminista -a charmosa Kate é a primeira mulher a ter posto de tal relevo na categoria e está disposta a provar que é boa. Pitt, com aquele jeito de bonitão descompromissado, logo parte para a paquera.
A esta altura, todo mundo já deve ter notado o que vai acontecer no resto do filme. Não vamos tocar no assunto, mas a previsibilidade é muito grande.
Falemos de pontos fortes -as corridas estão bem okay. Mas duvido que ofereçam aos fãs muito mais do que as coberturas da TV, com câmeras por todos os cantos, ou a série "Dirigir para Viver", da Netflix, com os bastidores da categoria.
É certo que existem as manobras arriscadas e nem sempre muito cheias de cortesia de Sonny. É certo também que Pitt tem o jeito certo para o papel do cara livre, que rejeita convenções, exceto quando se trata de ajudar um amigo.
Mas o filme tem também problemas bem objetivos. Logo de início, sabemos que o personagem de Bardem tem uma dívida incrível, que está perto da falência, que só não terá de vender a escuderia se tiver um carro competitivo com pilotos idem antes de o filme terminar. Então o verdadeiro drama da história não é o de Sonny ou Joshua, na pista, e sim o de Ruben às voltas com bancos e credores.
Os dramas da aerodinâmica, digamos, também são importantes e negligenciados. Por exemplo, Kate projeta um célebre novo assoalho. Mas nunca o vemos. Quando é montado? Para que serve?
Ora, presumo que qualquer fã de F1 saiba que a peça importante, mas como exatamente age, assim como asas, para determinar o resultado de uma corrida? A opção é por apostar quase tudo na pilotagem. Uma exceção -a dificuldade para a troca de uma roda, durante a parada de um carro para troca de pneus, é um belo momento dramático, de modo rápido e eficaz.
No mais, "F1" não tem um vilão, ao menos até chegar ao terço final. É quando ele se revela. Mas aí estamos às voltas com um antagonista puxado às pressas do bolso do colete. Parece mesmo um improviso para suprir as fraquezas do filme. Seria muito mais eficiente se mostrasse a ação do vilão desde o início, em vez de mostrá-lo apenas como um vulgar traidor.
Em compensação, não há mocinhas desesperadas esperando que seu namorado ou marido acabe vivo ao fim da corrida -há muito não se morre na F1-, nem há romances juvenis apaixonados, só umas transas maduras e sem compromisso.
Ao mesmo tempo em que rompe com esse clichê do gênero, "F1" aposta na plasticidade das corridas e nos efeitos especiais contemporâneos. Ainda acredita que a relação mestre-discípulo, que funcionou em "Maverick", poderia se repetir, trocando apenas o arquifocado Tom Cruise pelo piloto folgado, genial e anti-heroico de Pitt. Isso não funcionou tão bem desta vez. Afinal, F1 é o lugar por excelência em que os garotos vivem passando a perna nos veteranos.
Esses senões, diga-se, não desviarão os fãs de automobilismo da porta do cinema -sempre é bom ver seus carros adorados em formato Imax. Nisso, é certo que "F1" não vai decepcionar ninguém.
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2025/06/dramas-previsiveis-tiram-forca-da-plasticidade-das-corridas-em-f1-o-filme.shtml