Filho de Portinari diz que ilustrar "Dom Quixote" foi momento de "ternura, alívio, diversão e leveza" para o pintor, que estava doente e melancólico na época | Imagem: (foto: Cândido Portinari/Editora Olympio/Reprodução)
Exposição em Itabira celebra Portinari e Drummond

Exposição em Itabira celebra Portinari e Drummond

A cidade mineira de Itabira, terra natal do escritor e poeta Carlos Drummond de Andrade, recebe a partir de hoje, dia 10/7, a mostra "Ocupação Dom Quixote", que será inaugurada na Praça do Areião e ficará aberta até 10/09. São totens com três metros de altura que exibirão 21 ilustrações do pintor Cândido Portinari, feitas para o livro "D. Quixote: Cervantes, Portinari e Drummond", publicado em 1972 com poemas do mineiro e desenhos do pintor nascido em Brodowski, interior de São Paulo.

O livro tem uma história curiosa e rica em detalhes. Candido Portinari recebeu um convite da Editora José Olympio para ilustrar a reedição de "Dom Quixote", o clássico do espanhol Miguel de Cervantes. Ele já sofria os efeitos de uma intoxicação causada pelo chumbo então presente nas tintas artísticas, mas começou a fazer a encomenda em 1956, quando finalizava seu monumental painel "Guerra e Paz", para a sede da ONU, em Nova York. O resultado desse trabalho encantou Drummond, que resolveu escrever um poema dedicado a cada gravura da obra.



O pintor Candido Portinari conversa com os amigos escritores Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade - (foto: Acervo Fotográfico de Referência Histórica do Projeto Portinari PUC-Rio)

Como só foi publicado em 1972, o livro de poemas do autor mineiro não chegou a ser visto por Candido Portinari, que morreu em 1962, aos 59 anos, vitimado pela mesma intoxicação. O pintor também não pode acompanhar a inauguração de seu painel na sede da ONU, pois lhe foi negado o visto de entrada nos EUA pela perseguição à época do Macarthismo a figuras das artes, cinema, TV e teatro que tinham ligações com partidos de esquerda.

"Ele estava num momento de muita melancolia, sofrendo ataques com a chegada de toda onda abstracionista, concretista, que tinha um propósito de afastar os pintores que eram figurativos, como ele, Di Cavalcanti, Guignard, Pancetti. Ele foi muito atacado a partir dos anos 50, então se encontrava num período de muita melancolia. Fazer 'Dom Quixote' foi um momento de ternura, alívio, diversão e leveza para ele", descreveu João Candido Portinari, de 82 anos, filho do pintor, fundador e diretor-geral do Projeto Portinari, em entrevista ao jornal O Estado de Minas.

Uma nova edição de "D. Quixote: Cervantes, Portinari e Drummond", foi publicada em abril último pela Editora Museos Castro Maya, com apoio do Instituto Cervantes e do Projeto Portinari.