Ex-primeira-dama pode concorrer ao Senado ou mesmo ser titular ou vice em chapa presidencial nas eleições de 2026
Por Camila Zarur - Do Rio
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro tem se movimentado para se consolidar cada vez mais como uma das principais alternativas ao marido, Jair Bolsonaro (PL), na disputa à Presidência de 2026. Com o ex-presidente inelegível, pesquisas de intenção de voto vem mostrando Michelle como umas das opções favoritas de eleitores da direita para concorrer ao Planalto. Ela aparece empatada com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o nome mais cotado como substituto de Bolsonaro, em pesquisa Genial/Quaest divulgada neste mês.
Como presidente do PL Mulher, Michelle tem tido uma agenda intensa de viagens ao redor do Brasil para inaugurar diretórios estaduais do núcleo feminino do partido. Desde meados de 2023, a ex-primeira-dama já visitou os 27 Estados, segundo sua assessoria. Ela tem uma programação própria, independente da de Bolsonaro.
No fim de semana, quando o ex-presidente foi internado de emergência no Rio Grande do Norte, Michelle estava em Mato Grosso e, segundo interlocutores, voltou às pressas para Brasília por causa da transferência médica do marido para a capital. A internação e a cirurgia de Bolsonaro têm sido, inclusive, usadas como exemplo por aliados para mostrar o espaço que a ex-primeira-dama conquistou tanto no entorno do ex-mandatário quanto no PL.
De acordo com fontes ouvidas pelo Valor, Michelle "tomou as rédeas" de tudo relativo ao procedimento cirúrgico de Bolsonaro. Primeiro, foi ela quem decidiu trocar o médico que o atendia desde a facada, em 2018. Antes, Antonio Luiz Macedo foi o responsável pelas cirurgias que o ex-presidente fez desde que sofreu o atentado em Juiz de Fora, em setembro daquele ano. Agora, a ex-primeira-dama optou por substituir o médico por Cláudio Birolini.
'Boa esposa'
Com uma música instrumental ao fundo, as imagens focam na ex-primeira-dama. A cena faz referência ao rito cristão do "lava-pés", que foi feito por Jesus na Última Ceia e representa um gesto de humildade e servidão.
Michelle também restringiu as visitas ao ex-presidente, limitando-as apenas à família e à equipe médica. Alguns políticos e parlamentares chegaram a tentar visitar o ex-mandatário, mas tiveram o acesso negado.
Eleições 2026
Hoje, nos planos de Bolsonaro, o ex-presidente prefere que Michelle seja candidata ao Senado, seguindo a ideia de que a prioridade do ano que vem é conquistar maioria na Casa - capaz de pautar, por exemplo, pedidos de impeachment a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O cenário tido como mais possível é o da ex-primeira-dama concorrer pela vaga no Distrito Federal. A avaliação dentro do PL é que ela teria uma eleição tranquila para senadora.
Porém, segundo fontes do partido, Michelle tem conquistado cada vez mais apoiadores para um eventual projeto presidencial. De acordo com um parlamentar próximo à família, os filhos do ex-presidente diminuíram algumas das resistências que têm a uma candidatura da madrasta ao Planalto após o gesto que ela fez no ato bolsonarista da Avenida Paulista, em 6 de abril.
Na ocasião, Michelle chamou os filhos de Bolsonaro e os abraçou durante seu discurso. A atitude foi uma surpresa até mesmo para a família, já que a ex-primeira-dama não tem uma boa relação com Carlos e Jair Renan Bolsonaro, dois de seus enteados que foram abraçados por ela na manifestação. A decisão de fazer o gesto foi da própria ex-primeira-dama, que ligou na manhã daquele domingo para um coordenador do evento para confirmar quais dos filhos do ex-presidente estariam presentes no ato.
Entre os defensores da candidatura à Presidência de Michelle, o principal argumento é que ela é um coringa em qualquer posição na chapa ao Executivo federal, podendo ser titular ou vice. O motivo, alegam, é que a ex-primeira-dama é carismática, discursa bem e é capaz de engajar o eleitorado feminino, onde Bolsonaro costuma enfrentar mais resistência.
Os apoiadores de Michelle também defendem que, como mulher de Bolsonaro, ela é mais próxima do ex-presidente do que Tarcísio de Freitas, que, apesar de ser visto como fiel ao ex-mandatário, levanta certa desconfiança do entorno do líder bolsonarista por ter um projeto próprio na política.
Por outro lado, integrantes do PL também afirmam que Michelle, se quiser se lançar numa campanha nacional, precisa direcionar o discurso para além do eleitorado cristão, no qual ela já é forte, e se dirigir mais a um público mais amplo.
Procurada, Michelle não respondeu à reportagem.
Valor
https://valor.globo.com/politica/noticia/2025/04/16/michelle-se-movimenta-para-ser-protagonista-dentro-do-pl.ghtml
