Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Morais | Imagem: © Ricardo Stuckert/PR
Escritor e jornalista Fernando Morais assume agência internacional de notícias

Escritor e jornalista Fernando Morais assume agência internacional de notícias

Primeiro brasileiro à frente da IPS quer combate à desinformação e reforçar cobertura em defesa do meio ambiente

Consagrado na arte da biografia, o jornalista brasileiro Fernando Morais passa a escrever uma nova história na sua carreira. Ele assumiu, neste mês de novembro, a Inter Press Service (IPS), uma agência internacional de notícias com 59 anos de serviços, com escritórios e correspondentes nos cinco continentes. Morais foi eleito por unanimidade pela equipe de 13 diretores do veículo para um mandato de três anos.

Trata-se de uma agência de notícias que tem por meta levar informação sobre grupos marginalizados ao mundo inteiro. A nova tarefa acontece enquanto ele também chega na reta final da produção do segundo volume da biografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em entrevista à Agência Brasil, Fernando Morais considera a nova missão como um "desafio gigantesco" em uma agência de quase 60 anos de existência. "Uma agência que tem uma capilaridade no mundo inteiro e que nasceu na época do auge da Guerra Fria, no momento em que surgia também o movimento de países não alinhados, nações que mantinham uma distância dos Estados Unidos e União Soviética".



A capa do mais recente livro do Fernando Morais

A IPS tem sede em Roma e deve ser transferida para Madri. Segundo o jornalista Carlos Tibúrcio, diretor da IPS Latino-Americana e assessor especial da Presidência, com Fernando Morais a agência terá sede também em São Paulo, a partir de abril de 2024.

Fernando Morais relembrou que a relação dele com a agência era antiga, como cliente. "Em algum dos veículos em que eu trabalhei, se utilizava material da IPS. É uma tarefa de tamanho gigante. Mas estou muito animado e disposto".

Morais destaca que a agência tem uma característica híbrida porque traz conteúdos de diferentes gêneros, incluindo materiais sobre problemas de países, principalmente pobres, da região do Sul Global.

Meio ambiente em pauta


Ele entende que a IPS considera uma das suas principais prioridades a relação com reportagens, ensaios e reflexões sobre a defesa do meio ambiente. "Na agência, é possível encontrar uma preocupação com a defesa do meio ambiente".

Morais disse que a IPS tem um compromisso já histórico com temas aprofundados sem perder o olhar sobre os fatos cotidianos. "(É necessário) até para atrair mais leitores, criar vínculo diário ou semanal com os seus leitores e, ao mesmo tempo, com os clientes da IPS, que são veículos espalhados por todo o planeta".

Onda de desinformação


Fernando Morais avalia que a onda de desinformação pela qual o mundo passa no século 21 sempre existiu. Para ele, no entanto, a disseminação de mentiras pela internet tornou a prática devastadora. "Se houver condições materiais para multiplicar mentiras para milhões de leitoras, de espectadores, de internautas, transforma-se a mentira na verdade".

Morais lembra que as eleições dos Estados Unidos que elegeram Donald Trump presidente entre 2017-2021, fizeram com que ele ficasse escandalizado. "A disseminação das mentiras era infinitamente maior do que a do desmentido. Então, eu vi coisas horrorosas, acusações de que Hillary Clinton (a adversária nas eleições) era acusada de crimes não cometidos". De igual maneira, ele considera que tenha ocorrido o mesmo no Brasil.

O jornalista ressalta que a internet possibilita uma comunicação personalizada. O lado ruim, segundo ele, é que a desinfomação pode dar um tiro certeiro com as mesmas ferramentas. "A mentira pode chegar exatamente onde se está querendo. Entendo que uma agência que tenha a respeitabilidade e a credibilidade que tem a Inter Press pode dar uma grande contribuição na guerra contra a desinformação e contra a manipulação da informação".

Prêmios e biografias


Fernando Morais tem carreira reconhecida na imprensa brasileira, incluindo ganhar três vezes o Prêmio Esso. Em 2001, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Corações Sujos. Suas obras já chegaram a 38 países. Entre os trabalhos, A Ilha, Olga, Chatô: o Rei do Brasil e Lula, volume 1. O volume 2 sai em março, segundo o escritor. Além desse trajetória consagrada, Morais também foi deputado federal e secretário de Cultura e Educação do Estado de São Paulo.

O seu mais recente trabalho a chegar nas livrarias é "Montenegro: As aventuras do marechal que fez uma revolução nos céus do Brasil". É uma nova versão da biografia lançada em 2006 e que conta a história de Casimiro Montenegro Filho, o militar que criou o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e o Correio Aéreo Nacional, além de ter preparado terreno para a criação da Embraer, hoje uma das maiores fabricantes de aviões do mundo.

Nesta semana, Lula cumprimentou o escritor pelo novo cargo. "Fico muito feliz em ver agora o meu amigo e biógrafo dirigindo uma agência internacional dessa relevância", afirmou o presidente.

(Com informações da Agência Brasil e da Redação)