Jamil Chade
O governo de Donald Trump anunciou que irá designar como terrorista um grupo criminoso venezuelano e sinaliza que vai considerar Nicolas Maduro, presidente do país, como o chefe do cartel em questão. A medida tomada neste domingo foi recebida por diplomatas da região como mais um elemento na construção de uma narrativa contra a Venezuela.
Horas depois e com o uso de uma forte presença militar, Trump sugeriu que os EUA estariam dispostos a conversar com Maduro, repetindo a tática de colocar máxima pressão sobre um governo para permitir que um acerto favorável aos interesses americanos possa ser estabelecido.
Nas redes sociais, o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio afirmou que irá "designar o Cartel de los Soles como uma Organização Terrorista Estrangeira (FTO)".
Liderado pelo ilegítimo Nicolás Maduro, o grupo corrompeu as instituições governamentais da Venezuela e é responsável pela violência terrorista perpetrada por e em conjunto com outras FTOs designadas, bem como pelo tráfico de drogas para os Estados Unidos e a Europa Marco Rubio, secretáiro de Estado dos EUA
Num comunicado mais amplo, o Departamento de Estado detalhou a acusação e a suposta ligação entre o cartel e o governo venezuelano.
"Sediado na Venezuela, o Cartel de los Soles é liderado por Nicolás Maduro e outros indivíduos de alto escalão do regime ilegítimo de Maduro, que corromperam as forças armadas, a inteligência, o legislativo e o judiciário da Venezuela", disse.
"Nem Maduro nem seus comparsas representam o governo legítimo da Venezuela. O Cartel de los Soles, juntamente com outras organizações terroristas estrangeiras designadas, incluindo o Tren de Aragua e o Cartel de Sinaloa, é responsável por atos de violência terrorista em todo o hemisfério, bem como pelo tráfico de drogas para os Estados Unidos e a Europa", insistiu.
"Os Estados Unidos continuarão utilizando todos os recursos disponíveis para proteger seus interesses de segurança nacional e negar financiamento e recursos a narcoterroristas", completou o Departamento de Estado.
Trump deixa brecha para negociação
Na noite de domingo, Trump foi questionado se a designação do cartel significaria que os EUA estavam prestes a entrar em um conflito. Ele apontou que isso poderia ser uma opção, mas não confirmou que um ataque seria iminente.Segundo ele, o governo venezuelano ainda quer conversar. "Podemos estar em negociações com Maduro, e veremos como isso se desenrola", disse Trump a repórteres na Flórida, acrescentando: "Eles gostariam de conversar".
Questionado por mais detalhes, ele respondeu: "A Venezuela gostaria de conversar. O que isso significa? Digam-me vocês, eu não sei. Eu conversaria com qualquer um".
Nos últimos dias, Maduro vem fazendo apelos à paz, enquanto o governo brasileiro tem insistido com a administração Trump sobre os riscos de desestabilização regional que um ataque poderia causar.
Tratamento dado para Al Qaeda
A avaliação de diplomatas é de que a escalada retórica está sendo acompanhada por medidas que irão dar sustento legal para uma eventual ação militar.O Secretário de Guerra, Pete Hegseth, já explicou que a orientação do governo é a de tratar todos os cartéis designados como "terroristas" da mesma forma que os EUA já fizeram com os militantes islâmicos do Al Qaeda.
Para observadores na região, isso poderia simbolizar a tentativa da Casa Branca de indicar que terá uma justificativa de segurança nacional para poder atacar os cartéis, onde considerar adequado, inclusive em territórios estrangeiros.
A tensão na América Latina ganhou novos contornos depois que o governo Trump anunciou, na semana passada, uma operação militar intitulada "Lança do Sul", com o objetivo de combater "narcoterroristas no hemisfério ocidental". Apesar de não informar o local exato onde a operação vai atuar e nem dar detalhes, Hegseth disse que a ação será um trabalho conjunto com o Comando Militar Sul, responsável por operações no Caribe e na América Latina.
O anúncio ocorre poucos dias depois de a região registrar a chegada no mar do Caribe do maior porta-aviões do mundo, uma indicação de um possível incremento de forças militares em uma ofensiva contra a Venezuela.
Diplomatas admitiram ao UOL que propostas de ataques contra o território venezuelano foram apresentadas a Trump. O presidente, segundo essas fontes, ainda não teria tomado uma decisão final sobre como atuar.
Ainda assim, governos da região estão pessimistas em relação à possibilidade de uma solução negociada entre americanos e Caracas e consultas estão sendo realizadas com membros do Conselho de Segurança da ONU para avaliar como lidar com uma eventual agressão. Há duas semanas, o órgão não conseguiu chegar a um acordo diante do veto dos EUA.
Entre colombianos, mexicanos e brasileiros, uma ação aérea americana seria considerada como "extremamente séria" e precisaria ser demarcada politicamente como inaceitável. Uma das preocupações é de que, se ninguém reagir, a Casa Branca vai considerar que tem a liberdade para continuar a agir na região e consolidaria a percepção da recuperação do "quintal".
Para a região, portanto, seria inevitável a declaração de uma condenação dos atos, inclusive como forma de não permitir que se abra precedentes para outros países latino-americanos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de fato, já vem fazendo discursos neste sentido e apontou que não será a negociação comercial que irá frear sua postura de princípios.
O governo da Colômbia também tem adotado um tom duro, enquanto o presidente Gustavo Petro declarou o fim do compartilhamento de informações de inteligência com os Estados Unidos.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, já mandou seu alerta há poucos dias e insistiu na defesa da "autodeterminação dos povos, não à inferência e à invasão".
Um ataque ainda consolidaria a doutrina que o governo Trump precisar dar demonstrações de força na região e que a Venezuela seria o caso mais fácil para os americanos.
Para a região, porém, o dilema é como agir diante da fragilidade política dos projetos de integração, a ausência de fóruns com a competência ou disposição para lidar com o caso. Na Celac, por exemplo, o bloco está dividido quanto à forma de lidar com uma agressão americana. Na OEA, a presença dos EUA está impedindo que o tema seja tratado de forma enfática. Já no Mercosul, não há esperança de um acordo entre Javier MIlei e Lula.
Uol
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/11/16/eua-fecham-cerco-contra-maduro-e-designam-grupo-venezuelano-como-terrorista.htm





