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Cruzeiro e Botafogo vendidos: o que vem por aí com as SAFs

Cruzeiro e Botafogo vendidos: o que vem por aí com as SAFs

O ano de 2021 terminou com duas notícias que movimentaram o futebol brasileiro: as vendas dos times de futebol do Cruzeiro e do Botafogo do Rio, para Ronaldo Fenômeno e para o investidor norte-americano John Textor, respectivamente. O ex-campeão mundial, que começou sua carreira na própria Raposa, já está imerso na gestão do time mineiro, pelo qual vai pagar R$ 400 milhões e que continua este ano disputando a série B do Campeonato Brasileiro. John Textor chegou neste sábado, dia 8, ao Brasil, para se encontrar com a diretoria do Fogão e acertar os detalhes do negócio, pelo qual vai despender R$ 400 milhões para o time que acaba de reconquistar o acesso a Série A do Brasileirão.



Foto: Cruzeiro FC

No Rio, com a chegada do novo investidor americano, por enquanto tudo é festa. Já em Minas Gerais, os problemas começam a aparecer para o primeiro experimento de uma Sociedade Anônima no Futebol (SAF) feito no País. É que a rescisão do principal ídolo do time, o goleiro Fábio, pegou todos de surpresa. Não se sabe direito se por falta de habilidade da nova equipe gerencial, ou por uma situação que ocorrerá muito de agora em diante na profissionalização do futebol brasileiro, mas o titular há 18 temporadas do gol cruzeirense foi dispensado após recusar o novo acordo proposto: três meses de contrato e salário de R$ 50 mil por mês.

A história de Fábio é longa, mas, para resumir, ele fechou um acordo no final do ano para receber R$ 350 mil, e era o jogador de maior salário do clube, depois da saída do atacante Fred. O aumento foi dado, mesmo o Cruzeiro estando na Série B, porque o goleiro já tinha feito uma temporada ganhando R$ 150 mil. O acerto seria uma forma de o clube amortizar uma dívida de R$ 10 milhões acumulada com o jogador.


John Textor no Estádio Nilton Santos (Foto: Vítor Silva/Botafogo)

A oferta feita pela equipe de Ronaldo foi para adequar o salário de Fábio e enfrentar a realidade da Série B. Mas gerou desgaste dos cruzeirenses e de torcedores ilustres como o empresário Pedro Lourenço, dono de uma rede de supermercados em Belo Horizonte e apoiador do time. "Parece que a turma do Ronaldo pegou o Cruzeiro para ganhar dinheiro", declarou ele aos jornalistas. A realidade é que o tradicional clube mineiro tem a necessidade urgente de resolver essas e outras pendengas financeiras e jurídicas, sob pena de não se viabilizar economicamente e não ter time nem para se manter na atual categoria B do Campeonato Brasileiro.


Na nova realidade dos times profissionais, salários astronômicos como os praticados pelo futebol brasileiro parecem estar com os dias contados. Cruzeiro ou Botafogo jamais farão o que fez um São Paulo há cerca de dois anos, quando contratou o lateral Daniel Alves por R$ 1,5 milhão/mês, contando com as promessas de investidores particulares. Estes deram o cano e deixaram o Tricolor com um mico nas mãos. O jogador acabou recontratado no final de 2021 pelo seu antigo clube, o milionário Barcelona, para ganhar um terço desse valor. E a equipe do Morumbi fechou um acordo para quitar parcelado cerca de R$ 10 milhões atrasados do atleta.

Voltando ao caso do Cruzeiro, o que se vislumbra para esse cenário é o surgimento de longas disputas, não nos campos de futebol mas nos tapetões da Justiça Trabalhista. Até o momento, deixaram o Cruzeiro, além do ídolo Fábio, atletas que sequer chegaram a estrear, como Pará e Jailson; e mais Cáceres e Ramos, que integravam a equipe. Outros que devem ir embora da Raposa são o o volante Henrique e o zagueiro Fernando Neto, que ainda tem a situação sob análise, mas que provavelmente também terá o contrato rescindido.

Esses atletas, assessorados por seus advogados e agentes, podem procurar a Justiça para receber os atrasados e ainda o que teriam para receber até o final do contrato de cada um, como juros, multas, prêmios (bichos) e direitos de arena passados - mais de R$ 10 milhões somente no caso do ex-goleiro.

Perante os juízes trabalhistas, a avaliação de advogados especializados é que tanto o antigo empregador (o clube) quanto a nova empresa (a SAF) seriam responsáveis solidários pelas dívidas, e ambos poderiam ser envolvidos nos tribunais até como uma forma de pressionar o pagamento dos atrasados.

A nova Lei da SAF não prevê essas especificidades, tendendo o juiz, segundo os juristas, a atuar como no caso de uma ação trabalhista comum entre contratante e contratado. Caso não paguem as rescisões previstas, a expectativa é que os casos de ex-jogadores do Cruzeiro e de outros clubes na mesma situação virem custosas ações judiciais.

A profissionalização do futebol brasileiro, como se vê, ainda está no seu primeiro estágio, e muitos lances ainda irão acontecer até que o processo atinja sua fase de amadurecimento.