Rodrigo Sauaia, presidente-executivo da Absolar | Imagem: Senado Federal
Rodrigo Sauaia, da Absolar, defende fontes alternativas e armazenamento de energia juntos em leilão

Rodrigo Sauaia, da Absolar, defende fontes alternativas e armazenamento de energia juntos em leilão

Presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia concedeu uma entrevista ao site da Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (Armazene), reproduzida aqui por IPO News, sobre as expectativas para inclusão dos sistemas de armazenamento de energia no próximo leilão de reserva de capacidade por potência, previsto para acontecer no dia 30 de agosto, no âmbito do Ministério de Minas e Energia (MME). Acompanhe a entrevista exclusiva com o dirigente da Absolar:

1) Qual a sua expectativa quanto à inclusão dos sistemas de armazenamento de energia no próximo leilão de reserva de capacidade por potência, em agosto?

Rodrigo Sauaia - A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) defende, desde 2019, um trabalho mais estruturado para inserção do armazenamento de energia elétrica no Brasil. Nós montamos uma força-tarefa, que depois se tornou um grupo de trabalho permanente em 2019, e desde então temos aprofundado nosso trabalho pela incorporação do armazenamento de energia. Diante disso, quando a gente olha esse próximo leilão de reserva de capacidade, que pode ser realizado ainda neste ano de 2024, a Absolar defende que é fundamental não perder a oportunidade de inserir as tecnologias de armazenamento em conjunto com fontes renováveis - solar, eólica, eventualmente uma combinação de diferentes tecnologias renováveis - para participar desse leilão. Isso porque, tecnicamente, está mais do que comprovado que o armazenamento pode suprir uma demanda importante das necessidades do Operador Nacional do Sistema, especialmente aquelas relacionadas a espaço mais de curto prazo de até algumas horas, que corresponde a maioria do volume de espaço demandado pelo sistema elétrico brasileiro, segundo estudo da própria Empresa de Pesquisa Energética, de tal modo que a gente consiga ter o resultado mais efetivo, de melhor custo-benefício para a sociedade, ajudando inclusive a reduzir custos para os consumidores brasileiros. Então, nós defendemos a inclusão dos sistemas de armazenamento juntamente com fontes renováveis nesse próximo leilão de reserva de capacidade. Isso poderia ser feito sem a necessidade de inovação regulatória ou legal, quer dizer, com as regras já vigentes. Isso é possível, e é uma defesa que a Absolar em feito desde a primeira realização de um leilão de reserva de capacidade há alguns anos, realizado pelo Ministério de Minas e Energia. Esse leilão teve a participação apenas de termelétricas, o que infelizmente acabou por aumentar a participação de fontes fósseis, não renováveis, mais caras e poluentes, para o suprimento das necessidades da matriz elétrica brasileira. Por isso, nós entendemos que é fundamental que haja a incorporação das fontes renováveis com o armazenamento e também a participação das hidrelétricas e de novas tecnologias, como outras formas de armazenar energia como as hidrelétricas reversíveis.



2) Seguidos encontros para discutir o tema (Fiesp, audiência pública e o seminário do MME em Brasília) estão ajudando a esclarecer dúvidas e avançar nesse processo de inclusão dos sistemas BESS?

Rodrigo Sauaia - Desde 2019, quando começamos nosso trabalho mais dedicado para o armazenamento de energia elétrica, a Absolar tem organizado eventos, reuniões, workshops, discussões técnicas com o setor público e com as principais organizações do setor elétrico, além do setor privado, para que possamos amadurecer e avançar na adoção desse nova tecnologia que já é realidade há cinco ou 10 anos em outros países, comprovando que o Brasil está atrasado na adoção de armazenamento de energia na matriz elétrica, e precisa de fato acelerar. O evento da Absolar dedicado ao armazenamento e ao hidrogênio verde na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (realizado no inicio de abril), reforçou esse compromisso da entidade com o avanço do armazenamento de energia elétrica no Brasil, uma tecnologia que nós identificamos que tem imensas sinergias com a solar e a fotovoltaica, e pode representar também uma grande oportunidade para atração de investimentos, geração de novos empregos verdes no território nacional e aumento da arrecadação do poder público. Nós também participamos de audiências publicas, consultas publicas, como da Aneel, do MME e do Congresso, quando abordam esse assunto. E também do recente seminário do MME (realizado na última sexta-feira, dia 24), buscando superar eventuais inseguranças ou desafios identificados para incorporação da tecnologia do armazenamento no leilão de reserva de capacidade, para que se possa avançar em direção já para esse mesmo leilão em 2024. São várias ações implementadas e realizadas pela Absolar em conjunto com os nossos associados que atuam ou têm interesse em armazenamento de energia - totalizando mais de uma centena de associados.

3) Estimativas publicadas pela imprensa dão conta de que a inclusão de sistemas de armazenamento em baterias no próximo leilão pode atrair uma oferta de até 2 GWh de projetos de armazenamento. As empresas nacionais e as internacionais lotadas aqui podem dar conta dessa instalação e manutenção?

