Em seu novo livro "O primeiro leitor", Luiz Schwarcz "reconstitui uma vida de amor ao livro e trata da capacidade única desse objeto de atravessar o tempo pela memória."
O editor e escritor Luiz Schwarcz foi o convidado do Fim de Expediente desta sexta-feira (20). O editor conversou com Dan Stulbach, José Godoy e Teco Medina sobre o lançamento de seu livro "O primeiro leitor".
Luiz Schwarcz fundou a Companhia das Letras 1986 ao lado de sua esposa, Lilia Moritz Schwarcz. Em seu novo livro de memórias, Luiz Schwarcz "reconstitui uma vida de amor ao livro e trata da capacidade única desse objeto de atravessar o tempo pela memória. O editor-autor presta homenagem àqueles que influenciaram seu trabalho ao mesmo tempo que realiza uma imersão sensível no mundo dos livros."
No Fim de Expediente, Schawarcz fala sobre o papel do editor e a importância de "uma certa humildade" para entender o processo editoral:
"Em 'O primeiro leitor' eu tento colocar as posições corretas que devem ser assumidas. O editor tem um poder muito grande, porque decide o que vai ser editado e o que não vai ser editado. No entanto, é importante entender que quem realmente conta no processo de edição são os dois polos: o escritor e o leitor. O editor é um intermediário, a nossa obrigação, de certa forma, é tentar acertar. No meu caso, eu acho que reconhecendo que o artista é o escritor, e que o leitor é quem acrescenta a essa arte a sua própria leitura, joga o livro na imaginação para ele se perpetuar conosco. É isso que eu tentei fazer, uma certa humildade para reconhecer qual é o devido papel de cada um."
O editor abordou também o futuro do livro ao refletir sobre o "catastrofismo" de previsões que apostam na morte do livro físico. O assunto esteve em alta com a chegada dos ebooks, os livros digitais, e agora se coloca novamente com o crescimento dos audiolivros:
"Esse catastrofismo veio desde que o rádio foi criado, cada onda de inovação tecnológica ou de mídia faz com que as pessoas falem que vai acabar.... E, na verdade, no caso do livro eletrônico, teve um crescimento muito grande no começo nos Estados Unidos e agora ele está caindo. Aqui no Brasil ele não está caindo porque ainda é pequeno, ele representava uns 8% do faturamento de uma editora, hoje representa em torno de 10%. Mas nos Estados Unidos chegou a 30%, e agora está caindo muito, e uma valorização do livro físico está acontecendo. Então, agora estão falando que, com o audiobook, o livro vai acabar, e não vai acabar. Eu acho que o carisma do livro físico não vai acabar de jeito nenhum."
Harry Potter, Elena Ferrante: as 'comidas de bola' comerciais da Companhia
Luiz Schwarcz relembra algumas oportunidades comerciais perdidas pela Companhia das Letras, de livros que poderiam ter rendido grandes contratos caso houvessem sido publicados.
"A editora do Harry Potter era Liz Calder, a fundadora da festa de Paraty (Flip), ela era muito amiga minha. Antes do Harry Potter estourar mundialmente, quando estava começando a dar certo na Inglaterra, ela me deu essa informação. A minha mulher, que trabalhava com os livros infantis e juvenis estava fazendo a tese de doutorado dela, então nós nós delegamos a leitura pra um leitor profissional. E a leitora falou 'ah, tem livros melhores no Brasil', e nós não fizemos a oferta. Não posso nem pensar no nome dessa pessoa, risos. Mas foram vários, Elena Ferrante, Guerra dos Tronos..."
Por outro lado, Schwarcz conta que o livro "Rumo à Estação Finlândia", de Edmund Wilson, obteve um sucesso no Brasil que não havia conseguido nos Estados Unidos, onde foi publicado originalmente. Este foi o primeiro livro editado pela Companhia das Letras.
"Eu não tinha a menor ideia de que ia fazer sucesso, nem o editor americano. Nós vendemos mais aqui em três anos do que a vida inteira desse livro nos Estados Unidos, um clássico que era uma história do socialismo escrita por um crítico literário. Ele foi para o topo da lista, ficou no primeiro lugar de não-ficção durante meses. Realmente, isso acontece inesperadamente. Já o Mundo de Sofia, eu diria que foi um livro que a gente comprou e achava que poderia dar certo, mas passou de um milhão de exemplares. Esse caráter de imprevisto da nossa atividade é muito importante e é o que dá graça também."
Três livros que as pessoas não podem deixam de ler
"Eu acho que vou citar três clássicos brasileiros para não ficar em uma saia justa com outros autores, risos. 'Memórias Póssimas de Brás Cubas', de Machado e Assis; 'Triste Fim de Policarpo Quaresma', de Lima Barreto; e 'Grande Sertão: Veredas', de Guimarães Rosa."
O que faz um bom escritor?
"Eu acho que paciência, porque o trabalho é muito lento. Se não for feito com lentidão não vai ficar bom. Sensibilidade e grandeza de espírito para pensar no leitor, de certa maneira, para passar aquela coisa que vem dentro de si e que é tão humanamente compartilhável."
CNN
https://cbn.globo.com/programas/fim-de-expediente/entrevista/2025/06/20/fundador-da-companhia-das-letras-luiz-schwarcz-diz-que-o-carisma-do-livro-fisico-nao-vai-acabar-de-jeito-nenhum.ghtml