Imagem: Ricardo Stuckert
O interlocutor de Lula que vai da Faria Lima à periferia de SP

O interlocutor de Lula que vai da Faria Lima à periferia de SP

Em tom de desabafo, o presidente eleito Luiz Inácio da Silva (PT), afirmou semana passada que é "mais difícil montar o governo do que ganhar as eleições". A fala aconteceu em um momento em que Lula, um líder experiente e que caminha para assumir o seu terceiro mandato, ainda administra uma difícil montagem de ministério, em que tenta acomodar todos os aliados da Frente Ampla que o elegeu em outubro.

O episódio foi relatado há poucos dias por Andrea Jubé no jornal Valor, onde a jornalista é repórter de política. E comprova que "Lula não faz só o que quer", como assinalou o deputado e líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes. Ele próprio desistiu de concorrer ao Senado para acomodar alianças do novo governo com o PSD em Minas Gerais.



Lula e Marco Aurélio de Carvalho - Divulgação

"Lula não faz só o que quer, faz o que pode ser feito", emendou outro interlocutor do presidente eleito, para ilustrar a situação. A repórter traz à tona como exemplo dessa costura a recente escolha do novo titular da Secretaria Geral da Presidência, Márcio Macedo. Três nomes atuantes no cenário político estavam no radar para esse cargo. O próprio Macedo, integrante da Executiva Nacional e aliado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann; Emídio de Souza, ex-prefeito de Osasco, deputado estadual reeleito e recente coordenador da campanha de Fernando Haddad ao governo de São Paulo; e o advogado e fundador do Grupo Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho.

Diante da escolha que pendeu para Márcio Macedo, o deputado Emídio de Souza cogita agora permanecer em São Paulo e exercer o seu mandato na Assembleia Legislativa. Mas seu nome passou a ser sondado para diretor-geral da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), um importante cargo do segundo escalão que é vinculado ao atual Ministério da Economia.

Nome que era visto com bons olhos para a secretaria geral devido à sua interlocução com os movimentos sociais, Marco Aurélio de Carvalho também foi sondado para assumir uma função estratégica dentro da política social que Lula deseja imprimir em seu terceiro mandato: a presidência do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado "Conselhão", que reúne trabalhadores, empresários e sociedade civil para discutir projetos para o País.

Militante do PT desde sua juventude, "MAC", como é chamado por alguns amigos mais próximos, é hoje um advogado bem sucedido na área empresarial. E como não deseja sair da sociedade que mantém com colegas juristas, aceitou fazer parte do Conselhão, mas não como seu presidente. Nesse colegiado, irá atuar como um jogador de futebol que cai na posição exata dentro de campo: ajudar a manter os movimentos sociais próximos de Lula, além de conversar com empresários em parceria com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, futuro ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

No frigir dos ovos, Marco Aurélio terá uma missão expandida e mais sensível, já que na secretaria geral, como lembra a jornalista do Valor, ele só acompanharia os movimentos sociais. Vai falar, portanto, com um escopo que vai da "Faria Lima à periferia", o que exemplifica essa expansão de responsabilidades.


Márcio Toledo, Marta Suplicy e Luiz Inácio Lula da Silva

Em São Paulo, onde atua profissionalmente, Marco Aurélio é um dos organizadores, à frente do Grupo Prerrogativas, do "Natal dos Catadores", evento em que Lula comparece religiosamente todos os anos desde a primeira versão, quando veio com a então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.

Os catadores realizam um importante trabalho na capital paulista com a reutilização de materiais recicláveis, que coletam sobretudo com o uso de carroças e carrinhos de mão. Têm sua base no bairro dos Campos Elísios, região central de SP, e aguardam todos os anos com muita ansiedade e esperança renovada a vinda de Lula.

Na mais recente versão, realizada no dia 15 de dezembro com a presença de cerca de 1.000 pessoas - a maioria catadores -, o presidente eleito lembrou em sua fala da primeira visita a esse festejo de Natal. E disse: "Eu lembro, Marta, de uma visita que fizemos às ruas de São Paulo. Foi quando viemos ao primeiro Encontro dos Catadores, em 2004", disse Lula.

Com a sensibilidade de quem conhece a realidade das capitais e do País, Lula também afirmou: "eu vou ser presidente em 1º de janeiro, e quero um encontro com o povo de rua aqui em São Paulo... Vejo mulheres e crianças dormindo na rua. Nunca tinha visto o que vi nas ruas de São Paulo. Depois da posse, trarei os ministros para ver isso. Os brasileiros que foram abandonados pelos governos", criticou, dando mostras da dimensão que terá o principal estado brasileiro nesse processo e que incluirá sobretudo as pessoas que se articulam localmente com os movimentos sociais, com os trabalhadores e com o empresariado.