Em um mundo constantemente conectado, um discurso forte e direcionado ao mercado norte-americano pode resvalar de imediato na economia de outros países e no bolso dos principais players das bolsas de valores, da indústria de tecnologia, do comércio e dos serviços. Foi o que aconteceu nesta sexta-feira, dia 26, logo após a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
Reunido com seu time em Jackson Hole, o chefe do banco central dos EUA passou uma mensagem mais dura e menos otimista com relação ao futuro dos juros no país. Disse que as taxas vão baixar, mas não agora, deixando em aberto a possibilidade de aumentos mais parrudos ainda este ano.
De pronto, as bolsas de Wall Street reagiram com mau humor, levando o mercado para um frenesi que, segundo a Bloomberg, pulverizou US$ 78 bilhões das fortunas de alguns dos principais bilionários do planeta. A começar do número 1 da lista: Elon Musk, da Tesla e Space-X, que viu US$ 5,5 bilhões de suas ações irem para o ralo. Prejuízo um pouco menor que o sofrido por Jeff Bezos, que viu sua Amazon perder US$ 6,8 bilhões.
Ainda de acordo com o Bloomberg Billionaires Index, a fortuna de Bill Gates, da Microsoft, diminuiu em US$ 2,2 bilhões, quase a mesma perda de Warren Buffet, do Berkshire Hathaway, que foi de US$ 2,7 bilhões. "Café pequeno" para esses dois veteranos do mercado, perto de outros bilionários.
O tombo dos sócios do Google foi bem além de Gates e Buffet, já que Larry Page e Sergei Brin foram aliviados em seus bolsos em US$ 5 bi e US$ 4,7 bilhões, respectivamente.
O discurso de Jerome Powell foi feito na reunião do Fed em Jackson Hole, em Wyoming, um local tradicional onde esse encontro se realiza anualmente. O chefe do banco central, provavelmente inspirado pelo clima de faroeste de um vale localizado em uma cidade bem interiorana, disparou as balas que acertaram em cheio as bolsas na distante Costa Leste.
O índice Dow Jones fechou nesta sexta-feira em queda de 3,03%, enquanto que o S&P 500 caiu 3,37% e a Nasdaq, das empresas de tecnologia, levou um tombo de 3,94%. Microsoft, Amazon, Tesla e Alphabet estiveram entre as maiores quedas, todas acima de 4%, em média.
Embora essa seja o tipo de notícia que causa frisson entre os investidores, muitos analistas avaliam que os preços de algumas ações estavam e continuam cotadas acima dos padrões históricos. Eles lembram que, em julho último, houve um rali nos pregões de Wall Street, o mais forte desde novembro de 2020.
Recordam também que, durante a pandemia, com taxas de juros mais em conta, houve uma corrida de antigos e novos investidores, sobretudo jovens, que foram às compras de ações já listadas ou lançadas em IPOs. Essas ofertas públicas, por sua vez, começaram em alguns casos com papéis avaliados em preços bem acima do que as empresas entrantes realmente valiam.