Rodrigo Sauaia -  O volume total de suprimento, da necessidade de reserva de capacidade, que poderia ser suprido pela bateria em conjunto com as fontes renováveis, dependerá das condicionantes, das regras, do edital, dos requisitos técnicos que serão utilizados no desenvolvimento desse leilão. Por isso, antes de dizer o volume específico de oferta, que pode ser inclusive maior do que os divulgados em matérias da imprensa ou eventualmente em estimativas preliminares, é importante que a gente possa trabalhar para ter clareza das condições de contratação, para que tenha mais visibilidade de valores, e também quanto isso pode representar em investimentos, empregos e arrecadação. Mas é importante dizer que empresas nacionais e internacionais com atuação no Brasil seguramente podem fazer frente à essa oportunidade com a participação dos sistemas de armazenamento de energia e fontes renováveis no leilão de reserva de capacidade, uma vez que esse já é um processo que acontece com muita tranquilidade em vários países do mundo. China, Estados Unidos, Reino Unido, mesmo os nossos quase vizinhos aqui na América do Sul (Chile), já realizaram leilões para incorporação de baterias em seus sistemas elétricos, com resultados bastante positivos. Por isso, nós não temos nenhuma dúvida de que o setor está preparado para atender a essa demanda, assim como quando foi realizada a incorporação da tecnologia solar fotovoltaica nos primeiros leilões do Governo Federal, naquele caso para contratação específica de energia elétrica. E o mercado prontamente se articulou, se capacitou para fazer frente a essa demanda. A tecnologia está madura, as empresas tem conhecimento, expertise já desenvolvida em outros mercados, e várias empresas nacionais com competência que estão preparadas para fazer frente à essa oportunidade.

4) Nos últimos encontros para discussão do tema, o senhor tem apontado diversos pontos positivos dos sistemas de armazenamento, como segurança, confiabilidade e geração de empregos, e que já há um arcabouço legal respaldado por inúmeras experiências globais e mesmo locais, como o sistema (por exemplo) da ISA Cteep em Registro (SP). Se viabilidade técnica não é mais um problema, há que se tomar uma decisão política, e rápida?

Rodrigo Sauaia - A incorporação do armazenamento de energia elétrica no Brasil não tem nenhuma inviabilidade técnica, a tecnologia está mais do que madura e sua utilização já foi comprovada em vários outros mercados. Foi o que nós mostramos na nossa apresentação durante a audiência pública no último dia 7 de maio na Comissão de Minas e Energia na Câmara Federal. Além disso, a gente percebe também que, economicamente, essa tecnologia já está pronta, no sentido de que a sua incorporação tem produtos adequados voltados para os atributos e benefícios que essas tecnologia podem agregar à matriz elétrica brasileira, e ajudariam a reduzir os custos globais para os consumidores do ponto de vista de suprimento de reserva de capacidade, de atendimento da necessidade de potência sistêmica, identificada pelo Operador Nacional do Sistema e pela Empresa de Pesquisa Energética. Isso dito, já que não existe inviabilidade técnica e muito menos econômica - haverá inclusive um ganho do ponto de vista para os consumidores - importante dizer que existe um terceiro ganho, que é o ganho ambiental, uma vez que o armazenamento de energia elétrica combinado com fontes renováveis não emitem gases do efeito estufa. Portanto, é um modelo que apoia e fortalece a transição energética sustentável no Brasil, diminuindo a necessidade de acionamento das termelétricas fósseis, mais caras e muito mais poluentes. Então, existem esses três pilares que mostram a viabilidade do armazenamento de energia. Agora estamos no momento de tomada de uma decisão, de fato, que seja tomada do ponto de vista de uma liderança política. Vimos esse processo acontecer no passado com a inclusão de novas tecnologias para diversificar a matriz elétrica brasileira. Isso aconteceu com sucesso para a fonte eólica, para pequenas centrais hidrelétricas, para biomassa. Aconteceu com sucesso na sequência para fonte solar fotovoltaica, e começa a acontecer com a inclusão do biogás. E foi um passo estratégico para adoção do etanol e do biodiesel. O próximo passo nessa evolução, nesse aprimoramento, está na inclusão dos sistemas de armazenamento de energia com os seus diversos benefícios. É fundamental agora que de fato haja essa sensibilidade, vontade política, e essa liderança e decisão que nós acreditamos que tem sido demonstrada pelos ministros de Minas e Energia (Alexandre Silveira) e da Casa Civil (Rui Costa), que têm se manifestado publicamente pela importância da inclusão do armazenamento de energia no próximo leilão. É fundamental também que haja essa sensibilidade do ponto de vista do Congresso Nacional - deputados e senadores - para que o Brasil não perca a oportunidade de avançar na incorporação dessa tecnologia no nosso país já no ano de 2024.