Presidente defende que eleger senador é mais importante que governador e que o PT pode abrir mão de candidaturas para ajudar aliados até de centro-direita
Por Victoria Bechara, Laísa Dall'Agnol
O ex-presidente Jair Bolsonaro vem dizendo há algum tempo que uma de suas prioridades para 2026, além de tentar voltar ao Palácio do Planalto (hoje está inelegível), é conquistar maioria no Senado, que terá 54 das suas 81 cadeiras em disputa na próxima eleição. Por trás do plano está a crença de que, dominando a Casa Alta do Congresso, a direita radical conseguiria dar andamento a pautas difíceis que estão no topo de sua agenda, como a limitação dos poderes do Supremo Tribunal Federal e o impeachment de ministros da Corte. O rufar dos tambores do lado bolsonarista para a batalha que se avizinha já foi ouvido no Palácio do Planalto, mais especificamente no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que começou a alertar a sua tropa de que o desfecho dessa guerra será decisivo ao futuro de um novo governo.

A contraofensiva de Lula para impedir a vitória bolsonarista tem uma estratégia bastante clara: se não é meu inimigo, é meu amigo. O presidente tem dito a interlocutores de sua base, em especial de seu partido, o PT, que vencer a eleição para o Senado é mais importante do que conquistar governos estaduais e que, para isso, pode ser necessário apoiar políticos de outros endereços partidários, mesmo que de centro-direita, desde que tenham compromisso com a democracia e disposição ao diálogo com eventual novo governo liderado por ele.
Para isso, é muito provável que o PT tenha de abrir mão de algo que lhe é muito caro: o protagonismo. Já fez esse movimento, é verdade, na eleição de 2024, quando abraçou Eduardo Paes no Rio de Janeiro e outros candidatos de centro e centro-direita em colégios eleitorais importantes diante do risco de uma vitória bolsonarista. Mas pode ser que essa disposição tenha de ser ampliada para 2026. O raciocínio embute, por exemplo, apoiar Arthur Lira (PP) e Renan Calheiros (MDB) em Alagoas, dois caciques com os quais Lula tem diálogo - o presidente, aliás, já disse que poderia apoiar a dupla ao Senado. Também pode incluir abrir mão de seu melhor candidato ao governo, como no Rio Grande do Sul, onde o ministro Paulo Pimenta pode ir para a disputa ao Senado. No estado, não está descartado apoiar para senador o atual governador Eduardo Leite (PSDB), eventualmente crítico ao partido, e fechar caminho a nomes da direita.
ALIADOS, TCHÊ - Paulo Pimenta e Eduardo Leite: PT cogita abraçar candidatura do governador, que é crítico ao partido (Jürgen Mayrhofer/Palácio Piratini/.)O esforço por uma "frente ampla" ao Senado terá de ser maior, provavelmente, em regiões mais bolsonaristas, como Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Um exemplo é Mato Grosso, onde o primeiro da fila de Lula é o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, senador licenciado pelo PSD, mas que terá de renovar seu mandato em 2026. Fiador do petista no mundo inóspito do agronegócio, Fávaro terá de enfrentar dois caciques do estado, o atual governador, Mauro Mendes, e o ex-governador e hoje senador Jayme Campos, ambos do União Brasil. Por esse motivo, mesmo o PT tendo chegado competitivo ao segundo turno em Cuiabá, com Lúdio Cabral, o mais provável é que o partido fique fora da disputa ao Senado. "Precisamos deixar de lado os interesses do partido e garantir o maior número de eleitos na base de Lula", diz o deputado estadual Valdir Barranco, presidente do PT no estado. Até em regiões em que o petismo é forte a sigla vai ter de abrir mão em nome de um aliado cuja vitória é mais certa. É o caso de Pernambuco, onde um dos candidatos de Lula será o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos).



Do outro lado da trincheira, Bolsonaro dá mostras de que vai usar tudo o que tem à disposição para construir maioria no Senado, inclusive a família. O ex-presidente deve escalar para a disputa a ex-primeira-dama Michelle e os filhos Carlos, Eduardo e Flávio - este último terá de renovar o mandato obtido em 2018, provavelmente em dobradinha pelo PL com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. Por isso, Carlos terá de buscar a vaga por outro estado - já se falou de Goiás e Santa Catarina. Michelle tentará o posto pelo Distrito Federal, que deu um mandato em 2022 à ex-ministra Damares Alves (Republicanos), companheira quase inseparável e provável cabo eleitoral da ex-primeira-dama. Já Eduardo, que tem um histórico recente de campeão de votos em São Paulo, vai tentar a vaga pelo estado, a não ser que se transforme no plano B do pai para a corrida ao Palácio do Planalto em 2026 - o que é uma probabilidade a não ser descartada. Bolsonaro também deve apostar em aliados como os ex-ministros Marcelo Queiroga e Gilson Machado. Também terá nas suas fileiras alguns radicais de direita que foram bem nas urnas nas últimas eleições municipais, como Cristina Graeml (Curitiba), André Fernandes (Fortaleza), Fred Rodrigues (Goiânia) e Alberto Neto (Manaus) - os três últimos de seu partido, o PL.

TROPA DE CHOQUE - Damares e Marcos Pontes: cinco ministros de Bolsonaro se elegeram em 2022 (Edilson Rodrigues/Agência Senado)
REFORÇO - Mourão: senador ajudou a aumentar presença da direita na Casa (Pedro França/Agência Senado)Veja
https://veja.abril.com.br/brasil/lula-coloca-em-marcha-plano-para-impedir-dominio-bolsonarista-no-senado/





