O presidente Lula durante entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto - Gabriela Biló /Folhapress |
Lula diz que eleição está longe 10 dias após afirmar que 2026 já começou

Lula diz que eleição está longe 10 dias após afirmar que 2026 já começou

Presidente minimiza queda na aprovação e afirma que é preciso ter paciência

O presidente Lula (PT) afirmou nesta quinta-feira (30) que considera cedo para a realização de pesquisas de intenção de voto a respeito da corrida presidencial de 2026.

A fala vem poucos dias após ele próprio ter declarado que "2026 já começou" e também em um momento de queda na aprovação de seu governo.

Lula ainda disse que não se importa com o resultado das pesquisas e que considera prematura a divulgação de levantamentos de avaliação, considerando que seu mandato ainda está na metade.

"Você tem primeiro ano de governo. Como ganhou eleição, o povo tem muita expectativa e está tranquilo. No segundo ano, seja com presidente, governador, ou prefeito, começa o povo a ver se a expectativa que ele tinha está sendo cumprida", afirmou.

O presidente então disse que costumava conversar com o ex-ministro Paulo Pimenta (Secom) para ele não se preocupar com o resultado das pesquisas, porque "a gente não está entregando o que prometeu".

"Então como é que o povo vai falar bem do governo se a gente não tá entregando? É preciso ter muita paciência. Primeiro que não sou um cara que se preocupa com pesquisa. Não é feita para gostar ou não, é para analisar, verificar se tem fundo de verdade e começar a fazer correções necessárias. É muito cedo para fazer pesquisa sobre 2026, muito cedo para avaliar o governo com dois anos de governo."

Levantamento da Quaest, divulgado na segunda-feira, mostrou que pela primeira vez no terceiro mandato a avaliação negativa do governo Lula superou a positiva.

A pesquisa mostrou que 37% avaliam negativamente o governo, um crescimento de seis pontos em relação à última sondagem, em um intervalo de um mês e meio. A gestão é considerada positiva por 31% dos entrevistados e avaliada como regular por 28%. Outros 4% não souberam ou não quiseram responder.

Em outro momento de sua fala nesta quinta, Lula também questionou os rumores sobre eventuais alianças no próximo ano. "Se o Republicanos vai me apoiar ou não em 2026, deixa chegar, gente. Não vamos antecipar dois anos. O meu problema agora é fazer com que 2025 seja o ano da melhor colheita política desse país para o meu governo", afirmou.

Na mesma linha, também disse ter dado risada da fala do presidente do PSD, Gilberto Kassab, de que o PT seria derrotado se a eleição presidencial fosse hoje.

"Quando eu vi a história do companheiro Kassab, eu comecei a rir. Eu olhei no calendário e vi que a eleição vai ser só daqui a dois anos. Eu fiquei muito despreocupado, porque hoje não tem eleição", afirma.

O petista concedeu entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto. A conversa acontece em meio à mudança na Secom (Secretaria de Comunicação Social), com a chegada do publicitário Sidônio Palmeira, que já alertou aliados que pretende dar mais visibilidade ao presidente.

O próprio mandatário afirmou que pretende repetir rotineiramente essas conversas com a imprensa. O formato da entrevista também é uma novidade no atual governo, com o aviso em cima da hora e sem uma pauta específica.

Lula até chegou a fazer cafés com a imprensa, periodicamente. No entanto o formato buscava preservar mais o presidente, marcando um certo distanciamento físico em relação aos jornalistas. Além disso, eram menos perguntas feitas ao mandatário.

Participaram da entrevista os repórteres de veículos que fazem a cobertura diária do Palácio do Planalto. Dez profissionais que fazem a cobertura diária do Planalto foram sorteados para fazer perguntas. Eles são dos veículos O Globo, Rede TV!, TV Meio Norte, UOL, R7, ICL, Rádio Gaúcha, Platô, Broadcast e Valor.




Durante reunião ministerial no último dia 20, Lula disse que a corrida presidencial de 2026 já havia iniciado e que ele não queria entregar o país "de volta para o neonazismo".

"Dois mil e vinte e seis já começou. Se não por nós, porque temos que trabalhar, capinar, temos que tirar todos os carrapichos, mas pelos adversários, a eleição do ano que vem já começou. Só ver o que vocês assistem na internet para ver que já estão em campanha. A antecipação de campanha para nós é trabalhar, trabalhar, trabalhar e entregar o que o povo precisa", disse.

REFORMA MINISTERIAL

A entrevista no Palácio do Planalto durou cerca de uma hora, período no qual o presidente foi questionado por assuntos de política, relações internacionais e economia.

Lula desconversou ao ser questionado sobre a entrada no governo da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). Elogiou bastante a correligionária, disse que ela é um "quadro refinado" e que seria "ministra em qualquer país do mundo", mas evitou declarar que ela ocupará um cargo.

O presidente já avisou a aliados que Gleisi vai assumir um ministério na reforma ministerial. Ela deve ser nomeada ministra da Secretaria-Geral da Presidência, que ocupa um gabinete dentro do Palácio do Planalto e tem entre suas atribuições a relação com os movimentos sociais.

Lula também tergiversou sobre a realização de uma reforma ministerial mais ampla. Disse de uma maneira genérica trocar um nomeado é "com o mesmo carinho" com que o convidou para entrar em seu governo.

O presidente foi questionado sobre a hipótese de serem nomeados os atuais presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) -os dois são cotados para virarem ministros.

Ao responder, Lula não fez nenhuma menção a Lira. "Se eu pudesse falar, eu falaria [sobre reforma ministerial]. Mas o que eu quero é que o Pacheco seja governador de Minas Gerais", afirmou.

No encontro, o presidente afirmou que quem quiser derrotar seu governo precisará ir para a rua.

"Digo sempre que quem quiser derrotar o meu governo tem que aprender a fazer luta de rua [...] esse é meu tipo de governar e fazer com que as coisas deem certo no Brasil", afirmou.

O mandatário disse estar "100% recuperado" e "pronto para todas as lutas", após cirurgia no crânio para interromper o fluxo de sangue. O problema é decorrente de uma queda no banheiro da residência oficial do Palácio da Alvorada. Lula disse que foi autorizado a viajar e que a primeira será para anunciar investimentos da Petrobras, sem precisar quando e o local.

Marianna Holanda , Renato Machado , João Gabriel e Mariana Brasil

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/01/lula-diz-que-eleicao-esta-longe-10-dias-apos-afirmar-que-2026-ja-comecou.shtml