Lula (PT), dom Angélico Sândalo Bernardino e o padre Toninho durante visita do presidente ao religioso - Arquivo pessoal |
Dom Angélico, bispo amigo de Lula, morre em SP aos 92 anos

Dom Angélico, bispo amigo de Lula, morre em SP aos 92 anos

Religioso enfrentou a ditadura e contrariou a CNBB ao criticar projeto que criminalizava o aborto

Mônica Bergamo

O bispo emérito de Blumenau (SC) dom Angélico Sândalo Bernardino morreu no fim da tarde desta terça (13), aos 92 anos.

Ele era um melhores amigos do presidente Lula, que o visitou no começo do mês e disse ao religioso que ele era "o maior bispo do Brasil".

Dom Angélico e Lula se conheceram na década de 1970, na época das grandes greves do ABC. Ele era bispo da pastoral operária.

"Ao longo de nossas vidas, dividimos muitos momentos e histórias. Eu o conheci durante as greves dos metalúrgicos do ABC, nos anos 1970 e 1980. Foi quando nos tornamos amigos", afirmou o presidente em suas redes sociais no dia da visita.

Dom Angélico, que tratava de uma ostiomielite no fêmur, ficou tão feliz com o encontro que chegou a se levantar, o que não conseguia fazer havia muito tempo, segundo o padre Antônio Leite Barbosa Júnior, o padre Toninho, da arquidiocese de São Paulo e braço direito do bispo.

Dom Angélico batizou os netos de Lula e de dona Marisa. Em 2017, ele deu a unção dos enfermos a ela no hospital Sírio-Libanês, onde a ex-primeira-dama estava internada por causa de um AVC. Depois da morte, rezou a missa de corpo presente e a missa de sétimo dia.

Um ano depois, Lula foi preso, exatamente em 7 de abril, dia do aniversário de Marisa. O petista chamou dom Angélico para que celebrasse um ato ecumênico em homenagem a ela antes de ser encarcerado.

Em 2022, o religioso celebrou o casamento de Lula com a atual primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.

Dom Angélico se notabilizou por enfrentar a ditadura militar. Ele era ligado ao então arcebispo de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns.

Destemido, contrariou a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e concedeu uma entrevista à coluna em junho do ano passado condenando o projeto de lei que previa a prisão de adolescentes que fizessem aborto, mesmo quando estupradas.

"O aborto é um crime. Está certo. Mas espera um pouco! A mulher é frequentemente a maior vítima dessa situação. O que mais há na sociedade é machismo", disse. No caso de mulheres estupradas que engravidam e fazem aborto, afirmou, a situação se agrava. "A pessoa jamais poderia ser punida, porque é vítima."

"Chegou o momento de focarmos nesta problemática de maneira global, e não somente de criarmos leis para aumentar a punição", pregou Dom Angélico.

O cardeal dom Odilo Scherer rezará missa de corpo presente na Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Vila Zat, em Pirituba, marcada para as 15 horas.

O corpo em seguida segue para Blumenau, em Santa Catarina, onde dom Angélico será sepultado.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, se reuniu no domingo (13) com ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), desembargadores, juízes, advogados e defensores públicos para uma conversa em torno da PEC da Segurança, uma proposta de emenda à Constituição que pretende criar um sistema único que coordene as ações de prevenção e repressão ao crime em todo o país. O encontro foi organizado pelo coordenador do grupo Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, e pelos advogados Pierpaolo Bottini e Sergio Renault.

com KARINA MATIAS, LAURA INTRIERI, MANOELLA SMITH e VICTÓRIA CÓCOLO

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2025/04/dom-angelico-bispo-amigo-de-lula-morre-em-sp-aos-92-anos.shtml