"Oppenheimer"- Idem, Estados Unidos, 2023 Direção: Christopher Nolan, Netflix |
''Oppenheimer'', uma lição de ética que diz respeito à humanidade, por Eleonora Rosset

''Oppenheimer'', uma lição de ética que diz respeito à humanidade, por Eleonora Rosset

O filme "Oppenheimer" era para ter como título "O Prometeu Americano", alusão ao titã mitológico grego que rouba o fogo dos deuses para presentear a humanidade e é, por isso, severamente castigado por Zeus.

Acorrentado a uma pedra, todos os dias era bicado no fígado por uma águia. Metaforicamente, o fogo significaria o conhecimento.

Mas o livro, de 2005, no qual o filme foi baseado, assumiu a figura do titã, intitulado "American Prometheus: The Triunph and Tragedy of O. Robert Oppenheimer" de Kai Bird e Martin Shervin. Então, o que vamos ver é longe de ser somente uma biografia do físico teórico que nasceu em Nova York em 22 de abril de 1904 e morreu em 18 de fevereiro de 1967, em Princeton, Nova Jersey.

Vamos ver, pelos olhos de Christopher Nolan, o diretor, o que se passa no mundo durante a vida do "Pai da Bomba", como foi conhecido. E aprender uma das histórias mais importantes para toda a humanidade.

Tudo começou quando o jovem físico teórico estava na Alemanha, em 1920, fazendo seus estudos em física quântica. Angustiado, lê T.S. Elliot, "The Waste Land", escuta Stravinsky e observa uma tela de Picasso. Signos do século XX aos quais vai se juntar o cogumelo mortal que já nascia em sua mente.

Depois vai para Berkeley, professor ensinando jovens gênios em 1930. Ali ele desenvolve suas teorias mais complexas.

Logo, estará em laboratórios secretos montando Trinity, o monstro. São os anos 40 e a Segunda Guerra mata na Europa. O medo de Oppenheimer é que os nazistas consigam engendrar a bomba antes dele.

Fascinado pelo livro hinduísta sagrado, o Bhagavad-gita, Oppenheimer aprende o sânscrito para lê-lo. E, quando foi detonada a bomba em 16 de julho de 1945, veio à cabeça dele a frase mais conhecida do livro sagrado: "Agora me torno a Morte, destruidora de mundos". Alguma culpa nessa frase?

A equipe técnica que ajudou Nolan a transformar em imagens em preto e branco e coloridas o que tinha na cabeça, foi impecável. O som que nos grita o horror pelo que está acontecendo nos aperta o peito.

Os olhos azuis arregalados de Cillian Murphy nos fazem perguntas que não conseguimos responder. Oppenheimer foi uma mente genial mas pouco ligada às consequências de seus atos. E o ator nos passa isso com seu olhar.

O elenco é liderado por Robert Downey Jr, Emily Blunt, Matt Damon e Kennedy Branagh, com Tom Conti como Einstein; e Gary Oldman como Harry Truman. Todos enfim, perfeitos.

O filme tem uma mensagem clara a ser decodificada como as consequências de um gênio que poderia ter sonhado com algo oposto à morte antecipada do planeta.

A última cena é um pesadelo terrível, tendo Oppenheimer como um observador distante. Triunfo e tragédia.

Precisamos de gênios que tenham amor à humanidade.

Não foi o caso do "Pai da Bomba" que abriu as portas do perigo que são as armas nucleares que matam em massa sem dó nem piedade.

(O trailer está no meu blog: www.eleonorarosset.com.br)